No
passado, o Aedes aegypti quase foi erradicado. Quando os programas de controle
foram interrompidos na década de 1970, porém, o mosquito voltou
Por AFP
A febre zika, transmitida pelo Aedes aegypti, tem
sintomas parecidos com os da dengue: dores nas articulações, no corpo e de
cabeça, febre, náuseas, diarreia e mal-estar. Como diferencial, ela também pode
causar fotofobia, conjuntivite e erupções cutâneas pelo corpo (James
Gathany/PHILL, CDC/VEJA/VEJA)
A crise
em torno do zika vírus se deve a décadas de políticas falhas de controle de
mosquitos e à falta de acesso a serviços de planejamento familiar, informou
nesta segunda-feira a Organização Mundial de Saúde (OMS). “A propagação do
zika (…) é resultado da desastrosa política que levou ao abandono do controle
de mosquitos nos anos 1970”, declarou Margaret Chan, diretora-geral da OMS, no
início da assembleia anual de saúde da organização em Genebra.
Essas falhas
permitiram que o vírus se espalhasse rápido e criasse “uma ameaça significante
para a saúde global”, disse Chan à cerca de 3.000 delegados dos 194
países-membros da OMS.
Especialistas
afirmam que o zika vírus está por trás do surto de microcefalia – doença que se
caracteriza por um perímetro craniano menor que o normal – na América Latina,
em bebês nascidos de mulheres que contraíram o vírus durante a gravidez.
O zika,
que também causa distúrbios neurológicos como a síndrome de Guillain-Barré, na
qual o sistema imunológico ataca o sistema nervoso, é transmitida
principalmente pelo Aedes aegypti, mas também por contato sexual.
Nas
décadas de 1950 e 1960, foram realizados programas de controle de mosquitos
para evitar a propagação da dengue e da febre amarela, e o Aedes aegypti quase
foi erradicado na América do Sul e Central. Quando os programas foram
interrompidos na década de 1970, porém, o mosquito voltou.
Chan
denunciou, ainda, políticas falhas em relação aos direitos
reprodutivos. Muitos dos países mais atingidos pelo surto atual de zika
são católicos e conservadores, e a sua “incapacidade de fornecer acesso
universal a serviços de planejamento familiar e contracepção” agravou a crise,
disse Chan.
Com o
vírus presente atualmente em 60 países, inúmeras mulheres que podem querer
adiar a gravidez não têm acesso à contracepção, e menos ainda ao
aborto. Chan afirmou que a América Latina e o Caribe “têm a maior
proporção de gravidezes não desejadas do mundo”.
“Sem
vacinas nem exames confiáveis e amplamente disponíveis para proteger as
mulheres na idade fértil, tudo o que podemos oferecer são conselhos”,
disse. “Evitar picadas de mosquito, adiar a gravidez, não viajar para
áreas com transmissão em curso”, completou.
No
Brasil, o país mais atingido, mais de 1,5 milhão de pessoas foram infectadas
com zika, e cerca de 1.400 casos de microcefalia foram registrados desde o
início do surto, no ano passado.
Pesquisadores
estimam que uma mulher infectada com zika durante a gravidez tem 1% de chance
de dar à luz a um bebê com microcefalia.
O vírus
da zika está presente na África e na Ásia desde pelo menos a década de 1940,
tendo circulado por muito tempo sem causar preocupação. Por si só, a zika
não é grave, já que provoca sintomas similares aos de uma gripe leve.
Mas
quando a linhagem asiática do vírus chegou à América Latina, no ano passado,
causou muitos estragos em uma população nunca antes exposta ao vírus.
Na semana
passada, a OMS disse que a linhagem asiática está agora, pela primeira vez, se
propagando por um país africano – Cabo Verde -, aumentando a preocupação sobre
o impacto que pode ter sobre a população do continente. “O que estamos
vendo agora se parece cada vez mais com um ressurgimento dramático da ameaça de
doenças infecciosas”, disse, e alertou: “O mundo não está preparado para
enfrentar” este cenário.
Postar um comentário
Blog do Paixão