Saída do Reino
Unido da União Europeia poderá prejudicar a liga inglesa
Com
o "Brexit", contratações como a do goleiro espanhol David De Gea, do
Manchester United, seriam bastante dificultadas(Matthias
Schrader/AP/VEJA)
A saída do Reino Unido da União Europeia, decidido em
referendo na madrugada desta sexta-feira, certamente provocará mudanças na
política e na economia - e, provavelmente, no esporte. A vitória do
"Brexit" pode trazer consequências nocivas à liga inglesa de futebol,
uma das mais poderosas do mundo, e também às ligas vizinhas. A maior
preocupação diz respeito à licença de trabalho para jogadores estrangeiros.
No ano passado, a primeira e segunda divisões inglesas e a liga escocesa
haviam tornado mais rígidas as suas normas para receber atletas de fora, para
garantir que apenas jogadores de alto nível ingressassem nas ligas. Foi criada
uma regra baseada na posição das seleções no ranking da Fifa: dos jogadores
nascidos em países entre a primeira e a décima posição do ranking, é exigido
30% de participações nas convocações de seus países. Entre a 11ª e a 20ª
posição, a exigência sobe para 45% e vai crescendo sucessivamente.
Essa norma afetava, sobretudo, atletas sul-americanos e africanos, mas
passará a valer para os atletas dos 27 países membros da União Europeia - entre
as estrelas da liga, estão espanhóis, franceses, holandeses, belgas, entre
outros.
Segundo levantamento da BBC, mais de 300 atletas das duas divisões da
Inglaterra e da elite da Escócia não cumpririam esse requisito em 2016. Por
essa norma, por exemplo, o meia espanhol Juan Mata, do Manchester United, e o
francês N'Golo Kanté, campeão pelo Leicester City, seriam proibidos de atuar na
liga inglesa. Além disso, essa norma impossibilitaria que craques como
Cristiano Ronaldo e Thierry Henry tivessem chegado à Inglaterra tão cedo, pois
tinham poucos jogos por suas seleções.
Com
o "Brexit", Cristiano Ronaldo não teria chegado tão cedo ao United (Alex Livesey/Getty Images/VEJA)
O "Brexit" ainda pode prejudicar especialmente os atletas
nascidos no Reino Unido e afetar a ordem de todas as ligas. O Campeonato
Espanhol por exemplo, autoriza que cada equipe tenha apenas três atletas
"extracomunitários" (que não pertencem a União Europeia). Com a
mudança, o galês Gareth Bale passaria a contar como um estrangeiro no Real
Madrid - e, assim, não haveria espaço para que ele e os brasileiros Casemiro e
Danilo, e o colombiano James Rodríguez atuassem na equipe numa mesma temporada.
Haverá ainda uma mudança em relação aos jovens atletas. Pelas normas da
Uefa, apenas países da União Europeia podem contratar jogadores entre 16 e 18
anos. A Inglaterra é um dos países que mais contrata promessas - como ocorreu
com Cesc Fàbregas, no Arsenal, e Gerard Piqué, no Manchester United .
Outra possibilidade que assusta os cartolas da Premier League (que desde
o início, se posicionou contra o "Brexit") diz respeito ao poder de
compra de seus clubes. Atualmente, clubes ingleses são capazes de competir
financeiramente com os gigantes do continente (Barcelona, Real Madrid e Bayern
de Munique), mas, caso o Reino Unido seja afetado por uma crise econômica e a
libra se desvalorize, a Premier League pode perder espaço. Na Itália, por
exemplo, a crise econômica afetou diretamente o futebol nos últimos anos.
Vale ressaltar, porém, que as mudanças não terão efeito retroativo
(valerá apenas para negociações futuras) e que a saída do Reino Unido deverá
levar ao menos dois anos para ser implementada. Até lá a Premier League terá
tempo suficiente para analisar seus possíveis efeitos e adaptar suas normas. De
qualquer forma, assim como na política e na economia, o clima de incerteza já
toma conta dos gramados britânicos.
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