Convidado por Temer para o Ministério da
Transparência, ele poderá trocar de cadeira com Torquato Jardim, crítico da
Lava Jato. Serraglio foi flagrado em grampo com líder de esquema de corrupção.
Por
Fabiano Costa, G1, Brasília
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O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, durante entrevista no Palácio do Planalto (Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil) |
Indicado pelo
presidente Michel Temer para o comando do Ministério da Transparência,
Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU), o ministro Osmar Serraglio
(PMDB-PR) foi citado e flagrado em
grampo da Operação Carne Fraca, que apura um esquema de
pagamento de propinas envolvendo frigoríficos e fiscais do Ministério da
Agricultura. À frente da CGU, uma das principais atribuições de Serraglio será
o combate à corrupção na administração pública federal.
A pasta é
responsável no governo federal por ações de prevenção e combate à corrupção,
auditoria pública e ampliação da transparência da gestão pública.
Osmar Serraglio
deve deixar a chefia do Ministério da Justiça para assumir a cadeira de
ministro da Transparência. Ele, entretanto, ainda não confirmou publicamente se
aceitará mudar de endereço na Esplanada dos Ministérios ou se vai preferir
retomar o mandato de deputado federal.
Para o lugar de
Serraglio na Justiça o presidente da República nomeu neste domingo (28) Torquato
Jardim, jurista e ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que estava
até então na chefia do Ministério da Transparência. Ele é amigo de Temer há
mais de três décadas.
Segundo a
colunista do G1 Andréia Sadi, Serraglio
disse a peemedebistas que vai avaliar nesta
segunda-feira (29) se aceita o convite para assumir o
Ministério da Transparência.
Osmar Serraglio apareceu em um dos
grampos da Operação Carne Fraca. Na ligação, o agora ex-ministro
da Justiça fala com um dos líderes do esquema investigado pela Polícia Federal,
o ex-superintendente regional do Ministério da Agricultura no Paraná Daniel
Gonçalves Filho.
Ele chama o
ex-superintendente de “grande chefe” na conversa telefônica interceptada pelos
agentes federais e fala sobre a ameaça de fechamento de um frigorífico.
Leia a
transcrição da conversa:
Osmar
Serraglio: grande chefe,
tudo bom?
Daniel
Gonçalves Filho: tudo bom
Osmar: viu, tá tendo um problema lá em Iporã, cê tá
sabendo?
Daniel: não
Osmar: o cara lá, que... o cara que tá fiscalizando
lá... apavorou o Paulo lá, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico... botô
a boca... deixou o Paulo apavorado! Mas pra fechar tem o rito, num tem? Sei lá.
Como que funciona um negócio desse?
Daniel: deixa eu ver o que acontecendo... tomar pé da
situação lá tá... falo com o Senhor (...)
À época em que
a operação foi deflagrada, a PF informou que não havia indício de crime por
parte do então ministro da Justiça.
No entanto, o
ex-assessor parlamentar da Câmara Ronaldo Sousa Troncha afirmou à Polícia Federal
que Osmar Serraglio participou da indicação
de Daniel Gonçalves Filho para a chefia da superintendência
paranaense do Ministério da Agricultura.
De acordo com o
ex-assessor, o ex-ministro da Justiça fez parte de um grupo de sete deputados
federais do Paraná ligados ao PMDB que formalizaram a indicação de Daniel
Gonçalves Filho para o cargo.
Troncha disse
não se lembrar a data exata da indicação, mas disse que se recorda que foi
próximo ao ano de 2008. À época, Serraglio era deputado federal pelo PMDB do
Paraná. O peemedebista nega ter indicado o fiscal.
Na avaliação do
colunista Gérson Camarotti, Serraglio era considerado dentro do Palácio do
Planalto "um ministro
fraco". De acordo com o colunista, o núcleo político
próximo a Temer se queixava que o ministro não tinha influência no comando da
PF e não conseguia interferir nos rumos da Lava Jato.
O presidente da
República, segundo Camarotti, optou por Torquato por considerá-lo com
personalidade suficiente para retomar o controle
da Polícia Federal.
Rocha Loures
Se Osmar
Serraglio não aceitar a mudança compulsória para o gabinete de Ministro da
Transparência, um aliado próximo de Temer encrencado com a Lava Jato pode
perder o foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF), o que poderia
deixá-lo ao alcance do juiz federal Sérgio Moro.
Ex-assessor
especial de Temer no Planalto, o deputado Rodrigo Rocha Loures (PR) é suplente
da bancada do PMDB do Paraná. Ele assumiu o mandato de deputado em março com a
ida de Serraglio para o governo federal.
