Agora, governistas preparam mais uma ofensiva para evitar que processo contra Dilma seja aprovado no plenário da Câmara
Por: Marcela Mattos e Felipe Frazão, de Brasília
Apesar da ação do Planalto, que nas últimas semanas parou de
governar para se transformar em um explícito e indecoroso balcão de negócios, a
Comissão Especial do Impeachment aprovou nesta segunda-feira o parecer do
deputado Jovair Arantes (PTB-GO), favorável ao afastamento da presidente Dilma
Rousseff pelo crime de responsabilidade fiscal. O relatório foi aprovado por 38
votos a 27 (não houve abstenções) e agora segue para votação em plenário,
levando o governo Dilma à pressão máxima. A derrota já era esperada pelo
Planalto, mas os números foram ainda piores do que o previsto para Dilma: pela
manhã, quando os trabalhos foram abertos, o governo esperava ter entre 28 e 30
votos contrários ao relatório, enquanto a oposição falava em 35 votos pelo
prosseguimento do processo.
O governo
abriu o caixa e colocou à mesa para barrar o processo contra Dilma os
principais instrumentos de barganha já conhecidos entre os parlamentares: o
comando das mais importantes pastas na Esplanada dos Ministérios, cargos no
segundo e terceiro escalão e liberação de emendas estrategicamente represadas
pelo Executivo. Ainda assim, não atingiu maioria entre os 65 deputados da
comissão, sacramentando a derrota que já era esperada pelo Planalto.
Agora,
governistas preparam uma ainda mais dura ofensiva para evitar que a ação contra
Dilma seja aprovada no plenário da Câmara. O principal articulador do movimento
é o ex-presidente Lula, que tem buscado parlamentares com promessas de
repactuação do governo caso a presidente saia ilesa do processo. A votação do
impeachment está prevista já para este domingo e deve contar com a pressão de
manifestantes em frente ao Congresso Nacional.
A sessão desta segunda-feira se arrastou por quase dez horas e
foi palco do último esforço do governo para evitar a aprovação do parecer. Na
função de defensor de Dilma, o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo,
voltou à tribuna do colegiado para desqualificar o trabalho do relator Jovair
Arantes, atacar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e relacionar,
novamente, a deposição da presidente a um golpe, afirmando que um possível
sucessor de Dilma não teria legitimidade para governar.
O
argumento, porém, não surtiu efeito, tampouco foi capaz de mudar a posição já
formada pela maioria da comissão. "Temos o dever de votar por um Brasil
com novos rumos, que respeita a Constituição Federal e as instituições, que
ofereça oportunidade iguais a seus filhos sem favorecimento ou compadrio. Temos
a obrigação de votar pelo Brasil que seja capaz de devolver às famílias os
empregos que lhes forem tirados, as rendas que foram consumidas pela inflação e
os sonhos que foram ceifados pelas mentiras contadas ao longo desses 13
anos", disse o líder do PSDB, Antônio Imbassahy (PSDB-BA), durante
discurso.
Ao longo
da votação, no entanto, três partidos chegaram a mudar de posição. O PR, o PSD
e o PTN, que estão na mira das negociações com o governo, anunciaram no início
dos trabalhos que liberariam as bancadas. Ao encaminhar as votações, porém, os
líderes partidários acabaram indicando posição contrária ao impeachment.
Relatório - Formado
por 128 páginas, o relatório do deputado Jovair Arantes indica que há
requisitos mínimos para a aceitação da denúncia apresentada pelos juristas
Miguel Reale Júnior, Janaína Paschoal e Hélio Bicudo. Os denunciantes se
amparam em manobras orçamentárias articuladas pelo governo para maquiar as
contas públicas, entre elas as conhecidas pedaladas fiscais e a edição de
decretos de crédito suplementar sem a autorização do Congresso Nacional, atos
vedados em lei. Caberá ao Senado, caso o processo seja aprovado pela Câmara,
dar a palavra final sobre o impeachment de Dilma.

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