Líder cubano
morreu na noite de sexta-feira (25), em Havana.
Por G1, em São
Paulo
26 de julho de 2006 - O líder cubano
Fidel Castro foi fotografado em evento em Holguín. (Foto: Jose Goitia/The New
York Times)
Considerado por alguns uma lenda da esquerda
latino-americana e, por outros, um ditador implacável, Fidel Castro morreu
nesta sexta-feira (25), aos 90 anos, deixando como legado, após quase cinco
décadas de seu comando em Cuba, um dos últimos regimes comunistas do mundo.
Único nome ainda vivo dos grandes protagonistas da
Guerra Fria, Fidel encarnou o símbolo do desafio a Washington: o guerrilheiro
de barba e uniforme verde oliva, que fez uma revolução socialista,
marxista-leninista, a apenas 150 km do litoral dos Estados Unidos.
Morre Fidel Castro, ex-presidente de Cuba
Fidel governou Cuba por 48 anos, mas continuou
sendo o líder máximo e guia ideológico da revolução mesmo quando, doente,
delegou o poder a seu irmão Raúl, cinco anos mais novo, em 31 de julho de 2006.
No dia 1 de janeiro de 1959, Fidel Castro, à frente
de 11 homens, derrotou o ditador Fulgêncio Batista após 25 meses de luta nas
montanhas de Sierra Maestra. Este dia foi o começo de uma era de polarização na
América Latina.
Sob seu comando, Cuba participou do momento mais
quente da Guerra Fria, converteu-se em santuário da esquerda, inspiração e
sustentação de grupos armados que enfrentaram regimes de direita e sangrentas
ditaduras, na época financiadas pelos Estados Unidos em seu afã de frear o
avanço do comunismo.
Entretanto, as liberdades civis foram confiscadas.
Sindicatos perderam o direito de realizar greves, jornais independentes foram
fechados e instituições religiosas perseguidas. Castro removeu seus opositores
com execuções e prisões, além do exílio forçado.
Centenas de milhares de cubanos fugiram do país ao
longo das décadas, muitos seguindo para a Flórida, bastante próxima da costa da
ilha. A maior saída ocorreu em 1980, quando o governo anunciou a autorização de
saída, e 125 mil pessoas deixaram Cuba – 15 mil delas se jogaram ao mar
amarradas e canoas, pneus e botes.
Em 1986, instituições de defesa dos direitos
humanos realizaram em Paris o “Tribunal de Cuba”, onde ex-prisioneiros da
ditadura deram seu testemunho. Entidades calculam que cerca de 12 mil pessoas
morreram nas mãos do governo.
Patriarca
Fidel dirigiu com pulso firme o destino dos cubanos, para uns um pai insubstituível, para outros com um orgulho messiânico. Em seu governo nasceram 70% dos 11,2 milhões de habitantes da ilha.
Fidel dirigiu com pulso firme o destino dos cubanos, para uns um pai insubstituível, para outros com um orgulho messiânico. Em seu governo nasceram 70% dos 11,2 milhões de habitantes da ilha.
Seus opositores o viam como um ditador que acabou
com as liberdades, submeteu os cubanos a penúrias econômicas e não admitiu a
decadência. Mais de 1,5 milhão de pessoas partiram para o exílio,
principalmente para Miami, nos Estados Unidos.
Mas, para seus seguidores, ele sempre foi um
paradigma da justiça social e da solidariedade no Terceiro Mundo, elevando Cuba
à potência mundial no esporte, com os níveis de saúde e educação mais elevados
da América Latina.
De personalidade excepcional, complexa e
esmagadora, para ele nada passava indiferente. Opositores na ilha e no exílio,
incluindo alguns "fidelistas", traçam um retrato contrastado:
inteligente, ambicioso, audaz, voluntarioso, corajoso e autoritário.
1957 - Armado, Fidel (ao centro, em pé) é visto com companheiros da
guerrilha que lutou pelo poder de Cuba, entre eles o irmão Raúl Castro (baixo)
e Che Guevara (segundo da esquerda para a direita) (Foto: AFP)
Iniciou a revolução cubana aos 26 anos quando, com
pouco mais de cem homens, tentou invadir, no dia 26 de julho de 1953, a segunda
fortaleza militar da ilha, o quartel Moncada.
