Foram 147
mortes de quarta a domingo contra 124 no ato de oito anos atrás, que durou sete
dias. Batalhões da PM continuam fechados no 8º dia de paralisação.
Por G1 CE
Em 2012 e 2020, policiais retiraram carros da PM dos batalhões e
esvaziaram pneus para impedir atuação da categoria — Foto: Arquivo SVM/Fabiane
de Paula/SVM
Durante o motim dos policiais
militares no Ceará de 2020, houve 18,5% mais assassinatos no estado do que na
paralisação de PMs de 2012. Foram 147 neste ano contra 124 oito anos atrás,
segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS).
O motim entrou nesta terça-feira
(25) no oitavo dia. Três batalhões da PM continuam fechados no estado. O
movimento de 2012 durou durou sete dias, um a menos, e se deu entre 29 de
dezembro de 2011 e 4 de janeiro de 2012.
Os 147 homicídios neste ano
ocorreram em cinco dias, de meia-noite de quarta-feira (19) às 23h59 de domingo
(23). Os 124, de 0h de 29 de dezembro de 2011 até as 23h59 de 4 de janeiro de
2012.
As duas manifestações foram
consideradas ilegais pela Justiça do Ceará, são proibidas pela Constituição
Federal e reforçada pelo Supremo Tribunal Federal, em entendimento de 2017.
Ainda assim, policiais cruzaram os braços e deixaram de cumprir as atividades
de segurança pública.
Para o pesquisador do Laboratório
de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC) Ricardo
Moura, o motim realizado neste ano é, pelo menos em parte, consequência de uma
crise "mal resolvida" em 2012.
O então governador do Ceará, Cid
Gomes, prometeu naquele ano anistia aos militares que atuavam na paralisação. A
anistia foi cumprida, mas Cid fez a transferência de vários policiais para
cidades distantes do interior do Ceará, o que foi considerado como punição por
parte da categoria.
"Desde então as relações entre policiais e o Governo do Estado sempre foram tensas e agora [Camilo Santana, governador do Ceará] lida com uma categoria que quer conseguir as reivindicações na marra", diz o pesquisador.
Atos de paralisação da PM no
Ceará


Mais
reforço, mais homicídios
Desde que o motim recebeu maior
volume de adeptos, na quarta-feira (19), o governador Camilo Santana solicitou
apoio de tropas federais. O estado conta atualmente com 2,5 mil soldados do
Exército, 150 agentes da Força Nacional, 212 policiais rodoviários federais que
foram deslocados de outros estados além de agentes da própria polícia militar
cearense que não aderiram à paralisação.
Em 2012, com a falta de
patrulhamento nas ruas, a crise chegou ao auge em 3 de janeiro, quando o
comércio de todas as cidades parou, eventos foram cancelados e as ruas ficaram
vazias. Naquela ocasião, o dia 1º de janeiro contabilizou 41 assassinatos, até
hoje, considerado o dia com maior número de homicídios em toda a série
histórica no estado.
Neste ano, na sexta (21) e sábado
(22), foram 37 e 34 homicídios, respectivamente.
O único momento em que
comerciantes baixaram os portões ocorreu na quarta-feira (19) em Sobral,
quando homens encapuzados em
carros da polícia ordenaram que as portas fossem fechadas.
O comércio reabriu no mesmo dia, após intervenção da Polícia Civil e Guarda
Municipal.

Número de mortes durante motim da PM chega a 147 no Ceará. — Foto:
Arte/G1
Batalhões
ocupados e carros parados
Nos dois atos, em 2012 e 2020, os
policiais amotinados usam uma estratégia similar para impedir o trabalho dos
demais agentes de segurança: eles ocuparam batalhões da PM, retiraram os
veículos oficiais e os deixaram em frente ao quartel com pneus esvaziados. Os
veículos sem mobilidade fecharam a rua e impediram o acesso ao batalhão com uso
de automóvel.

