Há um protocolo
que precisa ser seguido, impedindo o adeus com contato e caixão aberto.
Por Mônica Silveira, TV Globo

Jean Carlos morreu de Covid-19 — Foto: Reprodução/WhatsApp
Com 2.690 casos confirmados, Pernambuco já
soma, nesta segunda-feira (20), 234 mortos pela Covid-19,
doença causada pelo novo coronavírus.
Enquanto covas são abertas em grande
quantidade em cemitérios do estado, familiares precisam se
contentar com enterros feitos às pressas, sem despedidas e com caixões
fechados, para evitar contaminação.
Uma das vítimas da doença foi o comunicador
Jean Carlos, que alegrava os dias dos ouvintes de Rio Formoso, na
Zona da Mata do estado. Todos os dias, ele alertava para a necessidade de ficar
em casa, com um carro de som. Ele morreu na quarta-feira (15).
Jean Carlos tinha 49 anos, era casado, tinha
cinco filhos e seis netos. Ele morava no Cabo de Santo Agostinho,
no Grande Recife, era diabético
e tinha pressão alta. Por causa disso, fazia parte do chamado grupo de risco
para agravamento da Covid-19.
Um dos filhos dele, o microempreendedor
Rodrigo Tavares, disse que, diante da morte o pai, viu o quão importante é o
isolamento social.
"Na quinta-feira (16) fui para o
Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) liberar o
corpo, não vi meu pai. Ele estava embalado em dois sacos, daí foi direto para o
cemitério, não tivemos nem contato, nem sei onde meu pai está enterrado lá no
cemitério. Eu vim pedir para que as pessoas fiquem em casa, porque essa
Covid-19 é de verdade", disse.
Outra vítima da Covid-19 foi o morador do
bairro Muribara Isaac, de 37 anos, que morreu no sábado (18). Antes de morrer,
ele gravou um vídeo pedindo isolamento social. "Gente, eu vim aqui fazer
um apelo para vocês, que fique em casa. Coronavírus é um vírus real. Esse
negócio de dizer que só vai pegar velhinho, isso é história. Eu sou exemplo disso",
disse, no vídeo.
Isaac era casado há 7 anos com Erlane dos
Santos, agora viúva. "Gente, pelo amor de deus, vocês não sabem o quanto é
triste isso, você não poder se despedir da sua família. O quão difícil vai ser
levar a vida adiante, com dois filhos, uma menina de 4 anos e uma menina de 5
meses, sem o pai", lamentou.
Durante todo o domingo (19), Erlane tentou
enterrar o marido, mas não conseguiu resgatar o corpo porque faltava um
documento. Ela não era casada no cartório com ele. "Gente, pelo amor de
Deus, leve essa doença a sério. Leva a Covid-19, o coronavírus, o que seja, a
sério, pelo amor de Deus. Meu esposo não vai poder ter um enterro digno, não
vai poder ter a família velando o corpo dele, gente", diz.

Isaac, que morreu de Covid-19, era casado há
7 anos com Erlane dos Santos — Foto: Reprodução/WhatsApp
O enterro de Isaac ocorreu nesta
segunda-feira, à tarde, no Cemitério de Guadalupe, em Olinda, cidade
em que ele nasceu. Não foi possível nenhum tipo de despedida.
Os pacientes são enterrados com a bata que
estavam usando no hospital, sem nem ao menos terem visto o rosto de quem cuidou
deles até o último momento. Nas UTIs, os profissionais de saúde ficam
inteiramente cobertos, protegidos, para evitar contaminação.
O médico Marcos Gallindo tenta salvar vidas
em três grandes UTIs e trabalha com isso há 25 anos. Segundo ele, é uma
situação nova.
"É uma situação pela qual nós nunca
passamos, extremamente desconfortável pra todos nós. Quando acontece um óbito,
nós temos que seguir algumas orientações da vigilância sanitária e aí a notícia
é comunicada ou por telefone ou nós solicitamos que uma pessoa da família
apenas compareça ao hospital. Não há despedidas e isso é bem ruim. Esse corpo
tem que ser colocado em dois sacos pretos, que são colocados em sentidos
contrários e encaminhado ao necrotério", disse.

Cemitério Parque das Flores, no Recife, tem
sepulturas extras abertas para mortos por Covid-19 — Foto: Reprodução/TV Globo
Os cemitérios de Santo Amaro e Parque das
Flores foram inicialmente indicados pela prefeitura para os sepultamentos no
Recife. Uma quadra em cada um deles foi isolada para esses casos. Os enterros
ocorrem sob rígidas orientações e o caixão precisa permanecer lacrado, não pode
haver velório.
No máximo, dez pessoas podem acompanhar o
sepultamento, desde que mantenham distância entre elas. Não é permitida a
presença de idosos, crianças, grávidas, pessoas com doenças crônicas.
Os coveiros, que, para outros enterros, usam
um uniforme, precisam, para as vítimas de Covid-19, se paramentar com máscara
cirúrgica, protetor facial, luvas de procedimento, botas impermeáveis de cano
longo e avental descartável.
Segundo o secretário de Infraestrutura e
Serviços Públicos do Recife, Roberto Gusmão, os cemitérios estão preparados.
"A gente está adequado e com novas equipes para poder atender a essa atual
demanda, um pouco maior. Ainda não está fora da curva, mas a gente está preparado
para dar esse conforto a essas famílias, vítimas dessa pandemia", afirmou.
Coronavírus em
Pernambuco
Pernambuco chega a 2.690 casos confirmados da
Covid-19
O número de casos confirmados do novo
coronavírus em Pernambuco aumentou para 2.690, e o de
mortes por causa da doença Covid-19, subiu para 234. O boletim
divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde nesta segunda-feira (20)
contabilizou 231 novas confirmações e mais 18 óbitos.
Pernambuco registrou mais quatro curas
clínicas da Covid-19. Com isso, o estado tem 100 pacientes recuperados da
doença causada pelo novo coronavírus.
Blog do Paixão