Discursos 'infinitos'
Sua famosa frase "A história me absolverá", dita quando foi julgado por essa ação, mostrou o quanto compreendia do poder destas palavras. Foi um dos maiores oradores dos últimos 50 anos, famoso por seus discursos absurdamente infinitos.
Discursos 'infinitos'
Sua famosa frase "A história me absolverá", dita quando foi julgado por essa ação, mostrou o quanto compreendia do poder destas palavras. Foi um dos maiores oradores dos últimos 50 anos, famoso por seus discursos absurdamente infinitos.
Ficou exilado no México e retornou com 81 homens,
entre eles o argentino Ernesto Che Guevara e seu irmão, em um desastroso
desembarque no dia 2 de dezembro de 1956 para iniciar a guerra que derrotou
Batista.
Sua história e a da revolução se confundem numa só.
Sobreviveu a uma invasão da Baía dos Porcos, em 1961, à crise dos mísseis em
1962 e à desintegração da União Soviética. Sustentou militarmente e
economicamente a ilha por mais de três décadas.
Onze homens da Casa Branca tentaram asfixiar o
governo comunista por meio de um embargo econômico, vigente desde 1962,
considerado "criminoso" por Havana e, segundo os opositores de Fidel,
utilizado por ele como justificativa para o desastre da economia.
De acordo com as forças de segurança cubana foram
638 complôs orquestrados contra Fidel Castro, principalmente pela CIA.
"Ele se transformou quase que numa lenda viva", diz
historiadora sobre Fidel Castro
Conspirador e estrategista
Conspirador nato, teimoso e mestre na arte da estratégia, a emoção do risco foi o maior estímulo de sua vida. Em cada derrota via uma vitória disfarçada. Era um péssimo perdedor.
Conspirador nato, teimoso e mestre na arte da estratégia, a emoção do risco foi o maior estímulo de sua vida. Em cada derrota via uma vitória disfarçada. Era um péssimo perdedor.
Praticou natação, basquetebol, beisebol, caça
submarina e outros esportes. Disciplinado, em 1959 fumava em média uma caixa de
charutos por dia, mas, no final de 1985 parou de fumar para combater o
tabagismo em um país produtor de tabaco por excelência.
Homem de ação, leitor voraz dotado de uma memória
invejável, conversador inveterado e inquieto, Fidel viveu em uma relativa
austeridade.
Filho de latifundiário e
empregada
Fidel nasceu na aldeia de Birán, no dia 13 de agosto de 1926, terceiro dos sete filhos do imigrante espanhol Angel Castro e da camponesa cubana Lina Ruz. Sua mãe trabalhava para a mulher de seu pai, um bem sucedido latifundiário.
Ele foi educado e disciplinado desde pequeno por
jesuítas, mas moldou sua rebeldia inata na Universidade de Havana, onde se
graduou em direito, em 1950.
Quando Fidel era adolescente, seu pai se separou da
primeira mulher e assumiu a família com a mãe de Fidel, Lina Ruz Gonzalez, com
quem teve outros cinco filhos. Nesta época, Fidel foi assumido oficialmente
pelo pai e recebeu o nome de Fidel Alejandro Castro Ruz.
1964 - Fidel Castro com seu charuto durante uma entrevista em sua casa
em Havana. (Foto: Jack Manning/The New York Times)
Apesar de não ter sido registrado pelo pai na
infância, Fidel cresceu estudando em escolas particulares e em meio a um
ambiente de riqueza bastante diferente da pobreza do povo cubano.
Quando jovem, Fidel era mais interessado nos
esportes do que nos estudos. Em 1945, o líder cubano entrou na Universidade de
Havana, onde conheceu o nacionalismo político cubano, o anti-imperalismo e o
socialismo, e se formou em direito em 1950.
Em 1948, Fidel viajou para a República Dominicana
em uma expedição para tentar derrubar o ditador Rafael Trujillo, que foi
fracassada. Ao voltar para a faculdade, ele se juntou ao Partido Ortodoxo,
fundado para acabar com a corrupção no país.
