Polícia Civil informou, nesta terça (6), que os dois respondem a
inquérito por corrupção passiva em esquema que direcionava e intensificava
fiscalizações em companhias de transporte de trabalhadores para favorecer
concorrentes.
Por
Pedro Alves, G1 PE
![]() |
Delegada Patrícia Domingos deu detalhes sobre as investigações que resultaram no indiciamento de dois funcionários públicos (Foto: Assessoria/Polícia Civil) |
O ex-comandante
do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv), da Polícia Militar, Coronel Clóvis
Pereira e o chefe de fiscalização do Departamento de Estradas de Rodagem (DER),
Laurent Licari, foram indiciados pela Polícia Civil. Segundo a corporação, eles
são suspeitos de envolvimento em um esquema de corrupção que direcionava e
intensificava fiscalizações em companhias de transporte de trabalhadores para
favorecer empresas concorrentes.
Responsável
pelo caso, a delegada Patrícia Domingues, da Delegacia de Repressão aos Crimes
Contra a Administração e aos Serviços Públicos (Decasp), explicou, nesta
terça-feira (6), que dois empresários também foram indiciados. Eles são
responsáveis pelas empresas beneficiadas pelo esquema. Domingos participou de
entrevista coletiva, na sede da Polícia Civil, no Recife.
Antes do fim
das investigações, o coronel da PM, que comandou o BPRv entre 2015 e 2016, foi
encaminhado à reserva da corporação devido à idade, mas responde a um inquérito
administrativo na Polícia Militar. O chefe de fiscalização do DER continua no
cargo, mas a polícia pediu o afastamento. A PM informou que o coronel está
aposentado e que a questão disciplinar é acompanhada pela Corregedoria.
Procurado pelo G1, o DER-PE se limitou a informar,
por meio de nota, que "está tomando as providências cabíveis, dentro da
legalidade".
Em dois meses,
este é o segundo caso de corrupção investigado pela polícia. Em abril, o ex-comandante do Centro
Integrado de Operações de Defesa Social (Ciods) de
Pernambuco foi indiciado por corrupção passiva e falsidade ideológica.
Fiscalizações direcionadas
Segundo a
Polícia Civil, a estratégia utilizada pelos acusados era intensificar as
abordagens a ônibus das empresas lesadas para gerar atrasos na chegada de
funcionários e constrangimentos por causa da escolta dos veículos. Assim, eles
faziam as empresas perder contratos de serviço, que seriam assumidos pelos
empresários envolvidos no esquema.
Algumas das
empresas alvo das fiscalizações e as envolvidas no esquema de corrupção eram
contratadas por companhias do Complexo Portuário de Suape, no Grande Recife e
faziam o transporte de trabalhadores até o porto, no Grande Recife.
Em uma das
abordagens, em Panelas, no Agreste de Pernambuco, a polícia identificou que os
próprios servidores divulgavam na imprensa as irregularidades registradas nas
empresas concorrentes, para enfraquecer a credibilidade.
As
fiscalizações ocorriam, principalmente, em Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho,
no Grande Recife, e em Sirinhaém e Panelas, no Agreste, ambas localizadas nos
caminhos entre o interior e as fábricas localizadas na Região Metropolitana do
Recife.
Denúncia
Policiais
militares e funcionários do DER denunciaram o esquema praticado pelos
superiores, iniciando a investigação da polícia, em 2015. Um montante de R$ 65
mil foi identificado pela polícia como resultante do esquema de corrupção,
apenas nas contas bancárias do Coronel Clóvis.
“Os empresários
beneficiavam os funcionários públicos para que eles prejudicassem as
concorrentes. O próprio comandante acompanhava as vistorias, o que não é comum,
para garantir que os alvos fossem apenas quem não pagava a propina. Eles
prestavam contas e mandavam relatórios a uma das empresas, falando sobre
quantidade e até fotos de ônibus abordados. As outras passavam despercebidas”,
explica a delegada.
Os servidores
públicos vão responder pelo crime de corrupção passiva e os empresários por
corrupção ativa, ambos com penas previstas de um a oito anos de reclusão.
Respostas
Defendendo o
empresário Filipe Rodrigues de Melo, gerente da empresa Asa Branca indiciado
pela Polícia Civil, o advogado Ademar Rigueira afirmou que provará a inocência
do cliente durante o processo. "Esse inquérito só favorece as empresas que
rotineiramente transgridem as leis de trânsito. O inquérito foi criado e
manipulado pelas empresas que estavam sendo constantemente autuadas em
blitz", disse por telefone.
A empresa Asa
Branca se manifestou sobre o caso por meio de nota, destacando que está
"há trinta anos no mercado, emprega aproximadamente 180 pessoas, e jamais
seu nome, ou de seus sócios, esteve envolvido em situações ilícitas". No
texto, ela também ressalta que "sempre atuou de forma regular, respeitando
a legislação vigente, seus funcionários e a sociedade".
Ainda no
documento, a empresa afirma que "as inverídicas conclusões decorrem
exclusivamente do fato de, ao longo de anos, a empresa integrar o Sindicato das
Empresas em Fretamento do Estado de Pernambuco – SINFREPE, órgão de classe que
tem como objetivo zelar pela concorrência justa entre as empresas de
transporte, objetivando reduzir ao máximo as irregularidades que possam gerar
insegurança aos usuários finais e concorrência desleal no setor".
Sobre o gerente
Filipe Rodrigues de Melo, a Asa Branca enfatiza que ele "apenas atuou no
estrito desempenho de suas funções junto ao sindicato e, desta forma,
contribuiu para a realização de denúncias aos órgãos competentes, com
solicitação de fiscalização através da realização de Blitz, que é o meio
regular, legal e eficaz no combate às falhas na regularização de veículos, o
que desagradou setores da rede de transporte coletivo e culminando em denúncias
anônimas e de origem duvidosa". A empresa finaliza a nota garantindo que
"está à disposição da justiça para esclarecimentos".
Responsável
pela defesa do chefe de fiscalização do DER, Laurent Licari, o advogado Willian
Monteiro informou que o cliente "se coloca à disposição da justiça para
esclarecimento dos fatos". Na nota, o defensor afirma também que o
indiciamento surpreendeu Licari, que "ficou surpreso porque foi ouvido no
inquérito como testemunha e vai esperar ter acesso aos autos para saber a
fundamentação legal do seu indiciamento".
Postar um comentário
Blog do Paixão