Rocha Loures é
investigado pela Lava Jato por suspeita de ter recebido propina do grupo
J&F, controlador do frigorífico JBS. Ele foi afastado das atividades
parlamentares por ordem do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF.
Apontado como
intermediário do presidente da República para assuntos da holding dos irmãos
Joesley e Wesley Batista com o governo – o deputado afastado do PMDB foi
gravado pela Polícia Federal deixando um restaurante de São Paulo carregando uma mala com
R$ 500 mil em propina entregue pelo executivo da J&F
Ricardo Saud.
Uma gravação
feita por Joesley no Palácio do Jaburu com Michel Temer aponta que o presidente indicou
Rocha Loures para resolver uma disputa relativa ao preço do
gás fornecido pela Petrobras à termelétrica do grupo J&F. Os investigadores
apuram se a propina do dono da JBS ao deputado do PMDB foi para Temer.
A nota oficial
do Planalto distribuída à imprensa na tarde deste domingo para comunicar a
saída de Serraglio do Ministério da Justiça e a ida de Torquato para a pasta
não informava que o presidente havia convidado o peemedebista para outro
ministério, o que só foi esclarecido cerca uma hora depois.
Nesse período,
especulou-se o que aconteceria com Rocha Loures. Caso Serraglio voltasse à
Câmara, ele perderia a vaga na Câmara e o foro privilegiado.
Conforme o
colunista do G1 e da GloboNews Gérson
Camarotti, o núcleo mais próximo a
Temer está apavorado com a possibilidade de Rocha Loures
fechar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).
Crítico da Lava Jato
O novo ministro
da Justiça já fez críticas públicas à Operação Lava Jato, que investiga o
esquema de corrupção que atuava na Petrobras.
Em entrevista
publicada neste domingo pelo jornal "Correio Braziliense" – antes de
ser anunciada a troca de cadeiras –, Torquato Jardim ele se queixou, entre
outros pontos, da amplitude do acordo de delação premiada fechado entre a
Procuradoria Geral da República (PGR) com os executivos do grupo J&F,
controlador do frigorífico JBS.
"Por que
um procurador da República que atuava na Lava Jato aposentou-se e, no dia
seguinte, tornou-se advogado dele [Joesley Batista, um dos donos da JBS]. Há
outros advogados famosos que estavam na JBS e deixaram para transferir a causa.
Acho que eles [PGR] devem explicar", alfinetou o novo ministro da Justiça,
referindo-se ao ex-procurador da República Marcelo Miller, um dos braços-direitos
do procurador-geral da República Rodrigo Janot na Lava Jato até março que
passou a atuar no escritório que negocia com os termos da leniência do grupo
J&F.
Na chefia da
CGU desde junho do ano passado, Torquato Jardim reclamou publicamente em
fevereiro das longas prisões provisórias da Lava Jato durante uma palestra a
advogados em São Paulo. Na ocasião, ele afirmou ainda que vazamentos seletivos
geram "nulidade absoluta" de processos.
À época, o novo
ministro da Justiça também disse que a operação tem como desafio encontrar
"equilíbrio entre o bem jurídico a ser tutelado e os meios [que utiliza]
para chegar até lá".
Aos advogados
Torquato disse, sem citar nomes, que conduções coercitivas só fazem sentido
contra quem se recusou a cumprir ordens judiciais, mas ressaltou que, na
avaliação dele, essa prática é comum na "Lava Jato".
O jurista e
ex-ministro do TSE ponderou na mesma palestra que, para ele, prisões antes de
qualquer condenação só são necessárias quando há efetivo prejuízo à instrução
penal, como ameaças a testemunha ou fuga.
'Preocupação'
O troca-troca
na Esplanada dos Ministérios surpreendeu o mundo político neste fim de semana e
gerou protestos de entidades ligadas à Polícia Federal (PF). Em nota divulgada
poucas horas após o anúncio da mudança no primeiro escalão, a Associação
Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) afirma que viu com
"preocupação" a dança das cadeiras no comando do
Ministério da Justiça.
Imediatamente,
também surgiram interpretações, em Brasília, de que a decisão de Temer de
colocar Torquato no comando do Ministério da Justiça seria uma tentativa de retomar a influência
sobre a PF.
Em entrevista a
Andréia Sadi, o novo titular da Justiça afirmou que não está descartada nem mesmo a substituição
do diretor-geral da PF, Leandro Daiello.
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