Homens encapuzados furam pneus de carros da polícia em Fortaleza — Foto:
José Leomar/SVM
Na sexta-feira (21), 10 batalhões
estiveram ocupados; no domingo o número caiu para três.
Familiares de policiais também
participam dos atos. Conforme denúncia da Controladoria Geral de Disciplina
(CGD), lideranças da Associação das Esposas de Militares, "convocaram os
policiais e familiares para se fazerem presentes no 18º BPM [Batalhão da
Polícia Militar] com o objetivo de obstruir o serviço e iniciar o movimento de
paralisação" dos policiais.
Lideranças

Senador licenciado Cid Gomes (PDT/CE) é levado para carro após ser
baleado durante protesto de policial em Fortaleza — Foto: Reprodução
Outra semelhança entre os atos de
2012 e 2020 são os líderes do lado do governo e dos policiais amotinados.
Contra o ato dos militares, estão Cid e Ciro Gomes, aliados políticos do
governador Camilo Santana. De outro, o ex-deputado Cabo Sabino e o deputado
federal Capitão Wagner.
"Cabo Sabino [aparece em
vídeo] se apresentando como liderança do atual movimento paredista, relembrando
'sua trajetória à frente da Associação dos Cabos e Soldados do Estado do Ceará,
onde pode liderar ao lado do atual Deputado Federal Capitão Wagner, o movimento
paredista de 2011/2012'", diz um trecho do Diário Oficial que determina
o afastamento de Sabino do
cargo policial. Ao todo, até esta segunda-feira, 230 policiais haviam sido
afastados e outros 36 presos por deserção ou
por incentivo à paralisação nas redes sociais.
Em entrevista ao G1, Capitão Wagner afirmou que defende aumento salarial
dos policiais, mas sem realização de "atos extremos". "Se houve
algum ato extremo, se algum policial causou vandalismo, não tem o nosso
apoio", diz Wagner.
O G1 tentou
contato com Sabino durante a tarde e noite de domingo, mas as ligações não
foram atendidas.
No auge da crise que ocorre neste
ano, Cid Gomes foi baleado por
homens mascarados quando tentava invadir com uma
retroescavadeira um quartel da Polícia Militar em Sobral. Ele recebeu alta hospitalar no
domingo.
Resumo:
1. 5 de dezembro: policiais e bombeiros
militares organizaram um ato reivindicando melhoria salarial. Por lei, policiais militares são proibidos de fazer greve.
3. 6 de fevereiro: data em que a proposta seria levada à
Assembleia Legislativa do estado, policiais e bombeiros
promoveram uma manifestação pedindo aumento superior ao sugerido.
4. 13 de fevereiro: o governo elevou a proposta
de reajuste e anunciou acordo com os agentes de segurança.
Um grupo dissidente, no entanto, ficou insatisfeito com o pacote oferecido.
5. 14 de fevereiro: o Ministério Público do
Ceará (MPCE) recomendou ao comando da Polícia Militar do Ceará
que impedisse agentes de promover manifestações.
6. 17 de fevereiro: a Justiça manteve a decisão
sobre possibilidade de prisão de policiais em caso de
manifestações.
7. 18 de fevereiro: três policiais foram
presos em Fortaleza por cercar um veículo da PM e esvaziar
os pneus. À noite, homens murcharam pneus de veículos de um batalhão na Região
Metropolitana.
8. 19 de fevereiro: batalhões da Polícia
Militar do Ceará foram atacados. O senador Cid Gomes foi baleado em
um protesto de policiais amotinados.
9. 20 de fevereiro: policiais recusaram
encerrar o motim após ouvirem as condições propostas pelo
Governo do Ceará para chegar a um acordo.
11.
22 fevereiro: Ceará soma 88 homicídios desde o
início do motim. Antes do movimento dos policiais, a média era
de seis assassinatos por dia. O Exército anunciou um
reforço na segurança.
Blog do Paixão