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'Tragédia da Hemodiálise' que deixou quase 60 mortos completa 23 anos

Caso foi registrado no Carnaval de 1996, em Caruaru e municípios vizinhos.


Hepatite tóxica foi causa das mortes, segundo Secretaria Estadual de Saúde. 

Matéria divulgada em 04/02/2016

Amanda DantasDa TV Asa Branca 




Instituto de Doenças Renais de Caruaru, Agreste de Pernambuco, onde aconteceu a tragédia



Há 23 anos, a vida de 126 famílias de Caruaru e de municípios vizinhos foi marcada por um caso que ficou conhecido como "A Tragédia da Hemodiálise". Aproximadamente 60 pacientes morreram por causa de uma intoxicação. A causa apontada pela Secretária Estadual de Saúde foi hepatite tóxica. O episódio foi relembrado em uma série realizada pelo ABTV 2ª Edição. 

Tudo aconteceu no Carnaval de 1996. A equipe de plantão da TV Asa Branca recebeu a informação de que pacientes de uma clínica particular atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) passaram mal depois de uma sessão de hemodiálise. 



"Eu vi meu marido indo embora, meus amigos indo embora, minha vida desabando", conta a artesã Cícera Maria dos Santos. O marido dela, o pedreiro José Francisco Borges, tinha 31 anos e foi uma das pessoas atingidas. Ele fazia o tratamento há cinco anos e levava uma vida normal. Após aquela sessão, voltou para casa e começou a se queixar de fortes dores. 



Cícera contou que o marido dela foi uma das vítimas da tragédia (Foto: Reprodução/ TV Asa Branca) 



"Com dor de cabeça, vomitando e perdendo a visão. Por volta da meia-noite levamos ele de volta ao hospital. E quando chegamos lá nos deparamos com pacientes com os mesmos sintomas", afirmou a artesã Cícera Maria dos Santos. Depois da intoxicação, o marido de Dona Cícera sofreu mais de um ano internado no Recife. Ele acabou não resistindo e morreu em julho de 1997. 

A dona de casa Zeneide Trajano é viúva da 16ª vítima da tragédia. Ela conta que após as sessões de hemodiálise, o marido ficou em coma. "Começou a perder peso. E depois, os treze dias que ele passou no hospital, foi em coma", afirmou. 

O governo estadual designou uma comissão de investigação. A polícia também investigou o caso. A primeira hipótese levantada foi à contaminação da água usada no processo de hemodiálise. Ela vinha da Barragem de Tabocas por meio de caminhões-pipa fornecidos pela companhia de saneamento do estado. 


Aproximadamente 60 pessoas morreram
intoxicadas (Foto: Reprodução / TV Asa Branca) 

Durante esse tempo, ninguém nunca assumiu a responsabilidade pela água que foi apontada como a causa das mortes e das intoxicações. A direção da clínica alegava que comprava a água achando que era de boa qualidade, mas, a recebia com excesso de cloro. Por outro lado, a gerência regional da companhia de saneamento alegava que depois que a água era fornecida a responsabilidade era da unidade de saúde, sugerindo, assim, que a contaminação acontecia no processo da hemodiálise. 

Na época, o gerente Regional da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), Judas Tadeu, disse que o tratamento da água não havia sido alterado. "Há cinco anos que vem tratando água em perfeitas condições. Continua fazendo da forma que vinha - colocando a água dentro dos padrões de potabilidade. A Compesa não alterou nada em relação ao tratamento da água em nossa estação". 

O caso virou Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Caruaru recebeu autoridades da saúde do mundo todo. A conclusão foi que a morte dos doentes renais foi provocada por uma toxina chamada microcistina, liberada pelas cianobactérias, algas verde-azuladas presentes na água usada na hemodiálise. 

"É comum nos rios, barreiros, lagos ela estar presente. E ela produz uma substância chamada microcistina LR, que é uma substância tóxica. Mas a questão é que tendo um bom volume de água isso não vai trazer danos. A questão é quando o volume de água está menor e essa substância é produzida em excesso", explicou o biólogo Alexandre Henrique 

A revista veja em sua edição de 3 de abril de 1996 , também publicou uma matéria sobre a tragédia intitulada: “Agonia macabra” e destacamos abaixo alguns pontos que influenciaram politicamente em decisões principalmente no Estado de Pernambuco: 
“Não me lembro de nada que tenha atingido tantos doentes, afirma o então ministro da Saúde, Adib Jatene. 
“Os parentes das vítimas também não tiveram direito a uma manifestação maior do governador de Pernambuco, Miguel Arraes. Na sexta-feira passada, o presidente Fernando Henrique esteve três horas na cidade de Serra Talhada, inaugurando um açude. A cidade fica a apenas 250 quilômetros de Caruaru. Como o presidente estava a bordo de um Brasília, seria um pulo. No final da tarde de sexta-feira, após uma festança promovida pelo deputado Inocêncio de Oliveira em seu quintal eleitoral, Fernando Henrique deixou o Estado de Pernambuco, para um jantar em Natal, como se nada tivesse acontecido. Não enviou solidariedade às famílias nem apoio aos sobreviventes”. 
“Fazia dois anos que a clínica de Caruaru não recebia a visita de um fiscal da Secretaria Estadual de Saúde. Havia um ano que a qualidade da água usada na máquina de diálise não era analisada. Deveria sê-lo a cada três meses”. 
“As investigações apontam para a qualidade da água usada para filtrar o sangue na diálise. Médicos suspeitam que um agente químico, não identificado, entrou em contato com a água e gerou uma toxina, contaminando os pacientes”.




Matéria da Revista Veja na íntegra


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