Cabeleireira gravou vídeo do momento em que brinquedo Twister quebrou, deixando 13 feridos. Prefeitura interditou espaço para inspeções.
Por Vanessa
Martins, G1 GO
Mãe
que filmou acidente no Parque Mutirama diz que viveu momento de pânico
A cabeleireira Alessandra Sousa, que esteve no
brinquedo Twister no momento em que houve o acidente no Parque Mutirama, se
emocionou ao ver novamente o vídeo que ela própria fez durante a queda , que deixou 13 feridos. Ao ouvir os
gritos de pânico e desespero gravados, ela chorou e contou o que sentia no
momento. “Pensei que minha filha ia morrer”, disse em entrevista à TV
Anhanguera.
Ao relembrar o momento do acidente, ela conta que
estava com uma amiga da filha em um assento enquanto a filha e outra colega se
sentaram no balanço da frente. “Na hora, ela [filha] desmaiou e ficou
dependurada, já que a trava dela não soltou. A minha abriu, mas eu consegui
travar de volta. A amiguinha dela escorregou por baixo e foi arremessada”,
relatou.
A cabeleireira afirma ainda que, após o acidente,
se sentiu aliviada por não ter sofrido ferimentos graves.
“Só agradecer a Deus. A gente sobreviveu mesmo.
Antes da gente entrar nesse brinquedo, ficamos 40 minutos na fila dele. Ela
[filha] queria muito e eu não queria ir, eu tenho medo. Eu vi que o brinquedo
já estava dando arrancos. Estava rodando muito rápido, já tinha percebido.
Minha filha viu ele tentando desligar a máquina, mas perdeu o controle. Quando
pensa que não, eu escutei uma peça voando em cima dele e ele abaixou[...]. A
nossa sorte é que a gente estava na parte de cima”, relatou.
O acidente ocorreu por volta de 13h30 de quarta-feira (26). O
brinquedo que apresentou problema foi fechado, mas o parque continuou
funcionando normalmente por algumas horas. No fim da tarde, o prefeito de
Goiânia, Iris Rezende (PMDB), determinou a interdição do local até que todos
os brinquedos passassem por inspeção. Na tarde desta quinta-feira, o Ministério
do Trabalho também ordenou a interdição de todos os brinquedos por tempo
indeterminado para "garantir a segurança dos trabalhadores e
usuários".
As pessoas que se machucaram foram encaminhadas
para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), Hospital de Urgências
Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) e Centro de Referência em Ortopedia
e Fisioterapia (Crof).
O Hugol havia informado que os três pacientes
internados na unidade, vítimas do acidente, já receberam alta médica. Já o Hugo
informou que três pessoas foram levadas para a unidade, sendo que duas seguem
no hospital até o início desta tarde. Segundo a unidade de saúde, uma menina de
9 anos e uma mulher de 56 anos estão internadas na Unidade de Terapia Intensiva
(UTI). Ambas têm quadro regular.
Cabeleireira
Alessandra Sousa conta sobre momento em que brinquedo Twister caiu (Foto:
Reprodução/TV Anhanguera)
Trauma
A cabeleireira pediu ainda que a Prefeitura de
Goiânia se responsabilize pelo acidente. Ela afirmou que, desde então, não
consegue dormir. “A Prefeitura tem que pagar por isso. Quero um tratamento
psicológico para mim e para minha filha, porque eu não consigo dormir, penso
que estou no brinquedo. Nós tivemos a sorte de estar aqui, tem gente em estado
grave ainda”, afirmou.
O ex-prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT),
informou à TV Anhanguera por telefone que não cometeu qualquer irregularidade
na compra ou na reforma dos equipamentos. Ele declarou ainda que a manutenção
dos equipamentos é de inteira responsabilidade da prefeitura.
Responsável pelo parque, a Agência Municipal de
Turismo, Eventos e Lazer (Agetul) reforçou nesta manhã que a manutenção estava
em dia.
