O
presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), durante sessão
conjunta do Congresso Nacional destinada à apreciação de 24 vetos, 2 projetos
de resolução e do PL (CN) 1/2016, que altera a meta fiscal - 24/05/2016(Gilmar Félix/Câmara dos Deputados)
Em mais uma gravação feita pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio
Machado, divulgada nesta quinta-feira pelo Jornal Hoje, da TV
Globo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) aparece orientando um
suposto representante do ex-senador Delcídio do Amaral a respeito do processo
por quebra de decoro parlamentar contra o ex-petista no Conselho de Ética do
Senado. Em outras gravações, veiculadas ontem pelo Jornal da Globo,
Renan aparece ao lado do ex-presidente José Sarney (PMDB) articulando com
Machado uma tentativa de influenciar o relator da Operação Lava Jato no Supremo
Tribunal Federal (STF), ministro Teori Zavascki.
Sérgio Machado entregou os áudios à Procuradoria-Geral da República em
seu acordo de delação premiada, homologado ontem
por Zavascki.
"O que que ele (Delcídio) tem que fazer... Fazer uma carta,
submeter a várias pessoas, fazer uma coisa humilde... Que já pagou um preço
pelo que fez, foi preso tantos dias... Família pagou... A mulher
pagou...", orienta Renan a um homem chamado Wandemberg, que responde
"Ele (Delcídio) só vai entregar à comissão, fazer essa carta e vai
embora".
Renan relata a Wandemberg ter conversado com o presidente do Conselho de
Ética, senador João Alberto (PMDB-MA), do grupo político de Sarney, sobre o
processo contra Delcídio. O presidente do Senado afirma que Alberto "fica
lá ouvindo os caras", mas que o conselho não tinha elementos para dar
prosseguimento à acusação.
Renan pontua, no entanto, que "também é ruim dizer que não vai
levar o processo adiante. Então o Conselho de Ética tem que requerer
diligências, requisição de peças e enquanto isso não chegar fica lá
parado". O suposto representante de Delcídio diz, então, que "(João
Alberto) vai colocar em votação e vai ter uma derrota antecipada".
Delcídio do
Amaral foi cassado no início do mês com 74 votos favoráveis
à perda de seu mandato e nenhum voto contrário. A votação do processo contra o
ex-petista no plenário do Senado foi apressada graças a uma decisão de Renan,
que condicionou a apreciação da cassação do ex-petista pelos senadores à
votação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff na Casa.
Pouco antes da votação, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do
Senado havia aprovado um requerimento do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP)
para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) fornecesse à comissão acesso
ao aditamento da denúncia apresentada contra Delcídio STF.
Por meio de nota divulgada nesta quinta-feira, Renan lembra que, em
relação a Delcídio, "acelerou o processo de cassação no plenário às
vésperas da votação do impeachment". Sobre a orientação ao representante
do ex-senador, Renan afirma que "na fase do Conselho de Ética opinou com
um amigo do ex-senador, mas disse que o processo não podia ficar parado, como
não ficou". Após ser cassado, Delcídio acusou Renan de
"gangsterismo" e chegou a chamá-lo de "cangaceiro" em
entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
Outro diálogo com Renan, gravado por Machado em 11 de março e divulgado
nesta quinta-feira peloJornal Hoje, mostra ambos enfileirando críticas
ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, à força-tarefa da Operação
Lava Jato e a políticos como o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), o
presidente do DEM, senador José Agripino (RN), o ministro da Educação Mendonça
Filho (DEM) e o líder do DEM na Câmara, deputado Pauderney Avelino (AM). Também
são citados os senadores José Serra (PSDB-SP) e Fernando Bezerra Coelho
(PSB-PE).
Janot 'mau caráter' - "Agora
esse Janot, Renan, é o maior mau caráter da face da terra", provocou
Sérgio Machado, para em seguida ter a opinião corroborada por Renan: "Mau
caráter! Mau caráter! E faz tudo que essa força-tarefa (Lava jato) quer".
"É, ele não manda. E ele é mau caráter. E ele quer sair como herói.
E tem que se encontrar uma fórmula de dar um chega pra lá nessa negociação
ampla pra poder segurar esse pessoal (Lava Jato). Eles estão se achando o dono
do mundo", continua Machado, que, diante de uma resposta lacônica de
Renan, passa citar políticos.
Aécio 'vulnerabilíssimo' - "E
o PSDB pensava que não, mas o Aécio agora sabe. O Aécio, Renan, é o cara mais
vulnerável do mundo", afirma o ex-presidente da Transpetro, que ressalta:
"o Aécio é vulnerabilíssimo. Vulnerabilíssimo! Há muito tempo". Renan
responde apenas "é...". O PSDB informou ontem que irá processar
Machado pelas menções a Aécio.
Os democratas - Sobre o deputado
Pauderney Avelino (DEM-AM), Machado afirma que "um cara mais corrupto que
aquele não existe", mas Renan acrescenta: "Mendocinha", em
referência ao apelido pelo qual é conhecido o ministro da Educação do governo
interino de Michel Temer (PMDB), deputado Mendonça Filho (DEM-PE).
O senador José Agripino (DEM-RN), segundo Machado, "é outro que
pode ser parceiro, não possível que ele vá fazer maluquice". Depois de uma
série de respostas monossilábicas, Renan diz que "o Zé (Agripino), nós
combinamos de botá-lo na roda. Eu disse ao Aécio e ao Serra. Que no próximo
encontro que a gente tiver tem que botar o Zé Agripino e o Fernando Bezerra. Eu
acho". "O Zé não tem como não entrar na roda", completa Machado.
Os dois não deixam claro na conversa a que "roda" se referem.
'Não tem como sobreviver' - Após
crítica de Sérgio Machado a um jornalista que afirmou que o impeachment seria
um "processo de salvação" de corruptos, Renan Calheiros lembra que
"é a lógica que ela (Dilma) fez o tempo todo". "Porque Renan vou
dizer o seguinte: dos políticos do congresso se 'sobrar' cinco que não fez, é
muito. Governador nenhum. Não tem como, Renan". Embora seu filho, Renan
Calheiros Filho (PMDB), seja governador de Alagoas, o presidente do Senado se
limita a dizer: "não tem como sobreviver".
(da redação)
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