O
jornal já é alvo de 45 processos após reportagem sobre salários do Judiciário
do Paraná
Conforme as reportagens, a soma das diferentes fontes de
remuneração dos juízes e integrantes do Ministério Público resultou em
“supersalários”
Foto: Reprodução
Da Agência ANJ
O
jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, e a equipe de cinco
profissionais que
vêm sendo objeto de assédio
judicial sob a forma de dezenas de processos movidos por juízes devido a uma série
de reportagens sobre a remuneração do Judiciário paranaense e de membros do
Ministério Público do Paraná receberão o Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa de
2016.
A
escolha, anunciada nesta terça-feira (14), representa o apoio da Associação
Nacional de Jornais (ANJ) ao jornalismo de qualidade e à coragem da Gazeta do
Povo ao abordar os privilégios injustificáveis autoconcedidos pelos magistrados
e membros do ministério público paranaense. A despeito do rigor, da
objetividade e da sobriedade com que o assunto foi tratado, o jornal, os
jornalistas Chico Marés, Euclides Lucas Garcia e Rogerio Waldrigues Galindo, o
analista de sistemas Evandro Balmant e o infografista Guilherme Storck
respondem a 40 processos.
Conforme
as reportagens, a soma das diferentes fontes de remuneração dos juízes e
integrantes do Ministério Público, todas completamente legais, resultou em
“supersalários”, em média, superiores ao teto salarial constitucional. Para as
quatro funções (juízes, desembargadores, promotores e procuradores), o limite é
de R$ 30.471,10 por mês, ou R$ 411,3 mil anuais, incluindo férias e 13º salário.
Entre os membros do MP-PR, o rendimento anual médio em 2015 foi de R$ 507 mil e
para juízes e desembargadores do estado, R$ 527,5 mil. Em ambos os casos, cerca
de um terço do ganho total era composto por “penduricalhos”.
A
despeito de o jornal ter ouvido representantes das categorias mencionadas e
aberto espaço para suas manifestações, inclusive em reunião do Conselho
Editorial da empresa, em mensagem de áudio enviada ao grupo de WhatsApp da
Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), o presidente da entidade,
Frederico Mendes Júnior, incitou os colegas a judicializar o caso utilizando um
modelo comum de ação.
Em
consequência da reação corporativista, o jornal e seus profissionais já
respondem a 40 processos em diferentes cidades do Paraná. Entre abril e maio,
tiveram de comparecer a 17 audiências em 10 cidades. Um deslocamento total de
6.254 quilômetros, que os tirou da redação e de suas residências por 19 dias.
Para junho e julho, a agenda é de outras 17 audiências, 10 cidades e 17 dias
fora de Curitiba. Na primeira sentença, no dia 25 de maio, o juiz Nei Roberto
de Barros Guimarães condenou a Gazeta do Povo a pagar R$ 20 mil ao juiz
Austregesilo Trevisan.
No
dia 4 de maio de 2016, o advogado Alexandre Kruel Jobim protocolou, em nome da
Gazeta do Povo, pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para que o caso seja
julgado em Brasília. O caso baseia-se no artigo 102 da Constituição Federal.
Esse dispositivo determina como competência do STF o julgamento da “ação em que
todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e
aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam
impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados”.
Criado
em 2008, o Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa tem por objetivo homenagear pessoas,
jornais ou instituições que tenham se destacado na promoção ou na defesa da
liberdade de imprensa. Já receberam a premiação, entre outros, o jurista Carlos
Ayres Britto, ex-ministro do STF; o deputado Miro Teixeira, autor da ação que
levou a suprema corte a declarar extinta a Lei de Imprensa herdada do regime
militar e a Sociedade Interamericana de Imprensa.
Vencedores
do Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa
•
2008 – Ministro Carlos Ayres Britto – Supremo Tribunal Federal (ex-ministro do
Supremo Tribunal Federal, relator da ação sobre a incompatibilidade da Lei de
Imprensa, com a Constituição de 1988).
•
2009 – Deputado Miro Teixeira (pela ação propondo ao STF o fim da Lei de
Imprensa).
•
2010 – Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) (pela defesa da liberdade de
imprensa nas Américas).
•
2011 – Diario Clarín (Buenos Aires – Argentina) (pela postura independente e
combativa frente às ações contrárias à liberdade de imprensa em seu país).
•
2012 – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – ABRAJI (pela
promoção do jornalismo profissional, independente e de qualidade no Brasil).
•
2013 – Não houve premiação.
•
2014 – Dra. Catalina Botero Marino, (Relatora Especial para a Liberdade de
Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos
Estados Americanos (OEA).
•
2015 – Ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (pelas reiteradas
manifestações de repúdio a qualquer tentativa do governo de controlar o que a
imprensa publica e por seu voto contrário à necessidade de autorização prévia
para a publicação de biografias).
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