O Ministério
Público de Pernambuco (MPPE) e a Secretaria de Defesa Social (SDS) apresentaram
nesta sexta-feira (25) as conclusões da 3ª fase da Operação Pulverização, que
teve como alvo um dos principais beneficiários da organização criminosa, que
desviou cerca de R$ 15 milhões dos cofres do município de Belém de Maria, na
Mata Sul. Ataíde Júnior era secretário de Infraestrutura do município e
utilizava-se do cargo para adquirir notas fiscais de diversas empresas. Com
elas, fornecia materiais de construção de maneira superfaturada à Prefeitura de
Belém de Maria.
As empresas que negociaram notas fiscais com Ataíde Júnior são
Rental Engenharia, Caroliza Materiais de Construção e Barça Materiais de
Construção. Na terceira fase, os mandados de prisão dos envolvidos com estas
empresas foram cumpridos.
A Rental é uma empresa de fachada em nome de Rylton Alexandre da
Silva. A Caroliza tem como um dos sócios Odeildo Francisco da Penha. A Barça
tem como um dos sócios Roldery Esteves Rangel e como procurador Júnior da Silva
Viana. As transações entre eles e Ataíde Araújo eram feitas por e-mails,
ligações ou mensagens telefônicas, que foram investigadas pelos policiais.
“Esta terceira fase foi dedicada à busca das notas falsas para a
comprovação da lavagem de dinheiro. Através dos computadores apreendidos,
encontraram-se, além das notas, várias provas das transações feitas para cobrir
os rombos nos cofres públicos”, comentou o procurador de Justiça Ricardo
Lapenda.
“O esforço conjunto do MPPE, da SDS e do Poder Judiciário levou ao
sucesso da Operação Pulverização. Não só nessa como em outras onde temos
praticado essa interação”, garantiu o secretário de Defesa Social, Angelo
Fernandes Gioia.
Os reús da Operação Pulverização são investigados por crimes de
responsabilidade por apropriação de bens, rendas públicas ou desvio de verbas,
organização criminosa, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e fraude à
licitação. No caso do prefeito Valdeci José dos Santos (preso) e da
vice-prefeita Maria Amália Silva do Egito (afastada), soma-se o crime de
responsabilidade de apropriação de bens ou rendas públicas ou desvio em
proveito próprio ou alheio.
O prefeito, que já havia sido afastado do cargo em dezembro de
2015, estava foragido desde janeiro deste ano, mas entregou-se à polícia em
agosto. Ele foi investigado na segunda fase da operação, que já havia prendido,
em 28 de janeiro de 2016, cinco vereadores e um funcionário da prefeitura.
A investigação que levou à deflagração da Operação Pulverização
teve início em novembro do ano passado com o recebimento, pelo MPPE, de
denúncias de um cidadão que noticiou a existência de um esquema de corrupção
que seria comandado pelo secretário de Finanças de Belém de Maria, Benevilson
Duarte, e incluiria a participação de donos de empresas de fachada.
Segundo os integrantes do Grupo de Atuação Especial de Combate às
Organizações Criminosas do MPPE (Gaeco), as primeiras investigações já
permitiram vislumbrar uma organização criminosa ainda maior, com participação
de agentes públicos de toda a administração municipal, vereadores e
empresários, alguns deles laranjas.
A primeira parte do trabalho consistiu em reunir informações sobre
as empresas contratadas pelo município de Belém de Maria, a fim de comprovar se
elas executaram o serviço contratado e como se deu esse pagamento. Por meio
dessa investigação, o Ministério Público constatou que as licitações realizadas
pela gestão municipal foram forjadas de modo a garantir que as empresas
vencedoras fossem aquelas que faziam parte do esquema.
Após a conclusão da etapa de investigação, o MPPE e as Polícias
Civil e Militar partiram para executar a Operação Pulverização, o que ocorreu
em duas etapas. A primeira delas focou o núcleo empresarial da organização
criminosa, com o cumprimento de seis mandados de prisão e sete de busca e
apreensão. Além de obter informações contidas em documentos físicos e
eletrônicos, os investigadores interrogaram os acusados.
Com essas informações, foi possível realizar a segunda etapa da
Operação Pulverização, que contou com o apoio de 13 delegados e cerca de 100
policiais para cumprir os mandados de prisão contra o núcleo político da
quadrilha. As buscas foram cumpridas em Belém de Maria e cidades vizinhas da
Mata Sul e do Agreste.
Com a conclusão das investigações, o MPPE pôde estabelecer que a
organização criminosa era efetivamente comandada pelo prefeito Valdeci José da
Silva, que desde o primeiro dia de seu mandato teria estruturado o grupo para
desviar os recursos de Belém de Maria.
Os recursos desviados eram usados, em parte, para fazer o
pagamento de mesadas, cujos valores variavam entre R$ 5 mil e R$ 10 mil, a
alguns vereadores municipais. Mas a maioria seguia mesmo para o prefeito e o
secretário de Finanças do município, Benevilson Duarte. Uma pequena parte ainda
era usada para pagar os donos das empresas que faziam parte do esquema.
Blog do Paixão