O intuito foi o de diminuir o acirramento de ânimos entre Legislativo e Judiciário
A articulação para suavizar a decisão do ministro Marco Aurélio Mello de afastar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi costurada ao longo dos últimos dois dias pela presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, e pelo menos outros quatro ministros. O intuito foi o de “baixar a poeira” em meio ao acirramento de ânimos entre Legislativo e Judiciário.
Coube ao ministro Celso de Mello, decano da Corte, apresentar uma saída considerada intermediária durante o julgamento. Ele, inclusive, pedir para votar logo depois do relator com o objetivo de abrir dissidência entre os ministro – Celso é geralmente o penúltimo a votar nas sessões do plenário.
Em seu voto, o ministro citou o impacto da liminar nas atividades do Senado e “a crise gravíssima e sem precedentes que assola o nosso país” para votar contra o afastamento de Renan do comando da Casa. O ministro destacou que, em caso de viagem de Temer ao exterior, sua substituição será feita pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), “inexistindo deste modo razão para adotar-se medida tão extraordinária quanto a preconizada na decisão em causa”. Renan é o segundo na linha sucessória de Temer, mas o entendimento consensual dos ministros do STF foi o de que o peemedebista está impossibilitado de ocupar interinamente a Presidência da República por ter se tornado réu na semana passada e responder à ação penal por peculato (desvio de recursos públicos).
Desprestígio
Ao defender a sua decisão liminar, Marco Aurélio traçou um paralelo entre a situação de Renan e a do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que foi afastado da presidência da Câmara e do mandato de deputado por uma liminar de Teori, que foi referendada depois pelo plenário.
“A previsão constitucional não encerra a possibilidade de pular-se este ou aquele integrante da linha. A interpretação nada mais revela do que o já famoso ‘jeitinho brasileiro’, a meia sola constitucional”, disse Marco Aurélio.
O plenário do STF ainda deve retomar o julgamento de uma ação ajuizada pela Rede Sustentabilidade, que pede o veto de réus em ações penais da linha sucessória da Presidência da República. Esse julgamento foi interrompido depois do pedido de vista de Dias Toffoli e não há previsão de quando será retomado.
Dos 11 integrantes da Corte, Gilmar Mendes, em viagem, e Luís Roberto Barroso, que se declarou impedido, não participaram do julgamento desta quarta-feira.
(com Estadão Conteúdo)
Acordo
no Senado trava projeto de abuso de autoridade
Com manutenção de Renan à frente da Casa, projeto que
limita gastos deve ser votado até dia 13
POR CRISTIANE
JUNGBLUT E MARIA LIMA
Foto: Givaldo Barbosa/Agência O Globo - Givaldo Barbosa / Agência O Globo
BRASÍLIA - A vitória do presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no Supremo Tribunal Federal (STF) incluiu um
acordo político para a aprovação na próxima semana da PEC do teto, além de
outras propostas fundamentais para o governo Temer, como a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) e o Orçamento da União de 2017. Segundo interlocutores de
Renan, o acordo também incluiu a desistência de votar o projeto da Lei que Pune
o Abuso de Autoridade.
Ontem,
Renan marcou para a manhã desta quinta-feira a sessão do Senado que contará
prazo para a votação da PEC do teto, que deverá ser votada dia 13. O líder do
governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), disse que o calendário ficou “mais
apertado”, mas será cumprido.
Jucá
disse que haverá sessões hoje, amanhã e segunda-feira para que seja contado
prazo para a votação da PEC do teto na próxima terça-feira. Na noite dessa
mesma terça-feira, haverá sessão do Congresso para que se tente terminar a
votação da LDO. O Planalto avisou que, sem a LDO, não poderá fazer gastos em
2017. O Orçamento deverá ser votado posteriormente.
— O
calendário ficou mais apertado, mas a PEC do Teto será aprovada na terça-feira
e será promulgada pelo Congresso no dia 15 — disse Jucá.
No caso
da Lei do Abuso de Autoridade, Renan tem uma estratégia para não ser acusado de
recuar, após a decisão do STF. Ele porá em votação o requerimento protocolado
ontem pelo líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), com apoio dos
principais líderes e da maioria dos senadores para a retirada da proposta da
pauta de votações.
Vice-presidente do Senado, Jorge
Viana (PT-AC) se mostrou aliviado com a decisão do STF, que manteve Renan na
presidência da Casa. Em sua avaliação, a decisão do Supremo mantém a harmonia
entre os Poderes e afasta o risco de mais uma crise. Viana atuou junto à
presidente do STF, Cármen Lúcia, para que houvesse um solução acordada.
— Nunca
torci e tinha uma questão dentro de mim: mesmo estando na condição que estava,
não fazer o que os que estão no governo hoje fizeram conosco. O Brasil precisa
que emprestemos o que temos de melhor, não o que temos de pior. Estou muito
melhor hoje que ontem porque, agora, há o respaldo do Supremo, uma solução que
cria uma harmonia entre os Poderes. Fico contente de ter ajudado, defendendo o
Senado. Para mim é uma página virada — disse Viana.
No PT,
houve declarações divergentes sobre a decisão do STF. O líder do PT no Senado,
Humberto Costa (PE), disse que era o momento de se retomar a normalidade no
Senado. Mas o líder da minoria, senador Lindbergh Farias (PT-RJ), chamou a
decisão de “acordão” e de “vergonha”.
Para o
senador Randolfe Rodrigues (AP), líder da Rede, partido que entrou com no STF
com o pedido de afastamento de Renan, o STF frustrou aos brasileiros que
defendem os valores republicanos.
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