Comentário do Editor:
Eu também como Ana Léticia, votei em Marina por acreditar na ética e no distanciamento da candidata com os conchavos que existem dentro do mundo político. Também via nela o poder transformador e carismático, além de concordar com o marqueteiro político Antonio Labareda que dizia que na disputa tinha dois candidatos mais velhos, que remetem ao século XX, e que ela trazia uma conversa nova para a juventude.
Marina praticamente foi expulsa do PT - partido que militava há 30 anos (veja reportagem abaixo), por evidente não concordar com algumas atitudes principalmente que visavam atingir aquilo que ela sempre defendeu: as questões ambientais. E agora ela vem para um nova disputa com a mesma cara dos políticos do século XX, agregada a um partido que pensa no industrialismo e no capitalismo, sem nenhuma ideia ampla de proteger aquilo que agora defende de forma recuada.
Não voto em Marina, tenho muito medo de Campos, horror ao PT e desilusão com o PSDB. E agora só sentiremos saudades da Marina de 2010, em quem tanto a juventude acreditava com uma mudança que como os outros políticos, sofreu metamorfose.
Marina Silva anuncia saída do PT e deve se filiar ao PV
Senadora não revelou se irá concorrer à Presidência da República.
Desejo de fazer mais pelo meio ambiente foi motivo da saída.
Desejo de fazer mais pelo meio ambiente foi motivo da saída.
Robson BoninDo G1, em Brasília
A senadora Marina Silva, durante anúncio de saída do PT, nesta quarta (19) (Foto: Agência Estado)
Militante do Partido dos Trabalhadores há 30 anos, a senadora Marina Silva (AC) anunciou nesta quarta-feira (19) que vai deixar a sigla. A ex-petista, no entanto, não confirmou a sua filiação ao Partido Verde, mas disse que "a partir de agora começam as conversações" com a nova legenda.
"Nesse momento, trata-se de dar conhecimento à sociedade brasileira da decisão que é fruto de uma reflexão com companheiros e dirigentes do partido, que significa me desligar do PT depois de 30 anos", disse Marina. Apesar da afirmação da senadora de que milita há 30 anos no PT, Marina passou a integrar oficialmente o partido em 1985, quando se filiou.
A decisão de Marina reforça os rumores das últimas semanas de que a senadora trocaria de partido para concorrer ao Palácio do Planalto em 2010. A senadora classificou como um "convite honroso" a proposta do PV para que ela seja candidata à presidência da República, mas preferiu não falar da suposta candidatura antes de formalizar a filiação no novo partido. "Saí do PT para poder ficar livre para negociar com outro partido. Não ficaria bem, negociar com um partido estando em outro", argumentou Marina.
A senadora agradeceu aos militantes e colegas do PT que apelaram por sua permanência na sigla. "O fato de sair de casa, não significa que estamos rompendo com as pessoas com as quais convivemos durante tantos anos", afirmou a senadora.
Gilberto GilMarina disse que estava deixando o PT para ir "em busca do sonho" de lutar pelo desenvolvimento sustentável do meio ambiente. A senadora comunicou a decisão por telefone ao presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), na manhã desta quarta. Ela também entregou uma carta em que justificou a sua saída do PT.
Durante os 10 minutos de fala, a senadora citou nomes de senadores, militantes e dirigentes do PT que conversaram com ela. Não mencionou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Questionada sobre o motivo, ela disse que não falou no presidente porque se referiu apenas aos colegas que haviam conversado com ela nos últimos dias. “Só mencionei as pessoas que me ligaram e conversaram comigo. Tenho uma relação de gratidão com o presidente Lula”, afirmou a senadora do Acre.
Depois de listar projetos pelos quais pretende lutar na nova etapa de sua vida política, Marina negou que tenha deixado o PT por divergências com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. “Jamais assumiria a posição de vítima da ministra Dilma”, afirmou.
