A
pesquisa brasileira mostra que 20% dos bebês com danos neurológicos por zika
têm perímetro cefálico normal
Por Da redação
O estudo publicado no The Lancet
identificou efeitos da infecção em gestações mais avançadas, o que sugere que
os efeitos do zika não ocorrem apenas quando a infecção acontece no primeiro
trimestre da gestação. (Ueslei Marcelino/Reuters)
Um novo
estudo revela que um em cada cinco bebês com danos neurológicos causados por
infecção por zika durante a gestação apresentam circunferência da cabeça
considerada normal. A pesquisa, feita por uma equipe de cientistas brasileiros, mostra que o exame dos efeitos do
vírus em recém-nascidos não pode se limitar ao diagnóstico de
microcefalia. Os dados foram publicados recentemente na
revista científica The Lancet.
“Os resultados mostram que, nas gestações afetadas
pela infecção por zika, alguns fetos terão alterações cerebrais e microcefalia,
outros terão alterações cerebrais e perímetro cefálico normal e outros não
serão afetados”, afirmou Cesar Victora, coordenador do trabalho e professor da
Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul.
O
trabalho, considerado o maior estudo de casos realizado até o
momento, reuniu informações de 5.909 suspeitas de microcefalia notificadas
no país até fevereiro. A partir dos registros, várias características
foram analisadas: sexo, idade gestacional, exames de imagem, histórico da mãe e
mortalidade.
Do total,
1.501 casos suspeitos foram analisados. “A avaliação não foi feita apenas na
classificação de casos descartados ou confirmados. Incluímos na análise casos
considerados de contaminação muito provável, moderadamente provável e pouco
provável”, conta Victora.
A
pesquisa indica ainda que os efeitos do zika não ocorrem apenas quando a
infecção acontece nos primeiros três meses de gestação. “O trabalho identificou
efeitos da infecção em gestações mais avançadas”, observa Victora. Para ele,
isso lança uma dúvida sobre as infecções que ocorrem logo após o nascimento do bebê.
“O cérebro continua se desenvolvendo mesmo depois do parto. Não sabemos ao
certo quais são os efeitos do zika, quando a doença ocorre logo após o
nascimento. Estamos ainda no campo da especulação, mas acho que é o caso
de começar a pensar também em estratégias de prevenção para bebês logo depois
do nascimento”, observa o pesquisador.
O
professor afirma que uma das principais conclusões do estudo se deve
à estratégia adotada pelo Ministério da Saúde, no início da epidemia, de
fazer uma classificação de casos muito rigorosa. Eram considerados casos
suspeitos de microcefalia por zika todo bebê que nascesse com perímetro
cefálico menor do que 33 centímetros. Não importava o sexo ou se o bebê nascia
de forma prematura. Passado o primeiro período, o padrão foi reduzido para 32
centímetros. Agora, a recomendação da Organização Mundial da Saúde e sugerida
pelo Ministério da Saúde é de que sejam avaliados também o sexo e em que semana
da gestação o parto ocorreu.
“Os
critérios mais rígidos do início tornaram o sistema muito sensível e nos
permitiu avaliar bebês com perímetros cefálicos maiores e, como foi
constatado depois, com danos neurológicos”, afirma. Entretanto, para Victora, o
resultado não significa que parâmetros para classificação de bebês com
microcefalia devem voltar ao patamar anterior.
Segundo
Edurdo Hage, um dos autores do estudo e diretor de Doenças Transmissíveis
do Ministério da Saúde, “isso demonstra o quanto as equipes precisam estar
atentas. Não apenas durante o parto ou logo depois do nascimento, mas durante o
crescimento do bebê. Hoje assistimos a relatos de problemas de visão. É
preciso que a atenção seja redobrada para saber qual será o impacto da ação do
vírus no organismo dos bebês, com o passar do tempo”.
Outro
ponto considerado de grande relevância por Hage no estudo publicado por seu
grupo é a mortalidade. “Verificamos que a taxa de mortalidade de bebês
infectados por zika é quatro vezes maior do que das demais crianças”, disse.
Mudança
de protocolo — De
acordo com informações do G1, o Ministério da Saúde está estudando mudar o
protocolo de atendimento a bebês que nascem com possíveis danos provocados pelo
vírus da zika. “Estamos adequando nossos protocolos a esses achados para
ampliar as investigações e melhorar nosso sistema de vigilância. Neste momento,
o Brasil e o mundo já acumularam mais conhecimentos sobre a doença e podemos,
com esse aprendizado, aprimorar o monitoramento das consequências da infecção
congênita pelo vírus zika”, afirmou em nota o coordenador-geral de Vigilância e
Resposta às Emergências em Saúde Pública do Ministério da Saúde, Wanderson
Oliveira.
(Com
Estadão Conteúdo)
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