sábado, maio 11, 2019

HISTÓRIA DE ARARIPINA: O ENSINO, A EVOLUÇÃO E A ESCOLA DE PRISCO


1950. O Prefeito Manoel Ramos de Barros preside uma solenidade  no Grupo Escolar Padre Luiz Gonzag, ladeado pelas professoras Raimunda Reis de Alencar (E) e Antonieta Arnaldo Jacó (D).
ma viagem detalhada do autor do Livro – Araripina, História, Fatos & Reminiscências, pelas primeiras instituições de ensino instaladas no Município, os educadores, as histórias, os grandes colaboradores para os avanços que aconteceram e ainda colhemos os frutos dessas lutas incansáveis e incessantes para implantação de escolas, faculdades, que revolucionam a educação da nossa terrinha querida. Não alteramos nada do texto original e convidamos você a fazer uma volta sensacional as grandes mudanças que elevaram e elevam Araripina ao topo dos municípios que investem nesse bem tão precioso chamado EDUCAÇÃO e a transformou em um Polo Educacional.

(O Editor)

EVOLUÇÃO - Até o fim do primeiro quartel do século, não havia ensino público em São Gonçalo. As autoridades de Ouricuri não davam importância a esse setor, na Vila São Gonçalo. Aprendia-se a ler, escrever e contar com os professores particulares, que ensinavam nas casas, nos sítios, ou em escolas que montavam na Vila, como é o caso do Professor José Augusto, que manteve por algum tempo uma escola, na atual Rua Joaquim Alexandre Arraes. O Professor Antônio Loyola de Alencar era o peregrino da educação. De casa em casa, de sítio em sítio, paletó, chapéu, sapato, óculos, a bengala e, debaixo do braço, a Carta de ABC, a Cartilha, o Livro de Felisberto de Carvalho, a Taboada e o Livro de Aritmética. Ensinou as primeiras letras a muita gente; os professores Natinho Granja e Livino Cordeiro. São esses os pioneiros do ensino em São Gonçalo. 

Em 1926, veio para São Gonçalo, procedente de Santana do Cariri – CE, o
Sr. Manoel Alexandre, cuja filha Gualterina Alexandre foi nomeada professora municipal, sendo ajudada por sua irmã, Neli Alexandre. Dona Rosalina Henriqueta da Rocha Falcão foi a primeira professora estadual de São Gonçalo. 


O desenvolvimento do ensino em São Gonçalo somente veio ter início, em 1932, com a nomeação de seu primeiro professor municipal, Sebastião Marinho Muniz Falcão, que contava, na época, 17 anos de idade. Muniz Falcão chegou a ser Governador de Alagoas. Depois dele, vieram Antônia Cordeiro da Rocha e Horácio de Barros Muniz, em 1933. 


07.09.40. As escolas de são Gonçalo, reunidas em frente à Prefeitura, antes do desfile de 7 de setembro. 


A Prof. Antonieta Jacó (ao centro) e os seus alunos, em frente ao prédio onde funcionava a Escola, na atual Henrique Alves Batista. O Autor, indicado pelo Círculo. 1944.

Chico Cícero quando prefeito criou o sistema de ensino subvencionado. A Prefeitura dava a subvenção (Subvenção é um auxílio pecuniário, em geral concedido pelo poder público) às escolas particulares, que funcionavam nos sítios e na Cidade. Em 1938, foi criada a Escola Mista “13 de maio”, sendo nomeada para regê-la a professora Antonieta Arnaldo (de Albuquerque) Jacó

Nessa época, já ensinavam em São Gonçalo as professoras d. Isaura. d. Piedade, d. Maria da Paz, d. Albertina, d. Ester, d. Lina Uchoa, d. Maria Andrade e d. Maria José Valadares (que foi a minha primeira professora). Em 1940, d. Ana de Souza Bandeira foi nomeada para reger a 1ª. Cadeira da Escola Municipal. Como professores estaduais, lecionavam d. Cândida Pereira da Rocha e d. Raimunda da Costa Reis. D. Cândida foi substituída por d. Zita Gizelda Santiago, em 1944. 

O Dr. Araújo, médico recém-chegado a São Gonçalo, justamente com o professor Manoel Bonifácio da Costa, que se dedicava ao ensino, fundou em 1938, o Instituto Educativo São Gonçalo, que, por muitos anos, prestou relevantes serviços no setor educacional do Município. 

O ensino público expandia-se e novas professoras municipais eram nomeadas para as cadeiras que se iam criando. D. Maria Cordeiro e Socorro Vital por pouco tempo prestaram serviços à comunidade, na área do ensino. Já nos últimos anos da administração de Dr. Araújo, na Prefeitura. O setor educacional estava praticamente consolidado. Outras escolas estaduais foram criadas e com elas a nomeação de mais professoras: d. Helena Amorim, d. Helenita Bezerra, d. Geruzalina, d. Secundina. Não havia prédio público para as escolas. Funcionavam na sala da frente da casa da professora ou então em salões alugados por elas. Os alunos levavam de casa a banca e a cadeira ou tamburete. A lousa e o giz ficavam por conta da professora. Era o material didático disponível. 

