Temer e os
áudios: por que a Lava Jato preocupa também o governo interino
Expectativa é de
que novas gravações apresentem diálogos ainda mais comprometedores para
caciques do PMDB – que ajudam Temer a manter o controle do Congresso
Por: Carolina Farina e
Marcela Mattos
O presidente da República em
exercício, Michel Temer, dá posse ao novo ministro da Cultura, Marcelo Calero,
em cerimônia realizada no Palácio do Planalto,em Brasília (DF) - 24/05/2016(Evaristo Sá/AFP)
Quarenta e um dias
separaram as fases 28 e 29 da Operação Lava Jato, deflagradas respectivamente
nos dias 12 de abril e 23 de maio. Foi tempo suficiente para que a Câmara dos
Deputados aprovasse o prosseguimento do processo de impeachment contra a
presidente Dilma Rousseff e o Senado afastasse a petista do cargo. E para que a
militância de esquerda se apressasse a espalhar pelas redes sociais a teoria de
que a Lava Jato havia arrefecido porque o PT estava fora do poder. Nada mais
falso.
Não apenas a operação segue irrefreável como seus desdobramentos seguem
a preocupar o governo �- agora, o do presidente interino Michel Temer. Desde segunda-feira
Temer já perdeu um ministro gravado enquanto
sugeria um 'pacto' para frear a Lava Jato e tem agora diante de si outras duas
importantes figuras do PMDB pilhadas em diálogos
constrangedores com um investigado pela operação.
Ligado à alta
cúpula do partido do presidente interino, o ex-presidente da Transpetro Sérgio
Machado, alvo da Lava Jato, gravou conversas com três caciques do PMDB: o
presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o senador Romero Jucá (RR) e o
ex-presidente José Sarney (AP). Indicado por Renan ao cargo na subsidiária da
Petrobras, Machado foi o dirigente que mais tempo se manteve no posto - de 2003
a 2014. Ele acaba de ter seu acordo de delação premiada homologado pelo Supremo
Tribunal Federal. O áudio dos diálogos travados com Jucá, divulgado pelo jornal Folha
de S. Paulo na segunda-feira, derrubou o peemedebista do ministério do
Planejamento após apenas doze dias no cargo. Mas mais do que o conteúdo já divulgado
dos grampos, preocupa a legenda o que ainda está por vir - nos bastidores,
avalia-se que novos diálogos devem complicar ainda mais a vida de Renan e até
de peemedebistas que se livraram de integrar a primeira 'lista de Janot'.
De volta com carga
total à oposição, o Partido dos Trabalhadores celebra o vazamento dos áudios -
ainda que só reconheça potencial destruidor nas gravações de Jucá. A legenda
pretende utilizar o conteúdo dos grampos para reforçar o discurso de
vitimização de Dilma. Diante de um ministério cuidadosamente montado de modo a
garantir apoio no Congresso, até os oposicionistas reconhecem nos bastidores
que os áudios devem provocar efeito apenas na opinião pública. Oficialmente,
contudo, o discurso é outro: "Esse é mais um fato com que trabalhamos na
perspectiva de reverter o afastamento na votação final no Senado. Obviamente,
tudo que esse governo interino tem feito até agora tem nos ajudado",
afirma o senador Humberto Costa (PT-PE). Nada indica por ora que Dilma tenha de
fato chances de safar-se na votação do mérito.
"Eu não vejo o
impeachment como resultado de uma conspiração externa feita por Jucá e
companhia. Esse processo é resultado das pedaladas, que levantaram a dúvida
sobre o crime de responsabilidade, dos equívocos da Dilma na condução da
economia, do excesso de marketing inverídico durante a campanha e a Lava Jato,
que mesmo que não tenha nada diretamente, é sempre em torno dela", diz o
senador Cristovam Buarque (PPS-DF). "Agora, PT e PMDB ficam mais iguais,
ou menos diferentes. Assim como José Dirceu, Delúbio, Vaccari e todo esse
pessoal do PT terminou preso por causa da Lava Jato, o Temer também começa a
ter gente com gravações que são destruidoras para a reputação do seu
governo", avalia.
Para além dos
desafios econômicos, Temer tem agora diante de si uma difícil missão: manter-se
perto o suficiente dessas figuras para garantir tranquilidade no Congresso, mas
longe o bastante para não prejudicar a própria imagem - desgastada pelos
tropeços iniciais de seu governo. Foi assim com Jucá. O agora ex-ministro, um
dos maiores articuladores do impeachment, se licenciou do Planejamento
afirmando que o fazia por vontade própria, embora no partido a avaliação é de
que ele não volte. E já é ventilado como provável novo líder do governo no
Senado. Na votação que garantiu ao governo a mudança na meta fiscal,
considerada a primeira vitória de Temer no Congresso, Jucá não apenas votou
como subiu à tribuna para defender o Planalto e atacar o PT.
Os discursos
acalorados contra a atuação de Jucá ajudaram o PT a empurrar por mais de 16
horas a sessão que analisou a nova meta fiscal. Ainda que não tenha
comprometido o resultado, a ação mostra que o partido tem potencial para causar
dor de cabeça. E deixou evidente a importância, para Temer, de Renan na
condução das sessões. Como um 'trator', o presidente do Senado encurtou debates
e garantiu que a nova meta fosse votada. Na Câmara, Temer escolheu para líder
do governo o enrolado André Moura (PSC-SE), importante aliado do notório
Eduardo Cunha. Em discurso na segunda-feira, o presidente interino bateu na
mesa e afirmou que sabe o que fazer no governo. Lembrou que nos seus tempos de
secretário de Segurança Pública em São Paulo "já lidou com bandidos".
É a articulação política em tempos de Lava Jato.
Fonte: Veja Online
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