"Foi uma fatalidade, a manutenção é feita
semanalmente, nos mesmos padrões que é feita há 15 anos. Com esse acidente, se
ficar comprovado que essa manutenção não é suficiente, a gente vai mudar para
que isso não ocorra novamente", garantiu o presidente da pasta, Alexandre
Magalhães.
Bombeiros
resgatam feridos em acidente com brinquedo do Parque Mutirama, em Goiânia
(Foto: Divulgação/ Corpo de Bombeiros)
Apurações
O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) apura se o
acidente com o Twister foi provocado por falta de manutenção. A
promotora Leila Maria Oliveira esclareceu que depende de laudos periciais para
determinar as responsabilidades pelo acidente. Ela destacou ainda que já existe
um inquérito que tramita desde julho de 2016 sobre a segurança no local. Por
isso, avalia, não será necessário abrir novo procedimento.
Por causa do acidente, o capitão dos bombeiros,
Patrick Nowak, explicou que será necessária uma nova inspeção nos brinquedos,
que deve ser apresentada aos bombeiros. “Como houve o acidente com o brinquedo,
esse termo de responsabilidade técnica que estava com validade é
desconsiderado. Nós interditamos o parque até a apresentação de novos
documentos falando da funcionalidade legal do brinquedo”, esclareceu.
Frequentadores
do Parque Mutirama ficaram em pânico após acidente em Goiânia (Foto:
Reprodução/TV Anhanguera)
Série de
denúncias
O Parque Mutirama já foi alvo de várias denúncias.
Em 2010, por exemplo, o MP-GO entrou com uma ação civil pública para investigar
o processo de licitação da reforma.
“Nós questionamos a licitação, o superfaturamento
porque foi pago por brinquedos usados o preço de brinquedos novos, foi
questionada a inabilitação da empresa que forneceu esses brinquedos na época”,
explicou a promotora de Justiça. Segundo ela, o processo ainda não foi julgado.
Neste ano, o MP-GO realizou a operação Multigrana contra
um esquema de desvio de verbas do Parque Mutirama e do Zoológico de Goiânia.
Segundo os promotores, a organização criminosa atuava dentro da Agetul e atuava
há pelo menos quatro gestões municipais.
Os promotores calculam que a organização desviava
cerca de R$ 60 mil por fim de semana de funcionamento, o que resultava em
aproximadamente R$ 3 milhões por ano somente no Parque Mutirama. Para a
promotora, se tanto dinheiro não tivesse sido desviado, o acidente poderia ter
sido evitado.
'Tragédia
Anunciada'
O delegado Isaías Pinheiro, titular do 1º Distrito
Policial de Goiânia, que apura o caso no Parque Mutirama, afirmou nesta
quinta-feira, em entrevista à TV Anhanguera, que vai começar a colher
depoimentos sobre o acidente. Segundo o investigador, a partir dos trabalhos
preliminares feitos por ele, o caso foi uma “tragédia anunciada”.
A delegada Paula Meotti também foi ao parque após o
acidente e afirmou que aguarda resultados da perícia que podem determinar o que
causou o acidente.
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de
Goiás (Crea-GO) informou, por meio de nota, que “seus agentes fiscais realizam,
anualmente, vistorias em parques de diversão em todo o Estado de Goiás”. O
órgão destaca que, na última vistoria do Mutirama, realizada no dia 26 de
janeiro deste ano, “foi constatada a inexistência de profissional da engenharia
responsável pela manutenção dos equipamentos eletromecânicos”.
Diante da constatação, o Crea-GO esclarece que
notificou a Agetul para que apresentasse o responsável, o que não foi feito.
Em resposta à alegação do Crea, o presidente da
Agetul disse que há um engenheiro mecânico responsável pelo parque. "Há 15
anos existe um engenheiro mecânico responsável pelo parque e, no fim do ano
passado, terminou o contrato dele. Porém, ele continua fazendo a manutenção por
meio de outro contrato com a Prefeitura, estamos em um processo para
regularizar a situação dele junto ao Crea", alegou.
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