Procurador-geral da República discursou em reunião de Ministérios Públicos do Mercosul
POR JANAÍNA FIGUEIREDO - CORRESPONDENTE
Procurador-geral da
República, Rodrigo Janot participa de reunião de Ministérios Públicos do
Mercosul, na Argentina - Divulgação
BUENOS AIRES - Em discurso na XXI
Reunião Especializada de Ministérios Públicos do Mercosul, que está sendo
realizada nesta sexta-feira, em Buenos Aires (Argentina), o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, defendeu enfaticamente a necessidade de reforçar a
união entre os Ministérios Públicos da região, já que para ele esse é "o
único caminho para enfrentarmos esse quadro sombrio de corrupção que tomou
conta da maioria de nossos Estados".
Janot chegou à capital argentina no
começo da noite da última quinta-feira e permanecerá na cidade até a manhã
deste sábado. O procurador, que negou-se a falar com a imprensa, assinou
acordos bilaterais com sua colega argentina, Alejandra Gils Carbó, atualmente
mergulhada em verdadeira guerra com o governo do presidente Mauricio Macri, que
a acusa de demorar as investigações sobre pagamento de propina da Odebrecht (a
empresa confirmou ter desembolsado US$ 35 milhões).
"O cenário que se apresenta em
nossa região me faz refletir e confirmar essa posição, que sustento há anos.
Devemos estar vigilantes e cada vez mais ativos para que a integração entre
nossos países, entre nossos Ministérios Públicos, seja ainda mais coesa e
intensa", insistiu Janot, que veio acompanhado chefe da Secretaria de
Cooperação Jurídica Internacional do MP, Vladimir Aras.
"A cooperação jurídica deve
ser a palavra de ordem nesses foros internacionais, agora mais que nunca",
assegurou o procurador, que aproveitou o encontro para relatar a seus colegas
da região os avances da Lava-Jato e tudo o que o MP do Brasil tem feito para
colaborar com investigações envolvendo outros países. Janot lembrou do encontro
realizado em fevereiro passado, em Brasília, com dez procuradores-gerais de
países latino-americanos, e defendeu o acordo para a criação de equipes
conjuntas de investigação.
"Na investigação denominada Lava Jato e
no caso Odebrecht, em particular, a Procuradoria-Geral da República recebeu,
até o momento, 80 pedidos de cooperaçãojurídica internacional. Os crimes
praticados nessas diversas jurisdições só foram revelados graças a acordos de
colaboração premiada firmados entre o Ministério Público Federal brasileiro e
78 executivos da empresa em dezembro de 2016.
Dezesseis desses colaboradores
relataram fatos ocorridos em outros países. Sem esses acordos de colaboração
premiada e os dois acordos de leniência assinados com a Braskem e a Odebrecht,
tais delitos permaneceriam incógnitos ou com provas nunca conhecidas",
explicou Janot.
Na Argentina, o governo Macri redobrou
as pressões para que as investigações sobre o caso Odebrecht acelerem o ritmo,
argumentando que os principais suspeitos de terem recebido propina são
funcionários dos governos Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015). A Justiça
argentina enviou pedidos de informação que ainda não foram respondidos e,
paralelamente, a Casa Rosada está em plenas negociações com a empresa. O grande
problema é que o país não oferece os benefícios concedidos no Brasil a quem
aceita realizar uma delação premiada.
“Se as condições exigidas pela lei
brasileira – permitidas pelos tratados e derivadas dos princípios de direito
internacional – não puderem ser aceitas pelo Estado solicitante, por
impossibilidade legal conforme a lei desse país, o Estado brasileiro não pode,
com base em suas próprias leis, entregar as provas ao MP requerente”, disse
Janot.
O procurador fez especial menção à
situação de sua colega venezuelana, Luisa Ortega Diaz, alvo de duríssimos
ataques por parte do governo chavista desde que questionou e entrou com ações
no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) de seu país para tentar impedir
iniciativas como a realização de uma Constituinte.
"Minha preocupação agora vem dos
fatos recentes que põem em risco a autonomia do Ministério Público venezuelano.
Há poucos dias, Chefes de MPs de doze países ibero-americanos firmaram uma
declaração de apoio aos nossos colegas venezuelanos na sua luta em prol do
Estado de Direito e dos direitos fundamentais. Por isso, exorto os colegas
Procuradores-Gerais que assinaram a moção a permanecerem atentos à situação de
instabilidade que põe em risco o desenho constitucional do MP naquele país em
reflexos na atuação do MP de toda a região. Conclamo também os colegas que
ainda não firmaram a moção a fazê-lo para que mostremos coesão. O traço que nos
dá força", concluiu Janot.
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Procurador-geral da República, Rodrigo Janot participa de reunião de Ministérios Públicos do Mercosul, na Argentina - Divulgação |
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