Vou te contar uma história
Que se passa no Brasil,
E envolve o cidadão
De uma forma imbecil,
Que lesa toda a nação
E acontece em muitos cantos
Desse país varonil.
É também um mal exemplo,
De uma falsa educação,
Que o brasileiro tem
Em sua dita formação,
Quando passa pela escola
E lhe enchem a cachola
Só de conteúdo em vão.
É história de política,
Para o leitor saber
Que não basta ir à escola
Só pra ler e escrever,
Tem que fazer o debate,
Pra ser cidadão com arte
E aprender a viver.
Eu falo de uma cidade
Onde escolhi pra morar,
Que em matéria de política
Tudo deixa a desejar,
Mas que não é diferente
De todo o Brasil da gente
Quando é tempo de votar.
Nela a política é suja
Igual poleiro de pato,
Quem não sabe fazer nada
Vira logo um candidato,
E então fica bem na fita,
E todo mundo acredita
Que o sujeito é bom de fato.
Tem político de carreira,
O tal que rouba mas faz,
Que na arte da conquista
É pior que o satanás,
bate nas costas do otário,
Conhece desde o berçário:
- Que bom te ver meu rapaz!
Tem também muito abestado,
Sujeito bajulador,
Que de fato não merece
O título de eleitor,
Que parece encabrestado,
Fica logo encabulado:
- É um prazer seu doutor!
Eu chamarei de Pacato
Pra não faltar com respeito,
Eu não vou falar o nome
Desse recanto sem jeito,
Mas mostro que a coisa é feia,
Falar mal da vida alheia
Lá nem chega a ser defeito.
Veja que cidade é essa,
lugar de vida de cão,
E a política de Pacato,
Poço de corrupção,
Parece essa triste obra
Briga de rato com cobra,
É triste a situação.
Preste atenção na história
Que aqui vou relatar,
Da Cidade de Pacato,
De um patético lugar,
De política e eleição,
De tanta corrupção
Que faz dó até contar.
Na cidade de Pacato,
Onde faço moradia,
De tudo ali acontece
Em plena democracia,
O dinheiro rola grosso,
Muita corda no pescoço,
Só não há cidadania.
Na cidade de Pacato
O bem social não tem,
Só o rico é importante,
Pobre não vale um vintém,
E isso é regra geral,
Quem manda é o capital,
Você só vale o que tem.
Até na vida amorosa
Lá quem manda é o dinheiro,
A moça não quer saber
Se é casado ou se é solteiro,
A mãe fica cega e surda,
E ela vira manteúda
Se o sujeito é fazendeiro.
E veja como é Pacato,
Seu triste cotidiano,
De miséria vive o povo
Três em cada quatro anos,
Todos se viram nos trinta
E a ajuda nunca pinta,
Ninguém tem dó do fulano.
Só perto das eleições
O rico fica bonzinho,
Se compadece do pobre
E tem dó do coitadinho,
Se prontifica pra ele,
Dá tudo que ele precisa,
Trata ele com carinho.
Em pacato tudo gira
Em torno da prefeitura,
Ter um cargo no governo
É mais doce que rapadura,
Ser amigo do prefeito
É o que quer todo sujeito
Pra vida não ficar dura.
E ai de ti se tu não for,
Vai sofrer que nem macaco,
Se precisar do governo,
Tu vai parar num buraco,
Tá no mato sem cachorro,
É assim que fica o povo
Que se nega a puxar saco.
A tramóia já começa
No processo eleitoral,
Que mais parece comércio,
E a disputa é infernal,
Onde tem alguém que vota,
Tem candidato na porta
Com sua proposta fatal.
É um toma lá dá cá
E o voto vira moeda,
O eleitor ganha de tudo,
Diz quem não ganha não herda,
Mas entra ano e sai ano,
Sempre base do engano
O pobre não sai da merda.
Doam botijão de gás,
Geladeira e fogão,
Uma carrada de areia,
Tijolo pra construção,
Um emprego pro cunhado,
Até feira no mercado,
O que tu quer tá na mão.
O time dos camaradas
Ganha camisa e chuteira,
Ganha também bola nova,
E cerveja na geladeira.
A pelada vira festa,
E ninguém quer saber se presta
As propostas do tranqueira.
Um contrato de serviço,
A locação de um carro,
Mil e oitocentas telhas,
Uma caçamba de barro,
E nem mesmo por engano
Alguém questiona o plano,
Seja o candidato um sarro.
Tem ainda os escritórios
De comércio eleitoral,
Na casa dos camaradas
Cercadas de bate-pau,
Muita grana com certeza,
Mostre seu título e receba
Seu preço a vista em real.
Mas lá chegue com cuidado,
Como se fosse um motel,
O negócio é sigiloso,
Faça bem o seu papel,
Chega desfaçando e entra,
E receba o seu santinho
Com uma nota de cinqüenta.
Na seção eleitoral,
Na fila da votação,
É tanto boca de urna
Pra cercar o cidadão,
O tal cabo eleitoral,
Faz o povo passar mal
De tanta aporrinhação.
E logo que se acaba
A farra da votação,
Já começa o pagamento
De apoios da eleição,
Muita grana emprestada,
Que vai ser pago em moeda
Com o dinheiro da nação.