Se decidir ser candidata pelo PV, Marina já terá à disposição pelo menos um pretendente a vice de sua chapa. O ex-ministro da Cultura e cantor Gilberto Gil afirmou nesta terça-feira (18) que poderia aceitar uma possível proposta para disputar as eleições de 2010 como vice de Marina.
A senadora evitou comentar as declarações de Gil. "Vou falar o que o Gil disse: posso ser ou posso não ser candidata à presidência. Ainda nem decidi. Por isso não vou falar de vice", justificou.
Marina pediu demissão do Ministério do Meio Ambiente no ano passado em meio a pressões por causa da demora no licenciamento ambiental de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Marina pediu demissão do Ministério do Meio Ambiente no ano passado em meio a pressões por causa da demora no licenciamento ambiental de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Na semana passada, a bancada do PT no Senado tentou evitar a saída de Marina do partido, divulgando uma carta aberta com elogios à senadora. "Desejamos sinceramente que a nossa querida companheira Marina Silva permaneça no Partido dos Trabalhadores, sua casa política, e prossiga nessa trajetória coletiva que já conquistou tanto, mas que tem tanto ainda para conquistar,” dizia o texto.
No dia 8 de agosto, em evento que marcou o encerramento das chamadas caravanas do PT em São Paulo, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ser “compreensível” o convite feito pelo PV a Marina. O presidente Lula já disse várias vezes que quer Dilma como sua sucessora.
Depois de duas semanas de mistério, a senadora Marina Silva (PT-AC) anunciou nesta quarta-feira (19) a sua desfiliação do partido. Para justificar os motivos que a levaram a deixar o Partido dos Trabalhadores depois de 30 anos de militância, a senadora escreveu uma carta. Confira a integra do texto:
Em carta ao presidente do PT, Marina Silva justifica saída do partido
'Acredito ser necessário alcançar novo patamar de conquistas', diz Marina.
Senadora pode vir a concorrer à presidência da República pelo PV.
Senadora pode vir a concorrer à presidência da República pelo PV.
“Caro companheiro Ricardo Berzoini,
Tornou-se pública nas últimas semanas, tendo sido objeto de conversa fraterna entre nós, a reflexão política em que me encontro há algum tempo e que passou a exigir de mim definições, diante do convite do Partido Verde para uma construção programática capaz de apresentar ao Brasil um projeto nacional que expresse os conhecimentos, experiências e propostas voltados para um modelo de desenvolvimento em cujo cerne esteja a sustentabilidade ambiental, social e econômica.
O que antes era tratado em pequeno círculo de familiares, amigos e companheiros de trajetória política, foi muito ampliado pelo diálogo com lideranças e militantes do Partido dos Trabalhadores, a cujos argumentos e questionamentos me expus com lealdade e atenção. Não foi para mim um processo fácil. Ao contrário, foi intenso, profundamente marcado pela emoção e pela vinda à tona de cada momento significativo de uma trajetória de quase trinta anos, na qual ajudei a construir o sonho de um Brasil democrático, com justiça e inclusão social, com indubitáveis avanços materializados na eleição do Presidente Lula, em 2002.
Tornou-se pública nas últimas semanas, tendo sido objeto de conversa fraterna entre nós, a reflexão política em que me encontro há algum tempo e que passou a exigir de mim definições, diante do convite do Partido Verde para uma construção programática capaz de apresentar ao Brasil um projeto nacional que expresse os conhecimentos, experiências e propostas voltados para um modelo de desenvolvimento em cujo cerne esteja a sustentabilidade ambiental, social e econômica.
O que antes era tratado em pequeno círculo de familiares, amigos e companheiros de trajetória política, foi muito ampliado pelo diálogo com lideranças e militantes do Partido dos Trabalhadores, a cujos argumentos e questionamentos me expus com lealdade e atenção. Não foi para mim um processo fácil. Ao contrário, foi intenso, profundamente marcado pela emoção e pela vinda à tona de cada momento significativo de uma trajetória de quase trinta anos, na qual ajudei a construir o sonho de um Brasil democrático, com justiça e inclusão social, com indubitáveis avanços materializados na eleição do Presidente Lula, em 2002.
