O maior
atentado terrorista a tiros nos EUA (com pelo menos 50 mortos) tem de tudo:
terrorismo (o Estado Islâmico reivindicou o atentado), crenças religiosas
fanáticas, preconceito sexual contra os gays e, além de tudo, tratava-se de uma
festa de temática latina (festa acima da linha do Equador com temática abaixo
dela).
O arcanjo
Lúcifer (com certeza) não seria capaz de planejar algo semelhante (e que
incluísse, de sobra, o enriquecimento politicamente favorecido das indústrias
das armas, uma das que mais “investem” nos políticos, formando “bancadas
próprias” – tanto no Brasil como nos EUA).
A maioria da
população é adepta da teoria antropológica geral do “sobrevivente” (ver Alba
Rico, Penúltimos días, p. 52-57). A teoria – sempre de acordo com
esse autor – foi desenvolvida por Elias Canetti. Em regra, diante da dor
alheia, nos sentimos (a) indiferentes, ou (b) culpados ou (c) tocados por ela
(tudo depende se a dor é de um próximo ou de alguém distante – Aristóteles).
Gramsci ficou
estarrecido como as pessoas em geral que não sentiam a dor dos familiares dos
armênios massacrados na Turquia. Sua conclusão: a compaixão não é a regra (não
ocupamos o lugar do outro, na dor). As exceções é que adotam a “moral de
simpatia”, que é a identificação com a dor alheia (Todorov). Simone Weil, por
exemplo, morreu de inanição solidarizando-se com a vítimas do nazismo e da 2ª
Guerra.
Em regra,
somos tomados por uma “cegueira emocional” (não assumimos a dor alheia). O
“normal” (diante da tragédia alheia) é nos sentirmos “sobreviventes”. A
desgraça aconteceu “com ele ou ela”, não comigo. Logo, “sou um eleito”, um
escolhido, um superior; sou de muita sorte, com destino de prosperidade traçado
pelas estrelas.
É que “Tenho
meus méritos” (por não fazer parte da desgraça), assim como imunidade futura.
Rodeia-se e adora ver cadáveres (na TV e outras mídias) para se sentir mais
invulnerável (superior). A sobrevivência é um “prazer” (daí o interesse de
muitos em ver as desgraças espetacularizadas). O sobrevivente precisa das
mortes dramatizadas (para se sentir cada vez mais sobrevivente) como a
indústria das armas necessita dos tiros (para se sentir cada vez mais inserido
no mercado).
A cada
tragédia, o sobrevivente confirma sua hipótese: “Não foi comigo”. O mundo está
se destroçando (morrendo aos pedaços) e eu continuo sendo um “sobrevivente”. A
bem da verdade, “nada disso acontece por acaso”. Não é uma causalidade minha
sobrevivência. Sou especial e distinguido.
Mais de 59
mil pessoas são assassinadas no Brasil por ano (70% com arma de fogo). Mais de
13 mil nos EUA (morrem da mesma maneira). Quase 50 mil mortos no trânsito. O
normal seria dizer: “A vítima poderia ser eu”. O sobrevivente diz: “Eu não sou
como ele ou ela” (eu sou protegido).
Há décadas
que sou sobrevivente (das fomes, dos tsunamis, dos acidentes de carro, dos
homicídios com arma de fogo, dos atentados). Nada acontece por acaso. Não sou
sobrevivente por acaso. Corre para a televisão, veja mais uma batelada de
mortos e vai dormir convencido de que é um ser superior.
Muitas mortes
poderiam ser evitadas se houvesse mais rigor na concessão da autorização para
portar arma de fogo. O sobrevivente não quer saber disso, ele quer ver mais
mortos (para confirmar sua teoria). Quem então pode implantar uma política dura
de porte de armas?
Só o poder
político independente e inclusivo pode impor limites aos poderes econômicos
extrativistas, que não querem saber de restrições e limitações aos seus
interesses. Por isso é que “compram” os mandatos de muitos parlamentares (no
Brasil, nos EUA etc.).
A “compra” de
uma bancada inteira é o tiro certo. Só ela pode facilitar amplamente o mercado
das armas (como estão querendo no Brasil) ou não impedir que os Omars Mettens
(mesmo investigados pela polícia) possam adquiri-las livremente, sem restrições
(como nos EUA, desde a 2ª Emenda Constitucional). Aos “sobreviventes” o que
importa é a notícia do próximo atentado (para que ele continue sendo um
sobrevivente).
FONTE: JUSBRASIL
FONTE: JUSBRASIL
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