Diante
das reviravoltas no cenário político nacional ocorridas na semana passada –
algumas envolvendo o PSB com denúncias de recebimento de doações ilegais de
campanha – o prefeito Geraldo Julio deixa claro o incômodo dos socialistas,
sai em defesa do partido e sinaliza que, após as investigações, alguma medida
judicial poderá ser tomada com relação aos delatores. Um deles, Ricardo Saud,
diretor de Relações Institucionais da J&F, grupo proprietário da empresa
JBS, envolveu diretamente o PSB, o governador Paulo Câmara, o ex-governador
Eduardo Campos, já falecido, e o próprio prefeito num suposto pagamento de
“propina” que chegaria a R$ 14,6 milhões, na campanha de 2014.
Secretário-geral nacional do partido, Geraldo nega com veemência as acusações
e diz que não houve repasse da JBS à campanha de Paulo Câmara. Nesta
entrevista exclusiva ao Blog do Diario, o prefeito também
considera “insustentável” a permanência do presidente Michel Temer no cargo e
aposta na sua saída, embora prefira não fazer previsões sobre como ele
deixaria o governo. Diz ainda que a posição do ministro de Minas e Energia,
Fernando Filho (PSB) no cargo é uma “decisão pessoal” que não cabe ao PSB
julgar, apesar de o partido ter decidido pelo afastamento completo da gestão
Temer. Leia a entrevista:
Blog
do Diario – Como o senhor viu os
acontecimentos da semana passada em Brasília? Houve exagero por parte dos
manifestantes ou do governo no confronto?
Geraldo
Julio – Acho que foi uma ação
inadequada para o que estava acontecendo nas ruas. Uma manifestação que,
segundo relatos, começou pacífica e depois descambou para atos mais violentos.
Deveria ter sido contida, mas achei desnecessária a convocação dos militares,
sobretudo sabendo que isso gera uma leitura social bastante complicada, e
remete um pouco ao passado. O país já vive um momento de muita insatisfação
da população, e qualquer ação de maior impacto gera uma reação Deveria ter
sido feito de outra forma.
Blog
– O decreto não durou nem 24 horas. Mas depois dos acontecimentos, o senhor
acredita que ainda há chances de uma sobrevida do governo Temer?
Geraldo
– A situação do presidente Temer vai se
agravando a cada dia, sobretudo porque o que ele tinha de mais forte para ele
era a governabilidade, a capacidade de se relacionar com o Congresso e
aprovar pautas. E isso, desde a quarta-feira passada se perdeu. Perderam-se
as condições políticas, as condições de governabilidade e de relacionamento
com o Congresso. Eu disse lá no início dessa crise que a melhor solução seria
a renuncia para que o Brasil pudesse rapidamente encontrar uma forma estável
de governabilidade que permitisse a situação de crise econômica se
aprofundar. Porque o desemprego está alto demais e o sofrimento da população
já está grande demais.
Blog
– O que está por trás dessa panela de delações da JBS no caso de Pernambuco?
Eduardo Campos encontrou de fato com os irmãos Batista, combinou alguma coisa
com eles em termos de doações de campanha? O delator Ricardo Saud, na
delação, fez até elogios a ele, disse que era um político promissor. Parecia
que eles o conheciam.
Geraldo
– Tem uma acusação absurda quando a gente vê
o delator falando em propina sem confirmar que aquilo seria de fato propina.
Ele mesmo reconhece que não houve trocas de favores, e naquela época era
permitido às empresas fazer doações para campanhas eleitorais. Essas doações
eram legais, registradas na contabilidade e analisadas pela Justiça
Eleitoral. O próprio depoente diz que eles (a empresa) gostaram do que
Eduardo falou para o país, se animaram com a campanha dele e o informaram que
iriam fazer uma doação de determinado valor.
Blog
– Mas houve uma aproximação?