E tem ainda os presentes,
As promessas de campanha,
Uma moto pra comadre,
Pro compadre uma barganha,
Pro play boy um carro novo,
E tudo as custas do povo,
Sem pudor e sem vergonha.
O candidato a prefeito
Fez sua manufatura,
Vendeu sua alma pro diabo
Pra ganhar a prefeitura,,
Mas o que fez está feito,
Agora é prefeito eleito,
Sua vida é só luxúria.
Vai ganhar muito dinheiro
Com projeto feito a ermo,
Todo tipo de tramóia,
Trapaça de qualquer temo,
E até formar quadrilha
Pra mamar com a família
Nas tetas do seu governo.
O peste do candidato
Que quer ser vereador,
Também mal intencionado
Corre atrás do eleitor,
Diz ser seu representante,
Mas só pensa a todo instante
Em ganhar mais que gastou.
Promete para o povo
Vigiar o homem eleito,
Pra ele no seu governo
Fazer as coisas direito,
Mas depois que se eleger,
Só o que ele vai fazer
É puxar saco do prefeito.
O safado se recusa
A fazer oposição,
E se dedica a ganhar
O gasto da eleição,
Multiplicado por mil,
É vereador de pacato.
É vereador no brasil.
E o serviço social,
A saúde, a educação,
A tal geração de renda,
Do plano da eleição,
Na verdade era mutreta,
O plano foi pra gaveta,
Só se vê ostentação.
E o tal vereador,
Que é pra ser fiscal do povo,
Fica na mão do prefeito
Feito um pintinho no ovo,
Em nada ele opina
Já que vive de propina,
Mas é eleito de novo.
E a casa do eleitor
Que foi muito visitada,
Dela ninguém passa perto
Por uma longa temporada,
Até a próxima eleição,
Quando sentirão saudade
Do eleitor camarada.
Ó cidade de Pacato,
Pacato mesmo é teu povo
Que não faz sua própria história,
Que não pensa no amanhã,
Que pensa só no agora,
E na próxima eleição
Repete tudo de novo.
Ó cidade de Pacato,
Se tu fosses diferente!
Sem teu povo feito gado,
Seria feliz tua gente!
Tua história seria outra,
E faria o teu legado
O eleitor consciente.
O fracasso de pacato
Pertence a população,
Que valoriza o doutor
E esquece o cidadão,
Mas no fundo quem fez falta,
Quem se fez mesmo pacata
Foi a tal da educação.
Por isso se liga gente!
Povo de qualquer cidade
Com pouca cidadania
E muita mediocridade,
É tempo de se educar,
Para quando for votar,
Votar com seriedade.
Diga não a quem quiser
O teu voto barganhar,
Avisa que o teu voto
Não é coisa pra comprar,
Denuncie esse safado,
Bote ele pra correr,
Mande ele se lascar.
E na hora de votar,
Dê um voto de compromisso,
Pra mostrar ao candidato
O que você quer com isso,
Que ele seja competente,
Honesto e proficiente,
E que cumpra seu ofício.
Quando você for votar,
Vote com cidadania,
Lembre bem daquele imposto
Que tu pagas todo dia,
Quem ganhar vai governar,
E o teu dinheiro gastar,
Não importa a simpatia.
E nunca deixe de ser
Um eleitor inteligente,
Que não vota por dinheiro
E nem aceita presente,
Que sabe que essa corja,
Quando apareceu no mundo
Foi pra trabalhar pra gente.
E a você que é professor,
Que ensina essa nação,
Faça com sabedoria,
Dê sua contribuição,
Promova o debate em sala,
Use bem a sua fala,
Fale de corrupção.
Como disse Paulo Freire,
Faça a leitura do mundo
Antes de lê a palavra,
Pro debate ser profundo,
Ponha o aluno pra falar,
Deixe ele participar,
Para o ensino ser fecundo.
E se assim você fizer,
Fará boa educação,
Formando um novo eleitor,
Consciente e cidadão,
Pra votar pelo Brasil,
Que explora essa nação.
Mas eu fiz esse cordel
Não foi só pra criticar,
A verdade dessa prosa
É para o povo educar,
Pra tocar a consciência,
Ao eleitor competência
Quando ele for votar.
Que façam boa educação
Docentes libertadores,
Que tornem essa nação
Lugar de bons eleitores,
Que falem de eleição,
Critiquem corrupção,
Que sejam bons professores.
E sobre o povo de pacato,
Espero que tome jeito,
Que nas eleições futuras
Façam a coisa direito,
Analisem os projetos
E vote com consciência,
Pra vereador e prefeito.
E também pra presidente,
Deputado e senador,
Assim como no estado
Também pra governador,
Vote com cidadania,
Pra fazer valer um dia
O poder do eleitor.
E que levem essa mensagem
Para todo brasileiro,
Porque não é só pacato
Que tem político ligeiro,
Pois sabemos que em Brasília
Tem raposas de gravatas
Cuidando do galinheiro.
Como sou bom cordelista
Falei tudo de uma vez,
Usei o meu trocadilho
Só pra alertar vocês,
E o recado foi dado,
Como disse o Raul Seixas,
O resto agora é com vocês.
Professor de Pedagogia e História no Estado do Pará
Urbano Coelho
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