Na administração de Seu Né (1947/1951), foi criado o Grupo Escolar Pe. Luiz Gonzaga, cujo prédio foi inaugurado em 21 de junho de 1950 (e demolido para a construção do BANDEPE, no Governo José Ramos). Ali, lecionavam as professoras estaduais, nas 4 salas e em dois turnos, manhã e tarde. Silvana, Elizabete Antão, Dulce Lacerda, Gilda Modesto. 

O prefeito Luiz Gonzaga Duarte construiu um prédio, para nele instalar o primeiro estabelecimento de ensino secundário do Município, o Ginásio São Gonçalo, que somente veio a ser criado em 1956, pela Lei Municipal n.º 397, de 19 de novembro, na administração do prefeito Joaquim Pereira Lima. Foi seu primeiro diretor o Pe. Gonçalo Pereira Lima e a primeira secretária a professora Elizabete Antão de Souza. Depois de rigorosa inspeção pelo Dr. João Suassuna de Melo Sobrinho, Inspetor Federal do Ensino em Pernambuco e pelo prof. Arlindo Costa Albuquerque da Secretaria de Educação do Estado, foi autorizado a entrar em funcionamento. O exame de admissão realizou-se nos dias 16, 17 e 18 de março de 1957, habilitando 69 candidatos ao 1.º ano ginasial, dos 80 inscritos no concurso. 

Em 16 de março de 1952, o prof, Francisco Napoleão Moreira fundava em Araripina o Educandário São Gonçalo, modelar estabelecimento de ensino primário, que ficou conhecido pela eficiência e disciplina e no ensino. Tinha a orientação do prof. José Farias e de sua esposa, d. Ceci Moreira, mestres de reconhecidas qualidades. 
O Bispo Diocesano D. Antônio Campelo de Aragão, fundou a Escola Normal Dom Malan, em 04 de janeiro de 1960, para formação de professoras, funcionando em prédio próprio, sob a direção de Pe. Gonçalo Pereira Lima, vindo acrescer esforços ao desenvolvimento da educação em Araripina. 
Em 1965, o prof. Vicente Alexandre Alves, um incansável batalhador pelas nobres causas da sua terra, com recursos próprios, fundou o Colégio Paulo VI, para o ensino do 1.º e 2.º graus, funcionando com 3 cursos: ginásio, científico e técnico de contabilidade. Em 1970, foi feito o convênio com o Estado, para a implantação do Colégio Estadual, sob a direção do Mons. Gonçalo Pereira Lima. Ao término do convênio, o Colégio Paulo VI continuou suas atividades, mas, agora só com o curso técnico de contabilidade e sob a direção do prof. Vicente. 
A Escola Independente com estrutura para o ensino do 1.º e 2.º graus, foi criada em 11 de setembro de 1971 e ficou sob a direção da profa. Dulce Lacerda. 

Ainda sob a inspiração do prof. Vicente com a colaboração de uma equipe apoiada por Sebastião Batista Modesto, prefeito, e formada por madre Íria Maciel Pereira, Maria Muniz Ramos, Vicente Jurandir Timóteo, Elody Gomes, Maria de Jesus Alves, Dr. Climério Batista, criou-se, em 21 de setembro de 1974, a Faculdade de Formação de Professores de Araripina, instituição de ensino superior, que, além de formar professores para o ensino do primeiro grau, propicia cursos de aperfeiçoamento e de especialização de professores, contribuindo para o processo cultural do Município e da Região. É uma instituição pioneira na interiorização do ensino superior, em Pernambuco. A FAFOPA foi criada pela Lei Municipal n.º 1.368, de 28 de abril de 1975. Foi autorizada a funcionar pela resolução n.º 3, de 20 de janeiro de 1977, do Conselho de Educação de Pernambuco e homologada pela Portaria n.º 217, de 1º de fevereiro de 1977. Mantém os cursos de Letras, Estudos Sociais e Ciências, com 60 vagas para cada um. Funciona em prédio próprio e é dotada de um bem equipado laboratório de Ciências Físicas e Biológicas. 

Em 1977, 12 de abril, foi inaugurado o Centro de Educação Rural Luiz Gonzaga Duarte, que tem por objetivo ministrar a educação de 1.º e 2.º graus, oferecendo apoio socioeconômico ao desenvolvimento da zona rural do Município. 

No Governo José Ramos, foi instalada em Araripina a Sede do Departamento Regional de Educação – DERE, do Sertão do Araripe (Hoje GRE SERTÃO DO ARARIPE). Funcionando em prédio próprio, compreendendo, além do Município Sede, os de Ouricuri, Trindade, Ipubi, Bodocó, Exu, Granito e Sítios dos Moreiras

Numa área de mais de 6 hectares, o prof. Vicente Alexandre está concluindo uma monumental obra, que se destina a instalação de uma futura universidade. Já tem concluídos três conjuntos, onde funcionará a Faculdade de Agronomia. 