Geraldo
– Eu acredito que não. Eu não participei
desse contato que Eduardo teve com a empresa (JBS). Eu apenas fui depois da
morte dele, com Paulo Câmara, falar da possibilidade de uma doação legal para
a campanha de Pernambuco, e o acusador disse que não faria, porque já estava
doando para a campanha de Eduardo Campos. Foi só aí que a gente tomou
conhecimento disso. Deixamos o apelo da possibilidade de uma doação legal
para Pernambuco, mas ele fez a doação para a campanha nacional. Isso está
contabilizado na campanha de Marina (Silva) e tudo foi prestado contas à
Justiça Eleitoral. Para cá não veio doação nenhuma, não houve nenhuma
contrapartida, nenhuma troca de favores. Então é um absurdo se falar em
propina. E o próprio MPF e o STF não citam o nome de Paulo nem o meu. Essa é
uma acusação que cai por terra.
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A JBS teria feito doação à campanha de Eduardo Campos em 2014, mas não à de Paulo Câmara, garante o prefeito (Foto: Reprodução) |
Blog
– Há perspectiva de tomar alguma medida contra as acusações, alguma ação
judicial?
Geraldo
– As coisas devem ser feitas cada uma a seu
tempo. A primeira coisa que fizemos quando ficamos sabendo que havia esse
tipo de acusação foi procurar informações, documentos, fazer análise da
leitura do documento, e o próprio depoimento comprova que não houve nenhum
tipo de irregularidade. A gente vai fazer o que for necessário e adequado,
inclusive juridicamente, mas no tempo certo.
Blog
– Os delatores implicaram profundamente o senador afastado Aécio Neves, que
está numa situação muito difícil. O senhor e o PSB se arrependem de ter
apoiado Aécio no segundo turno de 2014? Sabiam que havia problemas a
respeito? E isso não teria contribuído para denegrir a imagem do PSB, agora,
nessa delação contra ele?
Geraldo
– O nosso candidato em 2014 foi Eduardo
Campos. O PSB o apresentou ao país como alternativa àquela polarização entre
PT e PSDB que tanto mal fez ao Brasil e cada dia mais isso fica comprovado.
Infelizmente teve o acidente, o PSB teve a candidatura de Marina, que não foi
ao segundo turno. E na eleição do segundo turno, os partidos precisam se
colocar, não se omitir diante de uma eleição onde a população vai ter que
escolher entre dois candidatos. Era Dilma ou Aécio, e naquele momento a
maioria do PSB optou por Aécio. E o PSB já havia rompido com Dilma, que
aconteceu de maneira bastante traumática, depois de muito tempo de o PSB
mostrar que o que vinha sendo feito na economia e na política ia levar a uma
crise muito séria, ia levar a população a sofrer, mas o governo Dilma não
escutou e insistia numa condução política e econômica que a gente sempre
considerou equivocada e que trouxe um prejuízo tão grave para o Brasil, com
14 milhões de desempregados, uma crise econômica sem precedentes. Então,
Aécio era a escolha possível no segundo turno.
Blog
– Com a crise envolvendo o presidente, o senhor ainda acredita numa renúncia,
aposta na cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral ou
avalia que caminha para um processo de impeachment? Ou acha que ele consegue
superar tudo isso e ficará até 2018?
Geraldo
– O momento é de muita incerteza. Você
colocou quatro hipóteses, e acho que as quatro ainda são possíveis. A
permanência de Temer seria muito ruim para o país, porque precisamos de
estabilidade para a economia não afundar mais. Ainda acredito que a renúncia
possa vir a acontecer. Seria um ato de extrema serenidade e compromisso com o
país. Muita gente na política, muitos analistas, ainda acreditam na renúncia,
depende do desenrolar de cada dia. Isso tem mudado minuto a minuto. Até o
próprio julgamento no TSE provavelmente vai considerar as condições de
governabilidade que Temer no momento. As quatro são possíveis, mas a melhor
dela seria ainda a renúncia.
