Cientista político comenta atuação dos filhos do presidente na política da alta cúpula do governo
Gustavo Schmitt

Carlos, Flávio, Jair e Eduardo Bolsonaro Foto: Reprodução /
Flickr
Professor de ciência política no Insper, uma instituição
de ensino superior em São Paulo, Fernando Schüler, um dos melhores observadores
da cena política brasileira, falou a ÉPOCA num momento crucial para o governo
federal, que está prestes a apresentar a sua proposta de reforma da Previdência
e protagoniza uma crise política com a iminente saída de seu primeiro ministro,
Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência. Com Bebianno à frente, o
PSL, partido do presidente, cometeu irregularidades com as verbas do Fundo
Partidário ao utilizar candidatas laranjas nas eleições de 2018. Na semana
passada, Bebianno tentou negar protagonismo na crise ao dizer que estava em
contato com Jair Bolsonaro, informação que foi desmentida nas redes sociais por
Carlos Bolsonaro e pelo próprio presidente. Leia a seguir trechos da
entrevista.
Jair Bolsonaro não deveria ser elogiado pela rápida resposta que deu ao tema da
candidatura laranja ao exigir o afastamento de Bebianno?
A declaração do presidente foi, em tese, até positiva. No entanto,
o timimg da tomada de decisão é muito lento. Bolsonaro poderia ter adotado uma
solução à moda do ex-presidente Itamar no caso Henrique Hargreaves em 1993. Na
ocasião, suspeitas de fraude no Orçamento levaram ao afastamento do então
ministro da Casa Civil. O ministro, inocentado, voltou ao cargo três meses
depois. É um caso emblemático na história da democratização. Ficou de exemplo
de como se lida com esse tipo de problema. É claro que isso demanda liderança,
lealdade, confiança mútua, diálogo franco, o que parece não ter sido o caso de
Bebianno. E ainda há um agravante: a interferência do Carlos Bolsonaro e as
acusações feitas nas redes sociais, o que mostra amadorismo. Permitir a
interferência do filho mostra uma clara falta de franqueza na relação com o
ministro. Isso deve ter acontecido por inexperiência ou porque o governo está
muito no início.
Qual é a dimensão dessa crise?
Não considero a crise particularmente grave, mas ela mostra uma vulnerabilidade
do governo. Se levarmos em consideração o episódio em si, os elementos
factuais, as evidências, em que pese que as denúncias tenham de ser
investigadas, elas não seriam razão para uma crise dessa dimensão. A questão é
que ela mostra uma vulnerabilidade e questões de estilo de governo. Houve uma
demonstração de fragilidade do presidente, uma certa inexperiência, ausência de
comando na relação com o subordinado no núcleo palaciano. Claramente, trata-se
de uma crise que poderia ter sido resolvida rapidamente, mas se tornou um
problema. E, se isso se transformar numa rotina, é muito perigoso para o
governo. Uma perspectiva com um governo muito instável. Espero que esse
episódio sirva de lição.
Esse episódio tende a se resolver em uma ou duas semanas. Creio
que não deve haver impacto de longo prazo na reforma. Mas atrapalha o início da
tramitação, quando o governo precisa estruturar uma base no Congresso, que é
muito dispersa. O Bebianno é um quadro importante pela liderança que tem entre
os parlamentares. Muitos deputados que poderiam aderir à base vão pensar duas vezes.
Portanto, num momento em que o governo precisa aprovar a Previdência, esse caso
mostra fragilidade.
Carlos
Bolsonaro tem alguma voz autônoma ou é apenas um porta-voz do pai?
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