ARARIPINA: MÃE TERRA POR: J. ALCEBÍADES

J. Alcebíades 

Publicado na Revista Região. Ed. 1978

stamos em 1928. 

O sol de agosto bate impiedosamente, cujos raios varavam a cada meio dia, verticalmente, esses ares sertanejos, sol sertanejo, terra sertaneja, homem sertanejo. 

No sertão pernambucano tudo é eternamente cálido. O sangue do homem deste rincão do Araripe vive em contínua ebulição. Aqui tudo ferve, tudo queima, tudo arde debaixo do sol. Parece que esta região foi sempre assim. 

Até aquele ano, éramos um “distrito” do grande município de Ouricuri, inclusive, ainda hoje, um dos maiores do Estado de Pernambuco, pelo menos em área. São Gonçalo (primeiro nome de Araripina) era apenas a “roça” de Ouricuri, guardadas pelas fortificações naturais da Chapada do Araripe. Ali, o Estado do Ceará, acolá, o Estado do Piauí. A Chapada servia de limites aproximados. 

Nem médico, nem juiz, nem comunicação. Só terra, só povo, só corações pulsantes pela independência. São sessenta quilômetros à sede do município. Tudo chega atrasado ou não chega nunca. A liberdade urge. Não se pode mais ir à Ouricuri no lombo do cavalo. É longe e as estradas são íngremes. Que tal tentar a liberdade? Talvez seja possível valendo a pena tentar. Quem não gosta de ser independente, resolver seus problemas, autodeterminar-se? Todos gostam. Eis o sonho de minha terra naquele ano. 

Vem setembro mais esperançoso, o povo mais ansioso, um calor muito mais forte. Agora é sede natural e sede de liberdade desta mãe terra. É necessário que se der água a quem tem sede. Nesse caso, primeiro por uma norma moral, segundo por uma norma jurídica. Já tínhamos condições de nos tornamos um MUNICÍPIO. E foi no dia 11 de setembro que o sol nasceu diferente. Ganhamos a liberdade, a independência, saindo de “distrito” para a cidade. 

Vi tudo isso de fora, pois somente nasci em 1946. 

Foram meus avôs que me contaram esse episódio.