Alimentos pararam de ser entregues devido à 'Operação Comunheiro II',
que investiga esquema de desvio de dinheiro e de fraude em licitações
envolvendo empresas fornecedoras.
Por Bruno
Fontes, TV Globo
Prefeituras
de Pernambuco se preocupam com suspensão de fornecimento de merenda a escolas
Depois da operação policial
que investiga um esquema de
desvio de dinheiro público e de fraude em licitações envolvendo
empresas fornecedoras de merenda para escolas
públicas de Pernambuco, alguns dos municípios que tinham
contrato com as empresas investigadas deixaram de receber os alimentos. Diante
disso, a preocupação de alguns gestores das escolas afetadas é de que os
estoques de alimentos esvaziem e, consequentemente, os alunos fiquem sem
comer.
Nos últimos anos, foram
feitos contratos de R$ 22 milhões com 28 prefeituras de Pernambuco e, ao todo,
foram vencidas 70 licitações ao longo de quatro anos. De acordo com o
procurador-geral do Ministério Público de Contas, Cristiano Pimentel, as
irregularidades encontradas em licitações que passaram por auditoria geraram a
suspensão das entregas.
“Nas nossas auditorias em
contratos das merendas escolares, nós observamos uma licitação na Prefeitura de
Moreno que copiava uma licitação da Prefeitura de Paulista. Nós suspendemos a
execução de contratos em Moreno e, por encontrar indícios de irregularidades,
comunicamos a Polícia Civil do estado para que ela comandasse as
investigações”, explica.
Uma das unidades municipais
de ensino que recebeu entregas de feijão, arroz, macarrão e bolachas da empresa
foi a Escola Emílio Cupertino de Almeida, na zona rural de Vitória de Santo
Antão, na Mata Sul do estado. Na unidade de ensino, onde estudam 600 alunos, os
alimentos foram entregues em julho, antes de a Justiça bloquear o contrato da
empresa com a prefeitura.
Presos
pela 'Operação Comunheiro II' foram levados ao Depatri, no Recife, em julho
(Foto: Polícia Civil de Pernambuco/Divulgação)
Feito no dia 10 de junho, o
contrato da empresa com a prefeitura de Vitória teria vigência até 31 de
dezembro de 2017, segundo o secretário de Educação do município, Jarbas
Dourado. “A gente fica no aguardo de como será a continuação da entrega desses
gêneros”, diz. Ao todo, 19 mil alunos estudam na rede municipal de ensino da
cidade.
De acordo com o assessor
jurídico da Comissão de Licitação de Vitória de Santo Antão, André Pitt, a
continuidade do fornecimento pode ocasionar problemas futuros. “Se reincidirmos
o contrato [com a empresa investigada], nós podemos sofrer uma ação judicial,
haja vista a empresa ter adquirido uma expectativa de direito”, sinaliza.
Entre as empresas
investigadas na operação, que resultou em nove pessoas presas, a ganhadora do
maior número de licitações é uma com sede no município de São Lourenço da Mata,
no Grande Recife. A reportagem da TV Globo visitou
dois colégios municipais que recebiam alimentos dessa empresa.
Na Escola Cleto Campelo, onde
estudam 1,4 mil adolescentes no ensino médio, a última entrega de carnes,
feijão, arroz, macarrão e óleo foi feita antes da operação da Polícia Civil.
Segundo a direção da escola, a quantidade no estoque é suficiente apenas para
duas semanas.
Na
Escola Menino Jesus, em São Lourenço da Mata, freezer das carnes está com o
estoque pela metade. (Foto: Reprodução/TV Globo)
Na Escola Menino Jesus, os
200 alunos têm entre quatro e seis anos de idade. O freezer das carnes está com
o estoque pela metade. Devido à investigação da Polícia Civil, a escola não
recebeu verduras e legumes que são usados no preparo da merenda. E, como a entrega
foi suspensa, a geladeira está vazia e são poucos os alimentos que sobraram no
estoque durante as férias escolares.
A nutricionista da prefeitura
de São Lourenço, Camila Pontes, está preocupada com o fornecimento da merenda
para os alunos nos próximos dias. “Algumas [escolas] estão abastecidas e ainda
levam um longo tempo. Como essa não recebeu hortifrúti, a nossa preocupação é
para ontem. Como está suspenso, elas estão precisando”, alerta.
De acordo com a secretária de
Educação do município, Carmem Ferraz, a empresa escolhida participou da
licitação dentro da legalidade. “Foi quem ofereceu o melhor preço e temos todas
as notas fiscais. Foi ela quem ganhou legalmente. A Prefeitura de São Lourenço
da Mata não tem nenhum problema com essa empresa, nós estamos sendo
penalizados”, afirma.
Geladeira
da Escola Municipal Menino Jesus, em São Lourenço, está praticamente vazia
(Foto: Reprodução/TV
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