Leonardo Meirelles firmou acordo de delação premiada e disse ter documentos que comprovam o pagamento a pelo menos 120 beneficiários do petrolão
Por: Marcela Mattos, de Brasília
Em depoimento que sustenta o envolvimento do presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no esquema de corrupção da Petrobras, o
doleiro Leonardo Meirelles reforçou nesta quinta-feira ao Conselho de Ética as
denúncias de que Cunha foi beneficiário de 5,1 milhões de dólares pagos por
intermédio do doleiro Alberto Youssef, pivô do propinoduto que sangrou os
cofres da maior estatal brasileira. O valor, conforme o depoente, foi repassado
pelo ex-policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, apontado pela
força-tarefa da Lava Jato como o carregador de malas do doleiro Alberto
Youssef.
Meirelles
firmou um acordo de delação premiada com o Ministério Público e afirma ter
anexado documentos que comprovam o pagamento a pelo menos 120 beneficiários do
esquema de corrupção. Ele disse ainda ter realizado cerca de 4 mil operações
financeiras relacionadas a pagamentos de propinas em contratos da Petrobras. As
transações movimentaram entre 120 e 140 milhões de dólares ao longo de quatro
anos.
O delator
afirma que sua participação no esquema restringia-se a comandar empresas
sediadas dentro e fora do país que celebravam contratos fictícios para mascarar
os repasses fraudulentos, e que, por isso, não sabe detalhar o motivo do
pagamento a Eduardo Cunha. O presidente da Câmara é réu no Supremo Tribunal
Federal por ter recebido, supostamente, ao menos 5 milhões de dólares em
propinas retiradas do contrato de um navio-sonda afretado pela Petrobras.
Em abril
de 2015, Meirelles foi condenado pela Justiça Federal a cinco anos e seis meses
além de multa pelos desvios na Petrobras.
Conforme
disse nesta quinta, em abril de 2012, Leonardo Meirelles foi ao escritório de
Youssef para tratar sobre a formulação de um contrato de prestação de serviços
fictício entre a empresa de Júlio Camargo, outro delator que implicou Cunha, e
uma empresa dele localizada na China. As transferências, em seguida, se deram
em junho, outubro e novembro desse mesmo ano - duas nos valores de
aproximadamente 2,4 milhões de reais e uma de 400 mil reais.
Após o
valor ser todo liquidado - o que demorou cerca de cinco dias -, Youssef fez um
desabafo a Meirelles e narrou estar sofrendo pressão para liberar o dinheiro.
"Uma semana após, almoçando com Alberto, ele comentou informalmente sobre
a pressão que estava sofrendo. 'Graças a Deus consegui liquidar aquele assunto
da transferência grande que era para o Rio', ele disse", contou Meirelles.
No encontro, Youssef também confirmou que Eduardo Cunha era o destinatário dos
mais de 5 milhões de dólares.
A oitiva
de Meirelles foi alvo de investidas de Cunha: o peemedebista chegou a ingressar
no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir a audiência do delator. Diante
da negativa da ministra Cármen Lúcia, o advogado
Marcelo Nobre ameaçou processar o doleiro por queixa-crime caso ele não
comprove as declarações. O comando do conselho ainda acusou Cunha de dificultar
a ida do depoente à Câmara ao não se manifestar sobre o pedido de custeio das
passagens dele a Brasília, o que é praxe na Casa. Meirelles, então, arcou com
os custos da viagem.
Embora
tenha reforçado as acusações de que Cunha recebeu dinheiro sujo do petrolão, o
delator não implicou o presidente da Câmara nos aspectos que estão incorporados
diretamente ao escopo dos trabalhos do Conselho de Ética - que o peemedebista
mentiu ao dizer que não tinha contas fora do país e que ele fraudou seu Imposto
de Renda ao omitir a existência dessas contas. Leonardo Meirelles disse nunca
ter se encontrado com Cunha, tampouco ter conhecimento de suas contas na Suíça,
já comprovadas pelo Ministério Público do país europeu. A defesa do
peemedebista deve recorrer dessas informações para tentar livrar seu cliente da
cassação por quebra de decoro.
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