Além de Lúcio
Bolonha Funaro, são alvos da operação desta sexta a empresa JBS, dona da Friboi,
e o lobista Milton Lyra
Por: Thiago Bronzatto e
Laryssa Borges, de Brasília / Veja
Lúcio
Bolonha Funaro, corretor, presta depoimento na CPI Mista dos Correios, em 2006(Dida Sampaio/AE/VEJA)
A Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira o operador Lúcio Bolonha
Funaro e recolheu documentos na casa do lobista Milton Lyra, apontado por
delatores como facilitador de negócios espúrios em partidos junto a empresas
públicas e bancos como a Caixa, o BNDES e o Banco do Brasil. Conformerevelou VEJA,
Lyra foi citado como operador do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL)
no fundo de pensão Postalis, dos Correios. Funaro, por sua vez, é suspeito de
ser operador do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A PF
também cumpriu nesta manhã mandados de busca e apreensão na sede da JBS Friboi.
A operação de hoje, batizada de Sépsis, foi autorizada pelo Supremo
Tribunal Federal e é um desdobramento da Lava Jato em Brasília. O nome da ação
é uma referência a uma doença desencadeada por um grave quadro de infecção
geral.
A nova fase da Operação Lava Jato, embora não tenha como alvos políticos
com foro privilegiado, atinge em cheio a cúpula do PMDB, em especial Eduardo
Cunha e Renan Calheiros. Funaro, ligado a Cunha, e Lyra, a Calheiros, foram
alvo das investigações. Ao todo, foram cumpridos 19 mandados de busca e apreensão
- dez em São Paulo, um em Sorocaba (SP), um em Lins (SP), três no Recife, dois
no Rio de Janeiro e dois em Brasília - além do mandado de prisão preventiva
contra Funaro.
Lúcio Bolonha Funaro é um velho conhecido da justiça. Em 2013, ele
deixou de ser punido no escândalo do mensalão depois de ter fechado um acordo
de delação premiada. Na época, ele era engrenagem fundamental para lavar
dinheiro sujo para o então Partido Liberal, hoje Partido da República.
Novamente com o cerco contra ele, Funaro pode negociar com a justiça e se
tornar também delator na Operação Lava Jato.
As investigações e o cumprimento de mandados desta sexta-feira estão
relacionados majoritariamente à recente delação premiada do ex-vice-presidente
de Loterias da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto, ex-aliado de Cunha. Cleto
foi exonerado do cargo da Caixa no fim de dezembro do ano passado, logo depois
do peemedebista ter autorizado a abertura do processo de impeachment contra a
presidente afastada Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Na época, a decisão
de Dilma foi vista como um "troco" ao seu desafeto.
Quando Cleto fazia parte dos Comitê de Investimentos do Fundo de
Investimentos do FGTS (FI-FGTS), a fabricante de celulose Eldorado Brasil, um
dos projetos mais ambiciosos da holding J&F, controlada pela família
Batista, recebeu polpudos 940 milhões de reais repasses do FI-FGTS - parte do
dinheiro teria acabado nas mãos de Funaro. Na mira da Operação Lava Jato desde
que Fábio Cleto fechou acordo de delação premiada, o FI-FGTS registrou pela
primeira vez no ano passado prejuízo no resultado anual. A queda foi de 900
milhões de reais no patrimônio líquido do fundo que usa recursos dos
trabalhadores para aplicar em projetos de infraestrutura. O patrimônio do
FI-FGTS é largamente ligado a empresas investigadas no petrolão: boa parte de
seus recursos foram aplicadas em companhias como a Odebrecht Transport e a
Odebrecht Ambiental, a OAS Óleo e Gás e a CCR, concessionária de rodovias da
Andrade Gutierrez e da Camargo Correa.
Em sua delação premiada, Cleto apontou o nome do deputado Eduardo Cunha
como destinatário de 1% dos quase 1 bilhão de reais aprovado pelo FI-FGTS à
empresa Eldorado. O ex-vice da Caixa também já havia confirmado que Cunha
cobrou 52 milhões de reais em propina para viabilizar recursos para o projeto
do Porto Maravilha, no Rio.
Em nota à Comissão de Valores Mobiliários, a JBS afirmou que "não é
alvo e não está relacionada" à operação de hoje. Em nota, a Eldorado disse
que "desconhece as razões e o objetivo desta ação e prestou todas as
informações solicitadas".
Thiago Bronzatto/VEJA
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