De acordo com as denúncias, crimes teriam acontecido entre 1996 e 2019. Convenção Batista de Pernambuco informou ter afastado o investigado.
Por G1 PE
Delegacia da Mulher, no bairro de Santo Amaro, no Recife — Foto: Marina Meireles/G1
Um pastor evangélico e psicólogo foi indiciado pela Polícia Civil, na quinta-feira (27), por assédio sexual, violação sexual mediante fraude, estupro, difamação, injúria racial e violação de segredo profissional. Segundo a delegada Bruna Falcão, oito mulheres que frequentavam uma igreja informaram ter sofrido os crimes entre 1996 e 2019. Diante das denúncias, ele foi afastado pela Convenção Batista de Pernambuco.
As denúncias chegaram de forma separada, em janeiro deste ano. Os crimes teriam acontecido no gabinete pastoral, durante aconselhamento, na Zona Norte do Recife. Os inquéritos foram concluídos nesta semana.
Ainda de acordo com a delegada, sete mulheres procuraram a delegacia para relatar os crimes e outra foi até a Ouvidoria da Mulher de Pernambuco para denunciar os abusos. "O fio condutor entre todas elas é o assédio sexual", disse a delegada Bruna Falcão.
A policial disse também que todas as mulheres informaram que o investigado, na condição de pastor, usava o cargo que exercia para assediar e para constrangê-las para obter favores sexuais. "Para algumas delas, inclusive, ele sugeriu práticas sexuais como forma de tratamento psicoterápico e espiritual", afirmou Bruna.
Nos depoimentos, as mulheres afirmaram que frequentavam uma mesma igreja e algumas delas disseram ter deixado a congregação devido ao comportamento do investigado.
"São situações muito delicadas, porque os episódios teriam acontecido em sua quase totalidade dentro do ambiente pastoral", afirmou Bruna.
A delegada informou que o investigado é um homem prestigiado dentro da comunidade evangélica. "E essas mulheres inicialmente não conseguiam acreditar no que estava acontecendo e se recusavam a crer que aquilo era real. Elas só conseguiram se fortalecer quando se reconheceram como vítimas", afirmou a policial.
Sem vestígios físicos dos crimes, os depoimentos foram usados como prova dos abusos. "Todos esses crimes teriam sido praticados dentro do gabinete do investigado, sem testemunhas, e quase não deixaram vestígios. A materialidade que a gente constituiu foi com os depoimentos, não com provas periciais", disse Bruna Falcão.
Alegações
O suspeito foi intimado para prestar depoimento no dia 13 de fevereiro, mas, por duas vezes, apresentou atestado médico alegando problemas psicológicos, de acordo com a polícia.
"Por meio de suas advogadas, ele juntou um atestado médico que dizia que ele estava impossibilitado de prestar suas atividades habituais, afirmando que ele tinha um quadro depressivo grave, ideias suicidas", disse a delegada.
Depois de uma solicitação de adiamento, o pastor também apresentou um novo atestado. "Ele afirmava que o quadro depressivo ainda era muito severo e não poderia prestar depoimento sobre pena de prejudicar seu quadro. A gente não poderia segurar o procedimento na delegacia sob pena da percepção penal, em relação a esses crimes que ainda não estão prescritos", afirmou Falcão.
Nem todos os crimes investigados poderão ser punidos, segundo a polícia. Bruna Falcão explicou que alguns casos já extrapolaram o prazo previsto em lei.
"A gente constatou que três mulheres tinham sido vítimas de crimes já prescritos. Uma das notícias data de 1996. Então, o estado já não poderia fazer nada em relação a esse tipo de conduta", explicou a delegada.
Igreja
Por meio de nota, a Convenção Batista de Pernambuco informou que "intimou o pastor a esclarecer os fatos" e que "tem acompanhado a liderança da igreja filiada, incentivando a prestação de toda a assistência possível às pessoas que foram envolvidas, conforme os relatos recebidos".
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) informou que aguarda a chegada do inquérito à central da capital, até a segunda-feira (2).
Respostas
Por meio de nota, o Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco/ 2ª Região informou, nesta sexta (28), que "está a serviço da sociedade para garantir a qualidade dos serviços psicológicos prestados".
A entidade disse, ainda, que "toda pessoa pode denunciar aos conselhos regionais de a/o psicóloga/o que considere estar exercendo a profissão de forma irregular e/ou infringindo as legislações do Conselho Federal de Psicologia e o código de ética".
Em relação ao caso citado, afirma o conselho, "é importante elucidar que qualquer denuncia que chegue oficialmente será encaminhada a Presidência do Regional e em seguida seguirá os trâmites legais, conforme o Código de Processamento Disciplinar - Resolução do CFP nº 11 de 2019".
A entidade disse também que. caso seja comprovada a infração, após o julgamento, a sanção poderá resultar de uma advertência até a cassação do exercício profissional. "Destaca-se que todo trâmite do processo disciplinar é sigiloso", informa a nota.
O G1 tentou entrar em contato com a defesa do pastor e não recebeu retorno até a última atualização desta matéria.
Blog do Paixão