Em meio à
insatisfação da população com os governantes, candidatos com perfis executivo
priorizam a gestão e despontam durante a campanha para as eleições municipais
Isto é
Faltando menos de três meses para as eleições municipais,
a descrença com os governantes só cresce. Bate recordes após dois anos de
Operação Lava Jato, do traumático afastamento de uma presidente da República
envolta em corrupção e do colapso dos serviços públicos. Chegou-se a um ponto
em que só 6% da população acreditam na classe política, segundo levantamento da
organização internacional GFK Verein. É nesse cenário que começam a despontar
em várias capitais candidatos com uma roupagem diferente. Não são necessariamente
novatos ou desconhecidos, mas tratam a política e a forma de fazê-la de um
jeito que os eleitores não estão acostumados a ver. Em geral, têm a capacidade
de gestão como o ponto forte das biografias e apresentam nos currículos ações
práticas e não apenas bandeiras ou promessas vazias. São os casos dos
empresários João Dória Júnior (PSDB) na capital paulista e Roberto Oshiro
(Rede) em Campo Grande, do reitor Carlos Maneschy em Belém, do juiz federal
Julier Sebastião (PDT) em Cuiabá e do Delegado Waldir (PR) em Goiânia.
Workaholic, daqueles que trabalham 16 horas ao dia, João
Dória Júnior estreará nas urnas na disputa pela prefeitura de São Paulo. Possui
uma carreira bem-sucedida na iniciativa privada. É dono de um grupo de
comunicação responsável por reunir mais de 50% do PIB em eventos. Contatos que
podem auxiliá-lo no plano de trazer empresas para ajudar a resolver problemas
do município, mergulhado em dívidas. “Para fazer uma gestão eficiente tem de
diminuir o tamanho da máquina pública e gerar novas receitas”, diz. O empresário
pretende arrecadar entre R$ 7,5 bilhões a R$ 9 bilhões com a privatização de
estruturas públicas deficitárias, como o autódromo de Interlagos. Quer promover
concessões e parcerias público privadas para tirar das maquetes obras e
empreendimento que a cidade não tem recursos para fazer. Do outro lado,
pretende aprimorar o gasto público. A idéia é promover um choque de gestão que
consistiria na redução do número de secretarias municipais e no aumento de
subprefeituras para que a prefeitura se aproxime mais da população.
Para mergulhar na política, Dória se
afastou do comando das suas empresas e do programa televisivo que apresenta.
Dedica-se, desde julho, a percorrer a cidade. Visitou 126 lugares na periferia
nos último ano. Das andanças, pôde diagnosticar os pontos mais críticos do
município, como o desemprego. Uma das fórmulas apresentadas pelo tucano para
dinamizar a economia é a criação de um projeto para desenvolver o
empreendedorismo.Em cada subprefeitura, existirá, se eleito, um núcleo para
auxiliar as pessoas a criarem empresas nos setores de tecnologia, franquias e
serviços. “São áreas que, mesmo na crise, seguem bem”, afirma. Duas vezes ao
ano, os novos empreendedores se apresentarão a investidores em busca de
capital. A rede de contatos de Dória deve facilitar a presença de boa parte dos
grandes empresários do País em São Paulo.
Outro que pretende aplicar à gestão
experiências da carreira privada é Roberto Oshiro, candidato em Campo Grande
pela Rede. Ele comanda uma empresa de consultoria em gestão empresarial. Ficou
conhecido na cidade por participar da Associação Comercial. “No ramo
empresarial, a gente faz estudos e projetos bem elaborados, mas esbarra na má
gestão e na falta de vontade dos políticos. Decidi dar minha contribuição.”
Neófito nas urnas, o candidato do PMDB à
prefeitura de Belém, Carlos Maneschy, também se destaca pela eficiência
administrativa. Maneschy possui um extenso currículo. Graduado em Engenharia
Mecânica e com doutorado pela Universidade de Pittsburgh nos Estados Unidos,
ele assumiu a reitoria da Universidade Federal do Pará (UFPA) em 2009. Ficou
sete anos no cargo e chegou a presidir a Associação Nacional dos Dirigentes das
Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Sua gestão foi marcada pelo
aumento do número de alunos de 6 mil para 8 mil e a melhoria da avaliação da
instituição de nota 3 para 4 em uma escala do Ministério da Educação, que vai
até 5. Parte do êxito se explica pelas parcerias firmadas com empresas, que
aumentaram em R$ 70 milhões o orçamento da instituição em quatro anos. Na
gestão da cidade, Maneschy pretende usar a experiência adquirida no meio
acadêmico. “Quero, com convênios, trazer o conhecimento desenvolvido em
universidades para resolver problemas”, afirma.
Além da gestão, outro componente que
marca o DNA dessa nova roupagem de políticos está na capacidade de combater a
corrupção. Não se trata de empunhar a bandeira da ética. Muitos hoje envoltos
na Lava Jato fizeram isso num passado recente. Agora, o que se vê são
pré-candidatos que, na prática, atuaram contra desmandos com o dinheiro
público. É o caso do juiz federal Julier Sebastião, candidato do PDT em Cuiabá.
Foi ele quem condenou João Arcanjo Ribeiro, o Comendador, cabeça de uma
organização criminosa internacional. Ameaçado, passou dez anos com escoltas. Em
2014, pediu exoneração para ingressar na política. “Como juiz, acompanhei casos
de improbidade. A angústia de resolvê-los se acumulou”, diz. Nas propostas,
Julier dá especial atenção à transparência. Promete criar, se eleito, uma
corregedoria do município nos moldes da que há no governo federal.
Também ligado à área de segurança, o
deputado Delegado Waldir (PR-GO) disputará à prefeitura de Goiânia. Ele ganhou
notoriedade pelo combate ao tráfico. Em 2014, elegeu-se o deputado federal mais
votado no estado. Tem um mandato marcado por discursos contra a classe
política. Foi ele quem fez a pergunta que comprometeu o futuro do ex-presidente
da Câmara Eduardo Cunha ao questionar se ele tinha contas no exterior. “As
pessoas estão cansadas de políticos. Querem técnicos que resolvam os
problemas.” Espera-se que os próximos prefeitos ouçam suas palavras.
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