Aliados de
Temer veem ambiguidade de Aécio sobre apoio ao governo
Por: Vera Magalhães /Veja Online
Aliados do vice-presidente Michel Temer se queixam reservadamente da
maneira como o senador Aécio Neves conduz a negociação para a entrada do PSDB
no governo.
Segundo os integrantes do grupo que negocia a formação do governo, Aécio
faz, publicamente, o discurso de que o partido não deve ter cargos, mas, nos
bastidores, atua pela nomeação de Bruno Araújo para Cidades e de Tasso
Jereissati para o Desenvolvimento.
O senador cearense negou que seja candidato a ministro, mas os
peemedebistas dizem que a pressão pelo seu nome vem da ala aecista da sigla.
A pressão pela ida de Tasso para o Desenvolvimento, que manteria o
Comércio Exterior, seria uma forma de fazer um contraponto a José Serra no
Itamaraty. Serra, assim como Aécio, tem pretensão a disputar a Presidência em
2018.
O senador mineiro nega que negocie os cargos e diz que o melhor seria o
PSDB manter apenas o apoio congressual ao novo governo.
Temer e a
tentação do fisiologismo
O ainda vice-presidente tem dificuldades para montar um ministério de
notáveis e cede cargos em troca da estabilidade política. Mas ele acredita que
o afastamento de Eduardo Cunha ajudará a aglutinar diversas personalidades
DESILUSÃO Temer esperava que os partidos indicassem personalidades
reconhecidas pela sociedade e não políticos profissionais (Crédito: Adriano
Machado )
Mário Simas Filho / Isto É
O vice-presidente Michel Temer soube às 7 horas da quinta-feira 5 que o
ministro Teori Zavaski, do Supremo Tribunal Federal, tomara a decisão de
determinar o afastamento do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da
Câmara e também do mandato parlamentar. A notícia foi recebida com alguma
surpresa e um discreto entusiasmo. Desde que o processo do impeachment de Dilma
Rousseff começou a transitar no Congresso, Temer e Cunha se aproximaram. O
problema é que Cunha vinha interferindo na formação de um futuro ministério,
segundo auxiliares de Temer, de forma muito mais incisiva do que gostaria o
vice-presidente. Nas últimas semanas, Temer chegou a manifestar a alguns
correligionários que a proximidade de Cunha vinha dificultando suas
movimentações em busca de um futuro ministério com nomes notáveis. Na
sexta-feira 6, com Cunha praticamente fora do jogo, o vice-presidente planejava
retomar algumas das conversas que haviam sido travadas e, com os principais
auxiliares, buscava encontrar um discurso adequado para tratar da sucessão na
Câmara. Em menos de 24 horas, partidos do chamado centrão e até o PSDB
encaminharam ao vice presidente pleitos para que ele busque interferir
politicamente na sucessão de Cunha.
Entre as pessoas que o vice pretende conversar nos próximos dias, de
acordo com três de seus auxiliares mais diretos, estão Viviane Senna, Eliana
Calmon, Abílio Diniz, David Uip e Josué Alencar. Não se trata, necessariamente,
de convites para este ou aquele ministério, mas o vice presidente buscará respaldo
dessas personalidades para seu futuro governo. É verdade que o afastamento de
Cunha poderá ajudar o vice-presidente a “qualificar” seu futuro ministério,
mas, na prática, Temer está se vendo obrigado a “engolir” um fisiologismo maior
do que o que pretendia inicialmente. “Ele (Temer) sabe que precisará ceder a
algumas legendas para garantir a governabilidade e estabilidade no início de um
novo governo, mas esperava menos fisiologismo e mais notoriedade em sua futura
gestão”, disse à ISTOÉ um dos mais frequentes interlocutores de Temer. Diante
da pressão exercida pelos aliados, o ainda vice-presidente resolveu blindar a
economia do fisiologismo, o que é vital para o futuro governo. Essa questão
será tratada por basicamente três pessoas: ele próprio, Henrique Meirelles e
José Serra. Moreira Franco, Romero Juca e Gedel Veira Lima tratarão de questões
mais políticas e do relacionamento com os demais partidos. Inicialmente, Temer
também esperava contar com um nome notável no Ministério da Justiça, mas tem
encontrado dificuldade para isso. Seu sonho era contar com o ex-ministro do
STF, Carlos Ayres Brito. Não deu certo. Então, o vice recorreu ao amigo
criminalista Antônio Claudio Mariz de Oliveira. O advogado tem excelente
prestígio junto aos colegas e bom trânsito nos tribunais superiores. Mas Mariz
já se declarara contra a delação premiada, carro chefe da estratégia de
apuração da operação Lava Jato, e isso impediu que ocupasse o cargo. Temer
então convidou Mariz para o ministério da Defesa. Na noite de quinta-feira, por
WhatsApp, o advogado encaminhou mensagem a Temer, recusando o convite.
“Não está fácil”, diz um antigo assessor do vice-presidente.
“Esperávamos que os partidos comprassem a ideia de indicar nomes notáveis, mas
boa parte das legendas insiste nas indicações meramente políticas e fica
praticamente impossível sair desse círculo”. O problema é que algumas dessas
indicações veem repercutindo muito mal nas áreas a que são afetas. O nome de
Renata Abreu para a secretária de Direitos Humanos, por exemplo, não foi bem
recebido. Trata-se de uma pasta que costuma aglutinar pessoas com um perfil
mais progressista, ligadas às universidades, e Renata já se posicionou ao lado
da conservadora bancada evangélica num projeto que dificulta o aborto legal a
vítimas de estrupo. O mesmo ocorre com a indicação do PRB para que Marcos
Pereira, presidente nacional da legenda e bispo afastado da Igreja Universal do
Reino de Deus, para o ministério de Ciência e Tecnologia. Por mais que Pereira
tenha se colocado como alguém que não colocará a religião no debate, a
comunidade científica não aceita a indicação. “Casos como esse também nos
incomodam, mas precisamos construir uma estabilidade parlamentar”, diz o antigo
assessor de Temer. O problema, como diz o jurista Hélio Bicudo, um dos autores
do pedido do impeachment de Dilma, é que um ministro indicado por um partido
que não tenha conhecimento da área onde vai atuar, acha que deve mais
satisfações ao presidente da legenda do que ao presidente da República.
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