Casamentos
No mesmo ano, Fidel se casou com Mirta Diaz Balart, de uma rica família cubana. Eles tiveram apenas um filho, Fidelito. O casamento com Mirta acabou em 1955.Durante a união, ele teve um relacionamento com Naty Revuelta, com quem teve uma filha, Alina Fernández-Revuelta. Em 1993, ela fugiu da ilha se fazendo passar por uma turista espanhola. Alina pediu asilo nos Estados Unidos e passou a fazer fortes críticas a seu pai.
No mesmo ano, Fidel se casou com Mirta Diaz Balart, de uma rica família cubana. Eles tiveram apenas um filho, Fidelito. O casamento com Mirta acabou em 1955.Durante a união, ele teve um relacionamento com Naty Revuelta, com quem teve uma filha, Alina Fernández-Revuelta. Em 1993, ela fugiu da ilha se fazendo passar por uma turista espanhola. Alina pediu asilo nos Estados Unidos e passou a fazer fortes críticas a seu pai.
Com sua segunda mulher, Dalia Soto del Valle, Fidel
teve outros cinco filhos homens cujos nomes começam com a letra "A":
Alexis, Alexander, Alejandro, Antonio e Ángel.
Além da filha Alina, uma das irmãs de Fidel,
Juanita Castro, também se mudou para os EUA, no início da década de 1960.
Revolução
Durante o casamento com Mirta, Fidel teve contato com as famílias ricas de Cuba, e se candidatou a um posto no parlamento. Entretanto, o golpe do general Fulgêncio Batista derrubou o governo da época e cancelou as eleições.
Durante o casamento com Mirta, Fidel teve contato com as famílias ricas de Cuba, e se candidatou a um posto no parlamento. Entretanto, o golpe do general Fulgêncio Batista derrubou o governo da época e cancelou as eleições.
Junto com outros membros do Partido Ortodoxo, Fidel
organizou uma insurreição. Em 26 de julho de 1953, cerca de 150 pessoas
atacaram o quartel de Moncada, em Santiago de Cuba, em uma tentativa de
derrubar Batista. O ataque falhou e Fidel foi capturado. Após julgamento, ele
foi condenado a 15 anos de prisão. Entretanto, o incidente o tornou famoso no
país.
Em 1955, Fidel foi anistiado, e fundou o movimento
26 de Julho, de oposição ao governo. Nessa época, ele se encontrou pela
primeira vez com o revolucionário Ernesto ‘Che’ Guevara e se exilou no México.
Em 1957, junto com Guevara e mais 79
expedicionários, chegou a Cuba a bordo de um navio e tentou derrubar o
presidente, mas foi surpreendido pelo Exército e derrotado. Fidel, seu irmão
Raúl e Che conseguiram escapar e se refugiaram na Sierra Maestra, onde travaram
combates com o governo.
O líder cubano Fidel Castro em Havana, em 1960, quase um ano depois da
revolução. (Foto: Tad Szulc/The New York Times)
Em 30 e 31 de dezembro de 1958, as vitórias
revolucionárias assustaram Batista, que fugiu de Cuba e foi para a República
Dominicana. Aos 32 anos, Fidel conseguiu o controle do país.
Um novo governo foi criado, e Fidel assumiu como
primeiro-ministro em 1959, após a renúncia de Jose Miro Cardona. Nesta época,
foram iniciadas as relações com a então União Soviética.
O líder passou então a sua reforma para o
comunismo. Em 1960, Fidel nacionalizou a indústria açucareira de Cuba, sem
pagar indenizações. Três anos depois ele estatizaria as fazendas, ampliando a
reforma agrária.
Em 1961, o governo proclamou seu status socialista.
Houve uma fuga em massa dos ricos do país para Miami, nos Estados Unidos, que
rompem as relações diplomáticas com Cuba.
1964 - Fidel Castro, durante uma visita a uma escola em Ciudad Libertad.
(Foto: Jack Manning/The New York Times)
Crise com os EUA
Em abril, Castro formalizou Cuba como um estado socialista. No dia seguinte, cerca de 1,3 mil exilados cubanos apoiados pela CIA atacaram a ilha pela Baía dos Porcos, em uma tentativa de derrubar o governo.
