Ministro do STF
foi sorteado relator na noite de terça para analisar o caso.
AGU alegava que Eduardo Cunha autorizou processo por retaliação a Dilma.
AGU alegava que Eduardo Cunha autorizou processo por retaliação a Dilma.
Renan Ramalho, Mariana Oliveira e
Mateus Rodrigues
Do G1 e da TV Globo, em Brasília
O ministro
Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou nesta quarta-feira
(11)pedido do governo para anular o processo de
impeachment da presidente Dilma Rousseff. Com a decisão, o Senado poderá manter
a votação que poderá decidir pelo
afastamento da petista do Palácio do Planalto, caso os senadores aprovem a
instauração do processo.
Zavascki foi
sorteado relator do caso na noite desta terça (10), horas após a
Advocacia-Geral da União (AGU) protocolar a ação.
O despacho do
magistrado foi divulgado no início da tarde desta quarta. Segundo a assessoria
do Supremo, a ação da AGU não será levada ao plenário do tribunal na sessão
desta quarta.
Na decisão,
Teori Zavascki destacou que a alegação do governo de "desvio de
poder" por parte de Cunha implica uma análise subjetiva, e que seria
inviável comprovar, na análise de um mandado de segurança, se o presidente
afastado da Câmara contaminou o processo de impeachment e, eventualmente,
ultrapassou os limites da "oposição política".
O magistrado
destacou ainda que a votação do processo de afastamento na Câmara obteve o aval
de quase 370 deputados no plenário principal da Casa.
"A
invocação do desvio de poder como causa de pedir reclama imersão no plano
subjetivo do agente público responsável pelo ato, atividade que é praticamente
– senão de todo – inviável quando o ato sob contestação representa a vontade
conjugada de quase 370 parlamentares, que aprovaram um relatório
circunstanciado produzido por comissão especial, com fundamentação autônoma em
relação ao ato presidencial que admitiu originalmente a representação",
escreveu o ministro do STF no despacho.
Trecho de decisão que nega pedido da AGU para
anular processo de impeachment (Foto: Reprodução)
O ministro
afirma ainda que a decisão do admissibilidade do processo não foi
"solidária do presidente" da Câmara e que teve o aval do plenário da
Casa.
"É preciso
considerar que os atos do presidente da Câmara, inclusive o de recebimento da
denúncia contra a presidente da República, foram subsequentemente referendados
em
diversas instâncias da Câmara dos Deputados, com votações de acolhimento numericamente expressivas, o que qualifica – e muito – a presunção de legitimidade do ato final de autorização de instauração do processo de impeachment, que não é de competência solitária do presidente daquela casa legislativa, mas do seu plenário", complementou.
diversas instâncias da Câmara dos Deputados, com votações de acolhimento numericamente expressivas, o que qualifica – e muito – a presunção de legitimidade do ato final de autorização de instauração do processo de impeachment, que não é de competência solitária do presidente daquela casa legislativa, mas do seu plenário", complementou.
Por fim, ao
concluir o despacho, Teori disse que, "não há base constitucional para
qualquer intervenção do Poder Judiciário", direta ou indiretamente, no
caso, fazendo juízo sobre se ocorreu ou não desvio de poder por parte de
Eduardo Cunha. Na visão do ministro do STF, o juiz constitucional desse
processo é o Senado.
Trecho de decisão que nega pedido da AGU para
anular processo de impeachment (Foto: Reprodução)
"Admitir-se
a possibilidade de controle judicial do mérito da deliberação do Legislativo pelo
Poder Judiciário significaria transformar em letra morta o art. 86 da
Constituição Federal, que atribui, não ao Supremo, mas ao Senado Federal,
autorizado pela Câmara dos Deputados, a competência para julgar o Presidente da
República nos crimes de responsabilidade", ponderou o relator.
Reações
Senadores favoráveis e contrários ao processo de impeachment comentaram a decisão do STF no intervalo da sessão iniciada às 10h desta quarta. Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que a base aliada já sabia que seria difícil uma decisão favorável ao recurso da AGU "em um dia de votação, como esse".
Senadores favoráveis e contrários ao processo de impeachment comentaram a decisão do STF no intervalo da sessão iniciada às 10h desta quarta. Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que a base aliada já sabia que seria difícil uma decisão favorável ao recurso da AGU "em um dia de votação, como esse".
"Nós
lamentamos porque o STF reconheceu e afastou Eduardo Cunha da presidência da
Câmara e do mandato alegando desvio de função. Qual foi o maior ato de desvio?
