Com a decisão, definição sobre se Lula assume ou não a Casa Civil ficará nas mãos de Gilmar Mendes, que é relator de outro processo no STF
Por: Laryssa Borges, de Brasília
O ministro Teori Zavascki, do
Supremo Tribunal Federal (STF), negou nesta segunda-feira liminar em dois
processos que pediam que fosse suspensa a nomeação do ex-presidente Lula para o
cargo de chefe da Casa Civil. As ações haviam sido apresentadas pelo PSB e pelo
PSDB e afirmavam que a escolha do petista, investigado na Operação Lava Jato,
para compor o ministério da presidente Dilma Rousseff tinha por objetivo burlar
a Justiça e garantir foro privilegiado para livrá-lo de ser julgado pelo juiz
Sergio Moro.
Em seu
despacho, Zavascki entendeu que havia outros mecanismos jurídicos para
contestar a nomeação de Lula e também rejeitou pedidos similares em favor da
posse apresentados pela Presidência da República e pela Advocacia-geral da
União (AGU). Com a decisão do ministro nas duas ações contra a nomeação de
Lula, o destino do petista no primeiro escalão deverá ser definido no processo
em que o ministro Gilmar Mendes é relator.
Os
partidos recorreram ao tribunal com um processo chamado arguição de
descumprimento de preceito fundamental (ADPF), ação que, segundo Zavascki,
exige sentenças subjetivas, como uma tese geral, e não objetivas, como a
nomeação ou não de Lula para a Casa Civil. O ministro-relator considerou ainda
que o recurso também não é possível porque a ADPF é usada em casos de
recorrência, ou seja, quando diferentes pessoas tivessem sido nomeadas para
supostamente burlar a Justiça e não ser julgadas por um determinado juiz.
No dia 18
de março, Gilmar Mendes concedeu liminar para impedir a nomeação do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva como ministro-chefe da Casa Civil do governo Dilma
Rousseff. Como justificativa para a decisão, o magistrado traçou um paralelo
com a decisão do STF sobre o ex-deputado Natan Donadon, que renunciou ao seu
assento na Câmara para impedir o julgamento iminente de uma ação contra ele no
STF, fazendo com que o caso voltasse à primeira instância. Segundo o ministro,
a situação de Lula é inversa - sua nomeação como ministro levaria seu caso para
a corte superior -, mas a finalidade de driblar a Justiça seria idêntica. Para
Mendes, a nomeação de Lula teria sido feita com "desvio de
finalidade": apesar de estar em aparente conformidade com as prerrogativas
que a presidente tem para escolher ministros, ela conduziria a "resultados
absolutamente incompatíveis" com a finalidade constitucional dessa
prerrogativa e por isso seria um ato ilícito.
"É
muito claro o tumulto causado ao progresso das investigações, pela mudança de
foro. E 'autoevidente' que o deslocamento da competência é forma de obstrução
ao progresso das medidas judiciais", afirma o juiz no despacho. "Não
se nega que as investigações e as medidas judiciais poderiam ser retomadas
perante o STF. Mas a retomada, no entanto, não seria sem atraso e desassossego.
O tempo de trâmite para o STF, análise pela PGR, seguida da análise pelo
relator e, eventualmente, pela respectiva Turma, poderia ser fatal para a
colheita de provas, além de adiar medidas cautelares."
O ministro
ainda se valeu de declarações feitas pelo ex-presidente Lula nos grampos
autorizados nas investigações da Operação Lava Jato para afirmar que havia
interesse do ex-presidente de transferir o caso para Brasília, já que ele
considera os tribunais superiores "acovardados" e condena a
"República de Curitiba". Os termos foram usados pelo ex-presidente
Lula em conversa grampeada com a presidente Dilma Rousseff.
Segundo o
magistrado, a escolha do petista para o cargo de primeiro escalão no governo
tem claros indicativos de fraude e significa um "salvo-conduto"
conferido pela sucessora Dilma Rousseff para evitar que o padrinho político
possa eventualmente ser preso por causa das investigações da Operação Lava
Jato. As suspeitas que recaem contra Lula são de que ele recebeu benesses de
empreiteiras envolvidas no petrolão e ocultou o patrimônio, registrando os bens
em nome de prepostos.
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