Hoje lhe comunico minha decisão de deixar o Partido dos Trabalhadores. É uma decisão que exigiu de mim coragem para sair daquela que foi até agora a minha casa política e pela qual tenho tanto respeito, mas estou certa de que o faço numa inflexão necessária à coerência com o que acredito ser necessário alcançar como novo patamar de conquistas para os brasileiros e para a humanidade. Tenho certeza de que enfrentarei muitas dificuldades, mas a busca do novo, mesmo quando cercada de cuidados para não desconstituir os avanços a duras penas alcançados, nunca é isenta de riscos.
Tenho a firme convicção de que essa decisão vai ao encontro do pensamento de milhares de pessoas no Brasil e no mundo, que há muitas décadas apontam objetivamente os equívocos da concepção do desenvolvimento centrada no crescimento material a qualquer custo, com ganhos exacerbados para poucos e resultados perversos para a maioria, ao custo, principalmente para os mais pobres, da destruição de recursos naturais e da qualidade de vida.
Tive a honra de ser ministra do Meio Ambiente do governo Lula e participei de importantes conquistas, das quais poderia citar, a título de exemplo, a queda do desmatamento na Amazônia, a estruturação e fortalecimento do sistema de licenciamento ambiental, a criação de 24 milhões de hectares de unidades de conservação federal, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e do Serviço Florestal Brasileiro. Entendo, porém, que faltaram condições políticas para avançar no campo da visão estratégica, ou seja, de fazer a questão ambiental alojar-se no coração do governo e do conjunto das políticas públicas.
É evidente que a resistência a essa mudança de enfoque não é exclusiva de governos. Ela está presente nos partidos políticos em geral e em vários setores da sociedade, que reagem a sair de suas práticas insustentáveis e pressionam as estruturas públicas para mantê-las.
Uma parte das pessoas com quem dialoguei nas últimas semanas perguntou-me por que não continuar fazendo esse embate dentro do PT. E chego à conclusão de que, após 30 anos de luta socioambiental no Brasil – com importantes experiências em curso, que deveriam ganhar escala nacional, provindas de governos locais e estaduais, agências federais, academia, movimentos sociais, empresas, comunidades locais e as organizações não-governamentais – é o momento não mais de continuar fazendo o embate para convencer o partido político do qual fiz parte por quase trinta anos, mas sim o do encontro com os diferentes setores da sociedade dispostos a se assumir, inteira e claramente, como agentes da luta por um Brasil justo e sustentável, a fazer prosperar a mudança de valores e paradigmas que sinalizará um novo padrão de desenvolvimento para o País. Assim como vem sendo feito pelo próprio Partido dos Trabalhadores, desde sua origem, no que diz respeito à defesa da democracia com participação popular, da justiça social e dos direitos humanos.
Finalmente, agradeço a forma acolhedora e respeitosa com que me ouviu, estendendo a mesma gratidão a todos os militantes e dirigentes com quem dialoguei nesse período, particularmente a Aloizio Mercadante e a meus companheiros da bancada do Senado, que sempre me acolheram em todos esses momentos. E, de modo muito especial, quero me referir aos companheiros do Acre, de quem não me despedi, porque acredito firmemente que temos uma parceria indestrutível, acima de filiações partidárias. Não fiz nenhum movimento para que outros me acompanhassem na saída do PT, respeitando o espaço de exercício da cidadania política de cada militante. Não estou negando os imprescindíveis frutos das searas já plantadas, estou apenas me dispondo a continuar as semeaduras em outras searas.
Que Deus continue abençoando e guardando nossos caminhos.
Saudações fraternas,
Marina Silva
”
Blog do Paixão