Advogado-geral da União levou um calhamaço com cerca de 1.000 páginas e faz uma sustentação oral aos parlamentares da comissão. O documento aborda aspectos políticos, jurídicos, econômicos e financeiros
Por: Felipe Frazão, de Brasília
O Advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, durante sessão da comissão especial do impeachment, em defesa da Presidente Dilma Rousseff, em Brasília (DF) - 04/04/2016(Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)
O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, disse ao chegar
à Câmara para apresentar a defesa da presidente Dilma Rousseff nesta
segunda-feira na Comissão Especial de Impeachment que o processo tem
"ilegalidades e invalidades". Cardozo afirmou que o impeachment é uma
iniciativa "excepcionalíssima" no presidencialismo e só se justifica
em casos de "atentado" à Lei.
"A
análise dessa denúncia revelará de forma clara a absoluta improcedência dos
crimes que, por força da denúncia, são em tese imputados à presidente",
disse o ministro. "Não existem efetivamente crimes de responsabilidade. A
peça inicial é marcada por absolutos vícios e a defesa mostrará."
Cardozo
levou um calhamaço com cerca de 1.000 páginas e faz uma sustentação oral aos
parlamentares da comissão. Ele não poderá ser interrompido por questionamentos
dos deputados. A documentação aborda aspectos políticos, jurídicos, econômicos
e financeiros, conforme o ministro. Cardozo afirmou que o afastamento do
presidente só ocorre em "situações extremas" de "atentado"
à Constituição no regime de governo adotado no Brasil. "É uma hipótese
excepcionalíssima, que pode ser equiparada, segundo muitos juristas, à
intervenção da União nos Estados, ao Estado de Sítio, ao Estado de
Defesa", disse Cardozo.
Cardozo acusou o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de negociar a troca de votos favoráveis a ele
no Conselho de Ética pela abertura do processo de impeachment, "em
movimento pendular" entre governistas e oposicionistas. Segundo o
ministro, Cunha cometeu "desvio de poder", "não visava o
cumprimento da Constituição" e retaliou o Dilma porque ela "se recusou
a fazer qualquer gestão junto a bancada de seu partido".
"Eduardo
Cunha usou da sua competência para fazer uma vingança e uma retaliação à chefe
do Executivo porque ela se recusara a garantir no Conselho de Ética os votos
para evitar que fosse processado", afirmou. "O ato de abertura do processo
de impeachment está viciado e esse processo é nulo."
O
advogado-geral de Dilma também questionou o ato de Cunha que juntou aos autos
do processo a delação premiada do ex-líder do governo no Senado, Delcídio do
Amaral (ex-PT-MS), porque Delcídio cita fatos ocorridos no mandato anterior.
Para a AGU, Cunha praticou novamente desvio de finalidade. "A simples
presença da delação nesse processo é fator insuplantável de nulidade",
alegou Cardozo.
A AGU
argumenta que Dilma só poderá ser processada por fatos ocorridos no atual
mandato - pós-2015 - e tenta restringir as discussões na comissão especial a
dois motivos que levaram Cunha a acatar a denúncia por crime de
responsabilidade: seis decretos não numerados de abertura de crédito adicional
e as pedaladas fiscais - atrasos nos repasses do Tesouro ao Banco do Brasil.
"A defesa da presidente da República se recusa a discutir qualquer outro
fato. Se houver discussão, esse processo de impeachment é nulo."
Cardozo
alfinetou indiretamente o PMDB, partido aliado que decidiu desembarcar do
governo Dilma - embora os ministros não tenham ainda deixado os cargos
formalmente. Sem citar o partido nem o nome do vice-presidente Michel Temer,
beneficiário direto do afastamento de Dilma, o advogado-geral da União afirmou
que a ruptura conflituosa faz nascer um "governo sem legitimidade e
governabilidade" e que "pouco importa se o novo governo será
integrado por homens probos ou não". "Se a Constituição foi rasgada e
o povo não foi às ruas não há legitimidade", afirmou. "Não há segurança
jurídica e institucional com ruptura da ordem e com o rasgar de uma
Constituição. Impeachment é excepcional. Tratar isso como disputa política
corriqueira é um erro imperdoável em nossa história."
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