Blog
– Na hipótese que seria a mais radical, um processo de impeachment, o senhor
espera que o PSB se posicione a favor, da mesma forma como o partido fez na
época do impeachment, quando a maioria dos socialistas votou a favor do
impedimento da então presidente?
Geraldo
– O PSB até já tirou essa posição na reunião
da Executiva, no sábado (20), onde estive. Embora a direção tenha destacado
que a melhor saída seria a renúncia, já deixou clara a posição a favor do
impeachment, diante dessa situação que o país vive.
Blog
– Qual sua posição a respeito do posicionamento do ministro das Minas e
Energia, Fernando Filho (PSB), de ir contra a decisão da direção do PSB e
permanecer no governo? Pode haver expulsão?
Geraldo
– Tenho uma posição muito clara sobre isso.
Em 2016 nós decidimos não indicar nem chancelar nomes para o governo
Temer. Mesmo assim o presidente convidou FF, que é um deputado competente,
trabalhador, um quadro importante do PSB e da política de Pernambuco, que
está fazendo um bom trabalho como ministro. Então essa é uma questão que não
diz respeito ao partido, diz respeito ao governo, ao convite pessoal feito
por Temer. Então quando o PSB tomou posição, na semana passada, de defender a
renúncia do presidente e defender inclusive o impeachment, o PSB não saiu do
governo, não saiu de onde nunca esteve. Então a discussão sobre a permanência
de FF cabe a ele e ao presidente. Tanto é que na reunião da executiva não
houve essa determinação de obrigação da saída do deputado. O PSB nunca esteve
na base do governo Temer nem no governo Temer, e agora defende publicamente a
saída do presidente.
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Na avaliação do secretário-geral do PSB, permanência de Fernando Filho no Ministério é “decisão pessoal” (Foto: Marcelo Camargo/ABr) |
Blog
– E esse namoro que Fernando Filho e seu pai, o senador Fernando Bezerra
Coelho, mantém com o PSB paulista, liderado pelo vice-governador Márcio
França? Há uma divisão clara no PSB nacional quanto ao controle do partido,
entre o setor paulista e o setor pernambucano. Isso não enfraquece o lado de
cá?
Geraldo
– Na verdade, Márcio é um companheiro
importante, e não há divisão em relação à direção do partido. A divisão que
ocorreu no PSB recentemente foi entre parte da bancada que esteve apoiando o
governo Temer e outra parte que esteve na oposição. Com relação à direção, ao
Márcio França, ao nosso presidente nacional Carlos Siqueira, a Renato
Casagrande, o governador Paulo Câmara, todos seguem unidos.
Blog
– Mas Márcio França não esconde de ninguém que deseja ser governador de SP
com apoio de Geraldo Alckmin. Se Alckmin permanece no PSDB, fica difícil para
ele. Então, não há essa divisão entre os que querem a aliança com o PSDB em
SP e os que questionam isso.
Geraldo
– São duas coisas que não estão em discussão
neste momento. Primeiro, a eleição no partido, que é ainda em outubro. Está
muito longe. O Brasil está passando por esse momento aí e temos que ter foco
nisso. Segundo, a eleição de 2018. Essa está mais longe ainda. Estamos
falando de final do primeiro semestre do próximo ano começar a decidir como
vai ficar o PSB nas eleições estaduais e nacional. Márcio é um grande quadro
do partido, tem tudo para assumir o governo em SP, com a saída de Alckmin
para outra disputa, e ele é candidato à reeleição sem dúvida nenhuma.
Blog
– Isso porque Alckmin pode ser o candidato do PSB a presidente…
Geraldo
– Isso não está em discussão agora. Está muito
longe. Há uma indefinição tão grande no Brasil agora que seria impossível
projetar qualquer decisão do que vai acontecer em 2018, a gente está sem
saber o que pode acontecer amanhã, imagine daqui a um ano e meio.
*Leia
amanhã a segunda parte da entrevista
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