É esse um panorama geral do ensino em Araripina, no passado e no presente. Araripina é hoje um polo cultural da Região, recebendo jovens de vários municípios vizinhos e, sobretudo, do Estado do Piauí, formando uma comunidade escolar de vários milhares de alunos de todos os níveis do ensino. 


1946. Primeiro plano da E para a D: Prisco Arraes, Zé Arnaud, Jaime Neri, Nascimento (coletor) e Bigas; Segundo Plano, no mesmo sentido: Lourival, Abdon, Oscar Ferreira Costa, Pedro Barreto (Orimedon) e Toinho Alencar.

ESCOLA DE PRISCO - O ensino em Araripina, sempre foi levado a sério. As autoridades sempre se preocuparam com esse aspecto da administração pública e a comunidade exigia melhores condições para a formação dos jovens. Os pais que nunca tiveram a oportunidade de frequentar escolas sentiam a necessidade de oferecer aos filhos a instrução, única herança que nunca se acaba, como dizia a minha mãe. Faziam todos os sacrifícios para botar os filhos na escola. Quanto mais escola, melhor. 

Prisco Arraes, alto, louro, olhos azuis, tipo norte-europeu legítimo, foi o único filho do Major Quincó que chegou a cursar ginasial, no Crato. Contava-se que queria ser aviador e seu pai queria que fosse médico. Deixou os estudos. Casou-se ainda jovem e, como sua mulher, d. Antonieta, montou uma escola particular, para o ensino das primeiras letras, até as difíceis lições de Geografia FTD e dos intricados problemas da regra de três e das contas de tarefas. A escola era mista e ganhou fama pelo rigor da disciplina e da eficiência do ensino. Fiscalizava os alunos até fora da Escola. Mandava saber do pai ou da mãe o que fulano estava fazendo na rua, a tal hora, em tal lugar. Se não fosse a serviço de casa, algum mandado, alguma compra, no outro dia, o bolo comia. O aluno que errasse na sabatina levava bolo do colega acertador e este, se desse o bolo “devagar”, Prisco lhe ensinava a dar bolo. E já sabia como era. O regime era de terror, mas os pais faziam questão de mandar os filhos para a Escola de Prisco. A disciplina pela palmatória não distinguia meninos e meninas. 

De certa feita, alguém dedurou que Zé de Joel (meu irmão) havia fumado, antes de vir para a Escola. Ao iniciar a aula, Prisco chamou à sua mesa todos os meninos, fez uma grande roda e começou a investigação pela procura de cigarros, nos bolsos das calças. Nada! Com Zé encontrou uma caixa de fósforo – Quem tem fósforo, tem cigarro, animou-se prisco. Nada! Foi pelo bafo. Também nada! Fulo de raiva pela frustração, Prisco resolveu disciplinar os alunos com quatro bolos em cada um. O nego começava a chorar, antes de apanhar. Ao terminar a rodada, Joãozinho de Seu Né bolava pelo chão, com as mãos entre as pernas e num grito fino, chorava e rezava: - iiiii... minha nossa senhorinha do ceuzinho! Eu, por minha vez, confesso, estava todo urinado. 

De outra vez, Hélio de Leopoldo e Miguel Pereira, numa brincadeira, furaram a cabeça de Toinho de Zé Jacó. Prisco aplicou seis bolos em Miguel e ao dar o terceiro bolo em Hélio, a raiva era tanta que a palmatória se partiu. Não se perturbou. Foi a mestre Carlos, mandou fazer outra palmatória de massaranduba (ou maçaranduba) e voltou para concluir o trabalho. Hélio não botou uma lágrima. – Eita nego do gênio ruim, disse Prisco, vermelho como um camarão. 

Mário Alencar, depois que saiu da Escola, foi até a bodega de Prisco e pediu quinhentos réis de cigarro Emira. – Pra quem é esse cigarro? Indagou Prisco. – É pra mim, respondeu Mário. Prisco, bufando de raiva, despachou o cigarro. Mário lavou o peito. 

Hoje, todos somos reconhecidos a Prisco. Na sua escola aprendemos também o caminho da vida e do sucesso. Muito obrigado, Prisco!


NOTA
(1) – Referidas pelo Professor Vicente Alexandre Alves. In Região, n.º 15, ano VIII (Revista) – 25.12.79 

(2) - Nos anos de 1951 e 1953, circulou um jornalzinho A VOZ DO ARARIPE – Órgão Oficial dos alunos do Grupo Escolar Pe. Luiz Gonzaga. Escrito a mão, em papel ofício duplo. A matéria publicada tem o sabor da infância. Adiante, dois exemplares em cópia xerox. 

(3) - Professor Vicente Alexandre Alves, na Revista referida na nota 1.





A Voz do Sertão - Jornalzinho Criado pelos alunos do Grupo Escolar Padre Luiz Gonzaga. O jornalzinho era escrito à mão, em papel ofício duplo.


Fragmentos do Livro – Araripina – História, Fatos & Reminiscências 

De Francisco Muniz Arraes

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