Conferência perderá espaço para uma instância mais abrangente este ano.
Paulo Câmara defende um fórum maior, com a presença de governadores ligado à oposição ao governo Dilma Rouseff
Humberto Pradera/Divulgação
Criado em 2014 com o objetivo de facilitar a articulação conjunta dos gestores nordestinos eleitos em outubro daquele ano, o atual Fórum de Governadores do Nordeste perderá espaço em 2016 e corre o risco de não promover mais nenhum encontro. Uma das razões para o enfraquecimento da instância é o fato de que um fórum maior começou a ser gestado no fim de 2015 em uma reunião comandada pelo governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB). O grupo, suprapartidário, agendou uma nova audiência para o dia 1º de fevereiro em Brasília.
O governador Paulo Câmara (PSB) confirmou presença no encontro de fevereiro e defende que o colegiado nordestino fique momentaneamente de lado. Para esta data, inclusive, há a expectativa que ocorra também uma audiência com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. O encontro, pelas dificuldades fiscais enfrentadas pelos Estados, é esperada por todos os gestores.
“É mais prudente a gente trabalhar em cima desse fórum maior. A pauta do Nordeste está definida, já foi entregue à presidente e tem ações muito claras que envolvem a questão da saúde, da previdência e dá água. A pauta federativa pode ser ampliada, entrando questões gerais como a previdência e a dívida pública. Vamos trabalhar nesse fórum (maior), que ganha muita força com o apoio de todos os governadores”, afirmou o governador pernambucano.
Para o coordenador do Fórum dos Governadores do Nordeste, o paraibano Ricardo Coutinho (PSB), a conferência se consolidou em 2015 e o momento agora é de aguardar um retorno da União sobre os pleitos apresentados.
“Trabalhamos com a expectativa de que em 2016 o governo federal possa dar respostas às questões formuladas pelos governadores, sobreutdo, às questões relativas à autorização de empréstimos e às obras hídricas e de combate à estiagem”, falou, sem declarar como fato consumado a extinção das audiências regionais.
Ricardo Coutinho foi o anfitrião do primeiro encontro dos governadores nordestinos, em João Pessoa, ainda em 2014, antes mesmos dos gestores assumirem o atual mandato. Depois, o fórum foi realizado no Rio Grande do Nordeste e no Piauí. Houve também uma reunião em Brasília com a presidente Dilma Rousseff (PT). Em todas as audiências, houve a divulgação de uma carta com as demandas dos Estados da região e em julho passado eles publicaram um manifesto contra o impeachment da petista.
CRÍTICAS AO FÓRUM - A lista dos governadores nordestinos é formada por três integrantes do PT, dois do PSB, dois do PMDB, um do PSD e um do PCdoB. Em tese, os socialistas não fazem parte da base de apoio ao governo federal, mas na prática o único com posições mais críticas à gestão da presidente Dilma Rousseff (PT) é o pernambucano Paulo Câmara (PSB). Isso porque Ricardo Coutinho (PSB-PB) integra a ala do partido que é mais próxima da gestão petista.
Esse “estranhamento” de Paulo com o governo federal é apontado, nos bastidores, como uma das razões para o governador apoiar o fim do fórum nordestino e a criação de uma instância maior de articulação. Reservadamente, o socialista já demonstrou preocupação com o fato dos colegas da região terem dificuldade de fazer críticas mais incisvas à presidente. O gestor entende o posicionamento pró-Dilma dos demais gestores, mas tem argumentado que estava faltando ao fórum uma disposição para bater mais de frente com a União.
Na avaliação do cientista político Ítalo Fittipaldi, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), é normal que os gestores nordestinos sejam cautelosos ao se referirem a Dilma e peguem mais leve na hora de cobrar pleitos apresentados e promessas não cumpridas. “A cautela não é partidária, mas sim pragmática porque todos precisam de recursos da União”, avalia.
O estudioso, no entanto, diz que 2016 pode ser um bom ano para os governadores no quesito articulação com o governo federal. As razões seriam a necessidade da União de aprovar um pacote de ajuste fiscal no Congresso e o desejo da presidente Dilma de esfriar as movimentações em torno do seu processo de impeachment. Nos dois casos, a petista, diretamente ou por meio de emissários, pode ampliar o canal de interlocução com os gestores.
“No governo Lula (PT), a relação era diretamente com os municípios e os Estados ficaram à margem, com os governadores tendo um papel secundário na relação dos entes federativos. Agora, esses atores voltam a ter postura valorizada”, analisa Fittipaldi.