segunda-feira, fevereiro 18, 2019

BRASIL: “FILHOS DE BOLSONARO AGEM COM PERMISSÃO DO PAI”

Cientista político comenta atuação dos filhos do presidente na política da alta cúpula do governo

Gustavo Schmitt


Carlos, Flávio, Jair e Eduardo Bolsonaro Foto: Reprodução / Flickr

Professor de ciência política no Insper, uma instituição de ensino superior em São Paulo, Fernando Schüler, um dos melhores observadores da cena política brasileira, falou a ÉPOCA num momento crucial para o governo federal, que está prestes a apresentar a sua proposta de reforma da Previdência e protagoniza uma crise política com a iminente saída de seu primeiro ministro, Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência. Com Bebianno à frente, o PSL, partido do presidente, cometeu irregularidades com as verbas do Fundo Partidário ao utilizar candidatas laranjas nas eleições de 2018. Na semana passada, Bebianno tentou negar protagonismo na crise ao dizer que estava em contato com Jair Bolsonaro, informação que foi desmentida nas redes sociais por Carlos Bolsonaro e pelo próprio presidente. Leia a seguir trechos da entrevista.
Jair Bolsonaro não deveria ser elogiado pela rápida resposta que deu ao tema da candidatura laranja ao exigir o afastamento de Bebianno?
A declaração do presidente foi, em tese, até positiva. No entanto, o timimg da tomada de decisão é muito lento. Bolsonaro poderia ter adotado uma solução à moda do ex-presidente Itamar no caso Henrique Hargreaves em 1993. Na ocasião, suspeitas de fraude no Orçamento levaram ao afastamento do então ministro da Casa Civil. O ministro, inocentado, voltou ao cargo três meses depois. É um caso emblemático na história da democratização. Ficou de exemplo de como se lida com esse tipo de problema. É claro que isso demanda liderança, lealdade, confiança mútua, diálogo franco, o que parece não ter sido o caso de Bebianno. E ainda há um agravante: a interferência do Carlos Bolsonaro e as acusações feitas nas redes sociais, o que mostra amadorismo. Permitir a interferência do filho mostra uma clara falta de franqueza na relação com o ministro. Isso deve ter acontecido por inexperiência ou porque o governo está muito no início.
Qual é a dimensão dessa crise?
Não considero a crise particularmente grave, mas ela mostra uma vulnerabilidade do governo.  Se levarmos em consideração o episódio em si, os elementos factuais, as evidências, em que pese que as denúncias tenham de ser investigadas, elas não seriam razão para uma crise dessa dimensão. A questão é que ela mostra uma vulnerabilidade e questões de estilo de governo. Houve uma demonstração de fragilidade do presidente, uma certa inexperiência, ausência de comando na relação com o subordinado no núcleo palaciano. Claramente, trata-se de uma crise que poderia ter sido resolvida rapidamente, mas se tornou um problema. E, se isso se transformar numa rotina, é muito perigoso para o governo. Uma perspectiva com um governo muito instável. Espero que esse episódio sirva de lição.

A proposta da reforma da Previdência será apresentada na quarta-feira. Essa crise pode atrapalhar a reforma?

Esse episódio tende a se resolver em uma ou duas semanas. Creio que não deve haver impacto de longo prazo na reforma. Mas atrapalha o início da tramitação, quando o governo precisa estruturar uma base no Congresso, que é muito dispersa. O Bebianno é um quadro importante pela liderança que tem entre os parlamentares. Muitos deputados que poderiam aderir à base vão pensar duas vezes. Portanto, num momento em que o governo precisa aprovar a Previdência, esse caso mostra fragilidade.
Carlos Bolsonaro tem alguma voz autônoma ou é apenas um porta-voz do pai?

Postar um comentário

Blog do Paixão

Whatsapp Button works on Mobile Device only

Start typing and press Enter to search