Em abril, Castro formalizou Cuba como um estado socialista. No dia seguinte, cerca de 1,3 mil exilados cubanos apoiados pela CIA atacaram a ilha pela Baía dos Porcos, em uma tentativa de derrubar o governo.
O ataque foi um fracasso – centenas de pessoas foram
mortas e quase mil capturadas. Os EUA negaram seu envolvimento, mas revelaram
que os exilados foram treinados pela CIA. Décadas depois, o país confirmou que
a ação vinha sendo planejada desde 1959.
O incidente fez Castro consolidar seu poder. Em
maio do mesmo ano, ele anunciou o fim das eleições democráticas no país e
denunciou o imperialismo americano. Che Guevara assumiu o Ministério da
Indústria.
Em 1962, os EUA ordenaram o bloqueio econômico
total à ilha, isolando o regime, uma política que se seguiu até a atualidade.
Fidel passou a intensificar sua relação com a União
Soviética, aceitando financiamento e ajudas militares. Em outubro de 1962, o
país concebeu a ideia de implantar misseis nucleares em Cuba, gerando uma crise
com os EUA e quase uma guerra nuclear.
Dias depois, o premiê soviético concordou em
remover os mísseis com o comprometimento americano de não invadir Cuba. Castro
foi deixado de lado nas negociações.
Fidel Catro em abril de 2016 (Foto: Ismael Francisco/Cubadebate via AP)
Doença e saída do poder
Na noite de 31 de julho de 2006, Fidel Castro surpreendeu Cuba e o mundo com o anúncio de que cedia o poder ao irmão Raúl, em caráter provisório, depois de sofrer hemorragias. Foi a primeira vez que saiu do poder.
Na noite de 31 de julho de 2006, Fidel Castro surpreendeu Cuba e o mundo com o anúncio de que cedia o poder ao irmão Raúl, em caráter provisório, depois de sofrer hemorragias. Foi a primeira vez que saiu do poder.
Sem revelar qual doença o afetava, Fidel admitiu
que esteve à beira da morte. Perdeu quase 20 quilos nos primeiros 34 dias de
crise, passou por várias cirurgias e dependeu por muitos meses de cateteres.
Em dezembro de 2007, o comandante cubano já havia
expressado em uma mensagem escrita que não estava aferrado ao poder, nem
obstruiria a passagem das novas gerações, mas em janeiro foi eleito deputado e
ficou tecnicamente habilitado para uma reeleição – o que não ocorreu.
Desde março de 2007, já afastado do cenário
público, sendo visto apenas em vídeos e fotos, Fidel Castro se dedicava a
escrever artigos para a imprensa sob o título de "Reflexões do
Comandante-em-Chefe".
Fidel deixou o poder definitivamente em fevereiro
de 2008. Em um texto publicado no jornal estatal “Granma”, ele anunciou sua
renúncia.
O chefe de governo cubano, Fidel Castro conversa com diversas
personalidades depois da volta de Brasília em abril de 1959. (Foto: Arquivo/AE)
Quando ficou doente em julho de 2006, manteve um
regime de trabalho alucinante, ocupando-se do menor problema doméstico até o
movimento mais calculado do xadrez político internacional. Contudo, um desmaio
em 2001 e uma queda em 2004 acionaram os alarmes sobre sua saúde.
Fidel ergueu um muro entre sua vida pública e
privada. São conhecidos oito filhos seus: seu primogênito 'Fidelito', do
casamento com Mirta Díaz-Balart; Alina Fernández e Jorge Angel, de outras duas
relações; Alejandro, Antonio, Alexis, Alex e Angel, com Delia Soto del Valle,
sua parceira por décadas até sua morte.
Sempre foi um guerrilheiro, simbolizado por seu
eterno traje verde oliva de Comandante-em-Chefe. "Jamais deixarei a
política", disse uma vez. Mas, depois das crises de saúde, no crepúsculo
de sua vida passou a se dedicar a leitura e escrita, auto-intitulando-se
"soldado das ideias".
Na véspera da revolução disse aos seus
companheiros: "Não viverei nem um dia a mais depois do dia de minha
morte".
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