Dois vigilantes eram responsáveis por cuidar de três estações na noite
do crime. Secretaria de Segurança Pública ofereceu R$ 50 mil por informações
para localizar suspeitos.
Por
Will Soares, G1 São Paulo
Os dois agressores identificados são Alípio Rogério Belo dos Santos e Ricardo Nascimento Martins (Foto: TV Globo/Reprodução)
A Estação
Pedro II, da Linha 3-Vermelha do Metrô de São Paulo, não contava com nenhum
segurança quando o vendedor ambulante Luis Carlos Ruas, de 54 anos, foi espancado e morto por dois homens ao
tentar defender uma travesti vítima de discriminação. As agressões ocorreram em
frente a uma bilheteria, por volta das 20h do último dia 25, e foram registradas por câmeras segurança.
O advogado
dos suspeitos havia dito que eles se entregariam à polícia nesta terça (27),
mas, como até a publicação desta reportagem eles seguiam foragidos, a
Secretaria de Segurança Pública (SSP) passou a oferecer uma recompensa de R$ 50
mil por informações que levem à sua localização. As denúncias deverão ser
feitas pelo Webdenúncia. Não é preciso cadastro e
o sigilo é garantido.
Conforme
apurou o G1, dois vigilantes eram responsáveis pelo patrulhamento
de três estações (Bresser-Mooca, Belém e Pedro II) na noite de Natal. No
momento em que Ruas - também conhecido com Índio - era atacado, a dupla de
seguranças "fazia rondas nas estações vizinhas", como afirmou o Metrô
SP.
De acordo
com empresa, os agentes levaram seis minutos para se deslocar até o local do
crime e começar os primeiros socorros. O intervalo foi suficiente para que os
agressores, apontados pela Polícia Civil como sendo Alípio Rogério Belo dos
Santos e Ricardo Nascimento Martins, fugissem. A vítima não resistiu aos
múltiplos ferimentos e morreu pouco depois, no hospital.
Segundo o
Sindicato dos Metroviários, o esquema de revezamento é prática comum na
segurança do Metrô paulistano durante os feriados e também nos dias de semana,
após as 22h. Na noite de Natal, outros dois vigilantes patrulhavam as estações
Carrão, Penha e Vila Matilde, e uma terceira dupla era a encarregada de cuidar
de Guilhermina-Esperança, Patriarca e Artur Alvim.
Neste
esquema, apenas as estações com maior fluxo de passageiros, como Sé, Brás e
Barra Funda, por exemplo, contam com segurança fixa. Para Alex Fernandes,
coordenador do sindicato, a falta de funcionários impede um patrulhamento
eficiente. "Com uma dupla para cuidar de três estações é impossível. No
momento que ocorre qualquer ocorrência de natureza social, um acidente, ou a
aberração que ocorreu naquela noite, não vai ter segurança".
O Metrô SP
conta, atualmente, com um quadro de 1100 vigilantes, conforme dados do
Sindicato dos Metroviários. Na avaliação de Fernandes, o ideal era que a
quantidade fosse aumentada em no mínimo 40%, já que com licenças, folgas e
outros fatores que acabam afastando os funcionários do trabalho, apenas cerca
de 350 atuam no Metrô diariamente.
"A
maioria trabalha durante o dia e durante dias de semana. Ou seja, nos finais de
semana e à noite, você tem 60, 70 seguranças pra cuidar de todas as estações
das linhas 1, 2 e 3. Funcionários que têm de cuidar de toda a segurança do
Metrô: trens, acessos, plataformas, tudo", lamentou ele.
Por nota, o
Metrô de São Paulo lamentou a morte do ambulante Ruas e disse que ajuda e
confia na "atuação das autoridades policiais para que os criminosos sejam
presos". A empresa reforçou ainda que "mantém o seu compromisso de
transportar cerca de 4 milhões de usuários por dia, com confiabilidade, rapidez
e segurança".
Foragidos
Os
suspeitos Alípio Rogério Belo dos Santos e Ricardo Nascimento Martins tiveram a
prisão temporária decretada pela Justiça. Conforme informou o delegado Oswaldo
Nico Gonçalves à GloboNews, os dois homens são primos, moram perto um do outro
e beberam muito no dia de Natal.
As imagens
das câmeras da Estação Pedro II mostram que tudo começou com a perseguição de
dois homens a uma travesti. Ela passa por baixo da catraca, corre com os
criminosos em seu encalço, mas consegue escapar. Em seguida, quem já aparece
fugindo dos agressores é o vendedor ambulante. Ele, no entanto, cai e é
atingido por repetidos socos e pontapés.
Ruas morreu
no hospital e teve corpo velado no Cemitério Jardim Vale da Paz, em Diadema, na
Grande São Paulo. Ele trabalhava há mais de 20 anos na saída de uma passarela
para pedestres do lado de fora da estação onde foi morto.
Cartaz de grupo LGBTT faz
agradecimento ao vendedor morto, conhecido como 'índo', por ter protegido
travesti (Foto: Will Soares)
Manifestação
Ativistas
LGBTT, integrantes do Sindicato dos Metroviários e religiosos realizaram um protesto em frente às catracas da estação Pedro
II do Metrô, na tarde desta terça-feira. Entre outras
reivindicações, o grupo de manifestantes pediu justiça e mais segurança nas
estações de metrô da cidade.
O Padre
Julio Lancelotti estava entre eles e também sugeriu que a estação Pedro II, que
compõe a Linha Vermelha, tenha o nome trocado para homenagear a vítima.
"Na sexta-feira pretendemos formalizar essa proposta de que essa estação
possa se chamar Luis Carlos Ruas", explicou o sacerdote.
A vereadora
Soninha Francine, futura secretária de Desenvolvimento Social do prefeito
eleito João Doria também participou do ato. "A gente não pode deixar que
as pessoas se acostumem com a notícia e esqueçam. Infelizmente, é uma coisa que
acontece com casos de violência. Daqui a pouco eles são substituídos por
outros. A gente precisa manter aceso esse horror. Parece algo meio sádico, mas
as pessoas não podem se acostumar e esquecer", disse ela.
Blog do Paixão