PUBLICIDADE

Type Here to Get Search Results !

cabeçalho blog 2025

Parentes de vítimas do novo coronavírus sofrem com enterros sem despedida


Há um protocolo que precisa ser seguido, impedindo o adeus com contato e caixão aberto.

Por Mônica Silveira, TV Globo

Jean Carlos morreu de Covid-19 — Foto: Reprodução/WhatsApp

Com 2.690 casos confirmados, Pernambuco já soma, nesta segunda-feira (20), 234 mortos pela Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Enquanto covas são abertas em grande quantidade em cemitérios do estado, familiares precisam se contentar com enterros feitos às pressas, sem despedidas e com caixões fechados, para evitar contaminação.

Uma das vítimas da doença foi o comunicador Jean Carlos, que alegrava os dias dos ouvintes de Rio Formoso, na Zona da Mata do estado. Todos os dias, ele alertava para a necessidade de ficar em casa, com um carro de som. Ele morreu na quarta-feira (15).

Jean Carlos tinha 49 anos, era casado, tinha cinco filhos e seis netos. Ele morava no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, era diabético e tinha pressão alta. Por causa disso, fazia parte do chamado grupo de risco para agravamento da Covid-19.

Um dos filhos dele, o microempreendedor Rodrigo Tavares, disse que, diante da morte o pai, viu o quão importante é o isolamento social.

"Na quinta-feira (16) fui para o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) liberar o corpo, não vi meu pai. Ele estava embalado em dois sacos, daí foi direto para o cemitério, não tivemos nem contato, nem sei onde meu pai está enterrado lá no cemitério. Eu vim pedir para que as pessoas fiquem em casa, porque essa Covid-19 é de verdade", disse.

Outra vítima da Covid-19 foi o morador do bairro Muribara Isaac, de 37 anos, que morreu no sábado (18). Antes de morrer, ele gravou um vídeo pedindo isolamento social. "Gente, eu vim aqui fazer um apelo para vocês, que fique em casa. Coronavírus é um vírus real. Esse negócio de dizer que só vai pegar velhinho, isso é história. Eu sou exemplo disso", disse, no vídeo.

Isaac era casado há 7 anos com Erlane dos Santos, agora viúva. "Gente, pelo amor de deus, vocês não sabem o quanto é triste isso, você não poder se despedir da sua família. O quão difícil vai ser levar a vida adiante, com dois filhos, uma menina de 4 anos e uma menina de 5 meses, sem o pai", lamentou.

Durante todo o domingo (19), Erlane tentou enterrar o marido, mas não conseguiu resgatar o corpo porque faltava um documento. Ela não era casada no cartório com ele. "Gente, pelo amor de Deus, leve essa doença a sério. Leva a Covid-19, o coronavírus, o que seja, a sério, pelo amor de Deus. Meu esposo não vai poder ter um enterro digno, não vai poder ter a família velando o corpo dele, gente", diz.


Isaac, que morreu de Covid-19, era casado há 7 anos com Erlane dos Santos — Foto: Reprodução/WhatsApp

O enterro de Isaac ocorreu nesta segunda-feira, à tarde, no Cemitério de Guadalupe, em Olinda, cidade em que ele nasceu. Não foi possível nenhum tipo de despedida.

Os pacientes são enterrados com a bata que estavam usando no hospital, sem nem ao menos terem visto o rosto de quem cuidou deles até o último momento. Nas UTIs, os profissionais de saúde ficam inteiramente cobertos, protegidos, para evitar contaminação.

O médico Marcos Gallindo tenta salvar vidas em três grandes UTIs e trabalha com isso há 25 anos. Segundo ele, é uma situação nova.

"É uma situação pela qual nós nunca passamos, extremamente desconfortável pra todos nós. Quando acontece um óbito, nós temos que seguir algumas orientações da vigilância sanitária e aí a notícia é comunicada ou por telefone ou nós solicitamos que uma pessoa da família apenas compareça ao hospital. Não há despedidas e isso é bem ruim. Esse corpo tem que ser colocado em dois sacos pretos, que são colocados em sentidos contrários e encaminhado ao necrotério", disse.


Cemitério Parque das Flores, no Recife, tem sepulturas extras abertas para mortos por Covid-19 — Foto: Reprodução/TV Globo

Os cemitérios de Santo Amaro e Parque das Flores foram inicialmente indicados pela prefeitura para os sepultamentos no Recife. Uma quadra em cada um deles foi isolada para esses casos. Os enterros ocorrem sob rígidas orientações e o caixão precisa permanecer lacrado, não pode haver velório.

No máximo, dez pessoas podem acompanhar o sepultamento, desde que mantenham distância entre elas. Não é permitida a presença de idosos, crianças, grávidas, pessoas com doenças crônicas.

Os coveiros, que, para outros enterros, usam um uniforme, precisam, para as vítimas de Covid-19, se paramentar com máscara cirúrgica, protetor facial, luvas de procedimento, botas impermeáveis de cano longo e avental descartável.

Segundo o secretário de Infraestrutura e Serviços Públicos do Recife, Roberto Gusmão, os cemitérios estão preparados. "A gente está adequado e com novas equipes para poder atender a essa atual demanda, um pouco maior. Ainda não está fora da curva, mas a gente está preparado para dar esse conforto a essas famílias, vítimas dessa pandemia", afirmou.

Coronavírus em Pernambuco

Pernambuco chega a 2.690 casos confirmados da Covid-19
O número de casos confirmados do novo coronavírus em Pernambuco aumentou para 2.690, e o de mortes por causa da doença Covid-19, subiu para 234. O boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde nesta segunda-feira (20) contabilizou 231 novas confirmações e mais 18 óbitos.

Pernambuco registrou mais quatro curas clínicas da Covid-19. Com isso, o estado tem 100 pacientes recuperados da doença causada pelo novo coronavírus.


Postar um comentário

0 Comentários
* Por favor, não faça spam aqui. Todos os comentários são revisados ​​pelo Admin.

Publicidade Topo

Publicidade abaixo do anúncio