Pra mim, foi o recebimento da denúncia", disse Lindbergh. O senador
adiantou que o PT deve entrar com "várias medidas" no STF nos
próximos dias, mas disse que o teor exato só será avaliado após a conclusão da
votação.
Álvaro Dias
(PV-PR) afirmou que a decisão não causa surpresa aos senadores favoráveis ao
processo de impeachment. Ele classificou o recurso como uma tentativa do
governo de "ganhar no tapetão".
"Todos os
atos praticados antes que o processo chegasse ao Senado foram com aval do
próprio Supremo, que impôs o rito e respondeu a todos os questionamentos. [Se
continuarem recorrendo], vão continuar perdendo", disse.
O pedido da AGU
O mandado de segurança ajuizado pela AGU apontava que o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou o pedido de impeachment, em dezembro, em retaliação a Dilma, após a bancada do PT na Câmara decidir votar a favor da abertura do processo de cassação do deputado no Conselho de Ética.
O mandado de segurança ajuizado pela AGU apontava que o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou o pedido de impeachment, em dezembro, em retaliação a Dilma, após a bancada do PT na Câmara decidir votar a favor da abertura do processo de cassação do deputado no Conselho de Ética.
"Tal imoral
proceder consistia em equilibrar-se entre governo e oposição a fim de barganhar
apoio para o não recebimento da representação oferecida perante o Conselho de
Ética. Ao primeiro, oferecia o arquivamento das denúncias contra a Presidenta
da República; à segunda, oferecia o contrário, o acolhimento de alguma
delas", afirma a peça.
A AGU diz que
as "ameaças e chantagens" de Cunha não foram em vão junto ao governo.
"No mesmo dia em que os deputados do PT integrantes do Conselho de Ética
declararam voto pela abertura do processo administrativo contra o Presidente da
Câmara, poucas horas depois, ele recebeu a denúncia por crime de
responsabilidade contra a Presidenta da República. Era o fim do ‘leilão’",
diz outro trecho.
As supostas
chantagens de Cunha, continua a peça, não se limitaram ao acolhimento da
denúncia contra Dilma.
Durante o
processo na Câmara, diz a AGU, o deputado também teria orientado os autores do
pedido a aditarem o documento para atender requisitos legais. O pedido também
aponta que Cunha convocou sessões às segundas e sextas-feiras para acelerar o
trâmite e autorizou líderes a orientarem a votação das bancadas.
A ação também
ataca a escolha do relator do pedido na Câmara, deputado Jovair Arantes
(PTB-GO), classificada como “barganha imoral”, para que o relatório fosse contrário a Dilma. Em
troca, diz a peça, Cunha apoiaria Arantes para lhe suceder no comando da
Câmara.
"A
intenção do presidente da Câmara dos Deputados, pelas circunstâncias, foi
apenas uma: trazer óbices quase que intransponíveis à defesa da Presidenta da
República, na medida em que o próprio conjunto de fatos denunciados se tomou
‘incerto’, fazendo com que parlamentares discutissem outros fatos que não
aqueles que integram o objeto da denúncia", aponta outro trecho.
O pedido do
governo diz, ainda, se basear em decisão do próprio STF que suspendeu o mandato
de Cunha e o afastou da presidência da Câmara, na semana passada. O
advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, disse em entrevista, que todo o procedimento da Câmara foi viciado por
“desvio de poder”.
O acolhimento
da denúncia e outros atos posteriores no trâmite do impeachment, argumentou, se
enquadram nos motivos apontados por Janot para afastar o peemedebista.
Mais ações
Em entrevista à imprensa nesta terça, Cardozo afirmou que, além do mandado de segurança para anular o impeachment, cogita outros questionamentos do processo junto à Justiça.
Em entrevista à imprensa nesta terça, Cardozo afirmou que, além do mandado de segurança para anular o impeachment, cogita outros questionamentos do processo junto à Justiça.
Segundo o chefe
da Advocacia-Geral da União (AGU), ainda há muitas questões a serem
judicializadas. Uma das possibilidades é questionar a "justa causa"
do processo. Trata-se de questionar se havia motivos concretos que
justificassem a denúncia contra Dilma.
O presidente do
STF, Ricardo Lewandowski, já manifestou a possibilidade de a Corte analisar se
atos imputados a Dilma configuram crimes de responsabilidade, função que cabe,
em princípio, somente ao Senado.
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