Por Magno Martins
Voltar de Salvador e Fortaleza, cidades que prezam hoje pela limpeza urbana e políticas de mobilidade, e adentrar numa Recife travada e mal cheirosa, é carimbar o passaporte do inferno, da infelicidade.
Andar pelas ruas da cidade então orgulho de Maurício de Nassau, batizada de Veneza Brasileira, sobretudo no centro e na periferia, choca, dói profundamente na alma e no espírito da pernambucanidade.
Até os chamados bairros “nobres” estão condenados à política do desprezo e do abandono. O lixo toma conta. Moradores de rua, jogados ao chão como animais malditos, viraram cenas cruéis de um filme de terror escancarado a nossa frente sem necessidade de projetor.
Tristeza profunda, vergonha na alma. Bem diferente do que vi com os meus olhos em Salvador e Fortaleza. É possível, sim, ter um bom sistema de limpeza e encontrar acolhida para quem não tem um teto.
Eu moro na Rua do Futuro e a realidade presente são pessoas dormindo ao relento, no meio da sujeira. A cidade fede em muitas partes e os cidadãos vivem aflitos por tanto descaso e insegurança.
Em algumas partes, a paciência da população do Recife já está se esgotando, como recentemente na Estrada dos Remédios no Bairro dos Afogados.
Ali, a comunidade do Caranguejo se revoltou pela falta de cuidado da Prefeitura e do Governo do Estado. Interditou a Estrada dos Remédios, ateou fogo em pneus velhos e entulhos que estavam nas ruas. Lá, como em muitos lugares, falta água e sobra lixo. O descaso é chocante.

E quando chove são desastres anunciados. Tem sido notícia nacional. O jornal O Globo noticiou o registro de 20 mortes entre junho e julho de 2019, por causa de afogamentos e de deslizamentos de barreiras.
A Prefeitura do Recife e o Governo do Estado ficam anunciando boas intenções, enquanto a população padece. Os canais e as galerias seguem entupidas de lixo. Basta percorrer o Canal do Arruda para sentir a irresponsabilidade dos nossos chamados “governantes”.
Em muitos bairros, como Tejipió e Torrões, por exemplo, a água falta e quando chega é escura, muitas vezes preta de sujeira. É tão imprestável que não dá nem para lavar roupa ou mesmo o chão, pois deixa manchas. É mais que uma vergonha, um crime contra a saúde pública.
Até Boa Viagem, bairro mais rico da cidade, se encontra em crescente abandono. Os quiosques e os bancos de concreto quebrados, sem cuidado algum. Os banheiros públicos sem funcionar adequadamente. Além da extrema insegurança em praticamente os 8 quilômetros da orla.
O Recife Antigo e o seu entorno estão em estado de lástima. Os bares fechando. Só cresce a pobreza, a sujeira e o abandono. Não dá nem para imaginar o que se passa nos bairros mais periféricos, esses então é que viram verdadeiros lixões a céu aberto.
Enquanto isso, secretários e assessores do prefeito Geraldo Júlio são condenados por gastança de dinheiro público, como no caso do Camarote na Copa das Confederações. João Guilherme de Godoy Ferraz, Alexandre Rebelo Tavora e Rodrigo Mota de Farias foram condenados pela gastança de R$ 201.181,05 referentes ao valor destinado pelo município à aquisição de um camarote e 459 ingressos para jogos da Copa das Confederações Fifa 2013, tudo na escandalosa Arena de Pernambuco.
Ao mesmo tempo, o dito “prefeito” Geraldo Júlio e o “des-governador” Paulo Câmara realizam o maior arrocho tributário da história do Recife e de Pernambuco. Empresários e empreendimentos são agressivamente atingidos com as mais elevadas alíquotas e sofrem um cerco sem precedentes.
Por isso, um número imenso e crescente de empresas estão se mudando para a Paraíba e Alagoas, como forma de tentar sobreviver. As que não podem simplesmente fecham e levam mais pernambucanos ao buraco do desemprego.
Triste Recife!
Núcleo duro de Geraldo condenado por gastança

João Guilherme Ferraz e Alexandre Rebelo Tavora
O secretário da Casa Civil da Prefeitura do Recife, João Guilherme Ferraz, um dos homens fortes do núcleo duro do prefeito Geraldo Júlio, foi condenado ontem num processo de gastança exagerada do dinheiro público.
Também entraram no mesmo processo outros dois secretários. O crime contra o tesouro municipal se deu no Camarote da Copa das Confederações. Ação foi do Ministério Público de Pernambuco.
Milena Flores Ferraz Cintra, da Central de Agilização Processual da Capital, julgou procedente o pedido formulado pelo autor, o Ministério Público de Pernambuco, na Ação Civil Pública assinada pelo Promotor de Justiça Eduardo Cajueiro.

Alexandre Rebelo Tavora e o prefeito do Recife Geraldo Júlio
Foram condenados e viraram réus também o secretário de Planejamento, Alexandre Rebelo Tavora, e o chefe de gabinete do prefeito, Rodrigo Mota de Farias. Terão que ressarcir R$ 201.181,05 aos cofres da viúva, com correção monetária, juros de 0,5% ao mês. A gastança envolve a compra ilegal de um camarote e 459 ingressos para jogos da Copa das Confederações Fifa 2013, que teve a Arena de Pernambuco como uma das sedes da competição.
Apesar de julgada no final de outubro de 2019, somente ontem a decisão foi divulgada pelo site do Ministério Público
Blog do Paixão