Votação sobre acusação de abuso de poder termina com maioria de 230 votos a favor e 197 contra; presidente será agora julgado pelo Senado
Por Denise
Chrispim Marin

O
presidente dos EUA, Donald Trump: permanência no poder durante seu julgamento
pelo Senado - 13/11/2019 Mark Wilson/Getty Images
A Câmara
dos Deputados dos Estados Unidos aprovou
o impeachment do
presidente Donald Trump por abuso de
poder com 230 votos a favor e 197 contra, depois de sete horas de debates
no plenário. Trump torna-se, com isso, o terceiro líder americano a ser a
julgado pelo Senado, a próxima etapa desse processo. Os anteriores foram Andrew
Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1998. Richard Nixon renunciou em 1974
antes da votação.
Uma
segunda votação deu-se em seguida, referente à acusação de obstrução dos
trabalhos de investigação do Congresso, e terminou com 229 votos a favor e 198
contra, com 3 abstenções e uma ausência.
Candidato
à reeleição pelo Partido Republicano em 2020, Trump é acusado pela Câmara dos
crimes de abuso de poder e de obstrução dos trabalhos do Congresso. O primeiro
tem como base as pressões dele sobre o presidente da Ucrânia,
Vladimir Zelensky, para investigar a presença do filho de seu potencial
adversário eleitoral, Joe Biden, no conselho de uma empresa envolvida em corrupção.
O segundo se refere ao veto de Trump ao depoimento de seus colaboradores no
inquérito em andamento.
Em
um documento de 658 páginas que oficializou o processo de impeachment, o Comitê
Judiciário da Câmara concluiu que o presidente “traiu a nação
ao abusar das funções de seu posto”. O caso será encaminhado por representantes
da Câmara ainda nesta semana para o Senado, onde será julgado sob o comando do
presidente da Corte Suprema, John Roberts. Trump, porém, continuará a exercer a
Presidência dos Estados Unidos enquanto o julgamento não for concluído no
Senado, que tenderá a inocentá-lo.
Jesus diante de Pilatos
Ao longo
de mais de seis horas de debates na Câmara, os deputados republicanos
insistiram em desqualificar e alongar o processo. “A América está sendo ferida
gravemente por esta traição, por este impeachment injusto e armado que trouxe
sobre nós os mesmos socialistas que ameaçam a vida de fetos, os direitos dos
conservadores previstos pela Primeira Emenda [da Constituição]”, exagerou o
deputado Clay Higgins, da Louisiana. “É um flagrante abuso de poder e um
vergonhoso processo travestido de justiça que vai prejudicar a reputação de
todos os responsáveis por gerações”, reclamou Tom McClintock, da Califórnia.
O
republicano Barry Loudermilk foi ainda mais longe ao alegar que, diante de
Pôncio Pilatos, Jesus Cristo teve mais direito do que os conferidos pelos
democratas a Trump no processo de impeachment. “Antes de você dar esse
histórico voto hoje, uma semana antes do Natal, quero que tenha isso em mente:
Quando Jesus foi acusado falsamente de traição, Pôncio Pilatos deu a Jesus a
oportunidade de enfrentar seus acusadores.”
Os
democratas, porém, sustentaram a coerência das acusações, amparadas em provas
materiais e testemunhos. “Donald Trump usou o enorme poder da Presidência para
pressionar uma nação estrangeira a manchar [a reputação] de seu potencial
opositor político”, disse o deputado Steve Cohen, do Tennessee. Mas foi a
presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi,
a responsável por conduzir o processo, quem abriu a “triste” sessão”.
“A visão
dos nossos fundadores sobre uma república está sob ameaça de ações da Casa
Branca. Se não agirmos agora, nós estaremos abandonando o nosso dever. É
trágico que as ações imprudentes do presidente tornem o impeachment necessário.
Ele não nos deixou escolha”, declarou Pelosi, que abriu o processo formal de
impeachment há dois meses.
Enquanto
a sessão transcorria, auxiliares da Casa Branca distribuíram nos gabinetes dos
deputados um cartão de Natal enviado por Trump e uma cópia de sua carta a
Pelosi, entregue na véspera da votação, segundo o jornal The New York Times. Na missiva, o presidente americano
desfiou impropérios contra sua rival democrata e o processo de impeachment.
“Isto não
é nada além de uma tentativa de golpe partidária e ilegal que, com base em
recente sentimento, irá fracassar durante a votação. A história vai julgar você
duramente se prosseguir nesta charada do impeachment”, escreveu Trump.
Blog do Paixão