Grupo de jovens em trajes de carnaval. Em primeiro plano, da Esquerda para a Direita: Socorro Alencar, Neusa Arraes, Terezinha Campos, Audenir Alencar e Giomar Arraes; no segundo plano e no mesmo sentido: Francesinha Arraes, Leopoldina Alencar, Diva Araújo e Aurea Alencar. 1945.
Naquele tempo já se propagava a cultura na nossa querida terra e ensaiavam os primeiros passos para disseminação do teatro e os armazéns da cidade com estrutura modesta serviam como cenário para os espetáculos daqueles amadores sedentos por arte. E de repente aparece um tal Raimundo Araújo, irmão do então prefeito José Araújo, e traz a folia carnavalesca para a cidade, introduzindo uma cultura que depois virou moda, mas com o passar do tempo perdeu a alegria e a festa tornou-se um movimento privado e reservado.

As encenações do espetáculo eram feitas no salão de um dos grandes armazéns da cidade. O palco era armado em tábuas sobrepostas em caixotes de madeira ou tambores de gasolina. Lençóis de cama, cobertores, toalhas de mesa compunham o cenário e serviam de cortinas. Os móveis do palco, adequado a cada um dos três atos. Muito sóbria a decoração. Uma ‘petromax” resolvia o problema da iluminação do palco e do salão. Cada espectador levava sua cadeira e procurava chegar mas cedo, para conseguir melhor colocação. Ou pagava a entrada e um menino para tomar conta da cadeira, até que começasse o drama.
Antônio Mãozinho anunciava pelos alto-falantes fanhosos da amplificadora “A Voz de Araripina”: - Atenção muita atenção! Será levado nos dias 5,6 e 7 de dezembro, às 20 horas, o grandioso e comovente drama “O Príncipe das Águas Verdes e a sua Amada Dorotéia”. Não percam! Nem era preciso anunciar o local. Todos sabiam de antemão que era no Instituto, no armazém de Afonso Modesto, no de Joaquim Modesto, no de Seu Kelé, ou no Salão da Cooperativa.
Às vezes, os atores confundiam a representação com a vida real. Chegou a acontecer tentativa de suicídio, porque a atriz recusou continuar fora do palco o amor que ali dedicara ao seu contracenante. Desgostoso, o ator foi embora e nunca mais voltou ao palco de Araripina.
Era a arte dramática presente em Araripina, na década de 40.
O CARNAVAL
Raimundo Araújo chegou a Araripina no ano de 1940. Cearense de Brejo Santo e irmão do Dr. Araújo, então prefeito da Cidade. Extrovertido e brincalhão, logo se entrosou na turma da cidade, ganhando fama de um rapaz muito animado. Em 1941, foi nomeado 2.º Substituto de Juiz Preparador da Comarca. Exerceu também o cargo de instrutor de ensino. Era um divertido pregoeiro dos leilões que se realizavam por ocasião das festas religiosas e incentivador de festas, promovendo e organizando bailes e assustados.
Numa Semana Santa inventou de fazer a brincadeira do Judas. Espetou um boneco de pano num pau, fincado no meio da rua. Antes da malhação, leu o “testemunho”. Os legados do Judas eram destinados a pessoas citadas nominalmente. A brincadeira trouxe complicações para os promotores, não se repetindo no ano seguinte.
Era Raimundo Araújo quem comandava o desfile das Escolas, no 7 de Setembro. Ensaiava vários dias com a meninada. – Sentido! Cobrir! Descansar! Direita, volver! Esquerda, volver! Ordinário, marche!, eram os seus comandos, com toda a caxiagem trazida do quartel, de onde recentemente fora licenciado, em pleno período de guerra. Lá se ia o desfile, ritmado por um tambor, enfrentando a buraqueira das ruas. Com gestos poucos delicados, enquadrava os mais desajeitados. Eu tinha uma raiva danada de Raimundo Araújo.
Foi ele quem inventou o carnaval em Araripina. Por isso, Pe. Luiz não o via com bons olhos. Num sábado de Zé Pereira, convocou uma turma de rapazes e moças e saíram em folia pela cidade, cantando e bebendo, jogando talco nas pessoas, entrando de casa em casa. A brincadeira pegou. Nos anos seguintes o cordão foi engrossando. Não faltava o lança-perfume e o mela-mela. Ninguém se aborrecia e, quando se davam por conta, estavam velhos e velhas pulando na folia. Alguns foliões escandalizavam as pessoas com os seus penicos cheios de cervejas, onde boiavam pedaços de salsicha.
Fragmento do Livro - Araripina: História, Fatos & Reminiscências de Francisco Muniz Arraes
Postar um comentário
Blog do Paixão