Do dia 1º até esta terça, país
teve mais de 18,5 mil mortes por Covid-19, número maior que os totais vistos em
outubro e em novembro. Aumento percentual em relação ao mês passado é de 40%.
Por Lara
Pinheiro, G1
Coveiros usando roupas protetoras enterram vítima de Covid-19 no Cemitério da Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo, em 25 de dezembro. — Foto: Amanda Perobelli/Reuters
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Brasil
registrou, em dezembro, o maior número mensal de mortes por Covid-19 desde
setembro, mostram dados apurados pelo consórcio de
veículos de imprensa junto às secretarias de Saúde do país.
Os dados parciais para o mês – do dia 1º até as 13h desta terça-feira (29) – apontam 18.570 óbitos pela doença. O número é maior que os vistos em outubro e em novembro, e só não supera o de setembro (veja gráfico).
Mortes por Covid-19 por mês no Brasil
Além disso, o número representa, em relação às mortes registradas em novembro, um aumento de 40%. É a primeira vez, desde julho, que a quantidade de mortes em um mês é maior que a vista no mês anterior.
As médias móveis
diárias calculadas pelo consórcio de imprensa para dezembro
também apontaram que, em 21 dos primeiros 28 dias do mês, houve tendência
de aumento nos óbitos. Em novembro, foram 12 dias com a mesma tendência no
mês inteiro.
O dado parcial referente a dezembro foi calculado
subtraindo-se as mortes totais até as 13h desta terça (191.735)
do total de mortes até 30 de novembro, que era de 173.165 até
as 20h. Os números dos meses anteriores foram determinados com a mesma
metodologia, mas considerando o último dia de cada mês.
Segunda onda
Pessoas andam em rua cheia no comércio do Rio de Janeiro em meio à pandemia de Covid-19, no dia 23 de dezembro. — Foto: Pilar Olivares/Reuters
Para o físico Domingos Alves, responsável pelo
Laboratório de Inteligência em Saúde da Faculdade de Medicina da USP em
Ribeirão Preto, o que se observa são as consequências da segunda onda
da pandemia.
"A segunda onda já se impôs desde final de outubro. É óbvio que tenhamos um acréscimo no número de óbitos, em dezembro – que ainda não acabou –, muito maior que em novembro", afirma.
Alves diz, ainda, que o padrão de óbitos da segunda
fase da pandemia é diferente do da primeira.
"Quando se via o número de casos crescendo na primeira onda, se esperava duas semanas e já se via o número de óbitos crescendo. Agora, o delay [atraso] tem mais de um mês. As pessoas se infectando são as mais jovens – demora mais para infectar os mais velhos e [a pessoa] vir a óbito", afirma o pesquisador da USP.
Ele acrescenta, ainda, que "aprendemos muito
com o controle da pandemia. As pessoas internadas hoje vão menos a óbito que no
início".
Desde o primeiro caso de Covid, a ciência
aprendeu formas de manejar pacientes com a doença – como,
por exemplo, colocando-os de bruços.
Profissional de saúde trata paciente com Covid-19 deitada de bruços em hospital em Chula Vista, na Califórnia, no dia 12 de maio. — Foto: Lucy Nicholson/Reuters
Para o pesquisador, o cenário visto hoje
"ainda é a ponta do iceberg".
"Para janeiro, esses dados vão se agravar. Nós vamos ter uma mortalidade por Covid aqui no Brasil não vista até agora na pandemia. O número de óbitos vai explodir", diz Domingos Alves.
Feriados e eleições
Pessoas fazem compras na 25 de Março, no Centro de São Paulo, no dia 23 de dezembro. — Foto: Carla Carniel/AP
A previsão de Domingos Alves é compartilhada pela
enfermeira epidemiologista Ethel Maciel, professora titular da Universidade
Federal do Espírito Santo (Ufes).
"Com as festas de
final de ano, com certeza teremos muitos casos e muitas mortes –
porque as pessoas não estão fazendo o distanciamento, estão se
aglomerando", diz.
"Isso está muito relacionado a esse cansaço das pessoas. O vírus não se cansou da gente. Nós podemos ter cansado dele, mas ele não cansou. Ele se adaptou melhor – fez mutações que deram a ele uma capacidade maior de transmissão", lembra Maciel.
Recentemente, novas mutações do coronavírus foram
encontradas no Reino Unido e
na África do Sul.
Elas podem ser mais contagiosas do que outras "versões" do vírus. (Entenda mais
sobre o que são mutações).
Para Ethel Maciel, o aumento nas mortes visto neste
mês é reflexo de aglomerações anteriores – dos feriados de 12 de outubro, 2 de
novembro e das eleições. Ela pontua que os próprios políticos, por exemplo, não
deram bons exemplos de comportamentos
para evitar a transmissão do vírus.
"As eleições tiveram influência. Políticos,
pessoas se aglomerando: infelizmente foi o que nós vimos. A gente estava
esperando o aumento de casos desde depois do feriado de outubro. Infelizmente,
o que a gente faz hoje tem reflexo duas semanas depois. A gente vinha se
preparando para chegar o verão muito próximo do controle. No final de outubro,
viu a curva se modificando", avalia.
A epidemiologista chama atenção também para o fato
de que, nesta fase da pandemia, o risco de
colapso dos sistemas de saúde – inclusive do privado, menos
afetado no início do ano – é ainda maior. Isso porque os procedimentos que
acabaram suspensos por causa da pandemia voltaram a ser feitos.
Ou seja: agora, os pacientes com Covid têm que
"disputar" leitos de UTI, por exemplo, com aqueles que têm outros
problemas de saúde.
"Alguns estados que não tiveram colapso antes
correm risco de ter agora. Leitos foram desativados. A nossa capacidade de
resposta não está sendo tão rápida. A gente está num momento de muita
preocupação. Corre o risco de as pessoas ficarem doentes e não terem leitos –
tanto no sistema público quanto no sistema privado", alerta Maciel.
A professora da Ufes pede que, para o Ano
Novo, as pessoas evitem se expor a riscos.
"O Ano Novo, culturalmente, é uma celebração em que a gente costuma se aglomerar. Esse ano, vamos ter essa passagem de ano diferente, ficar com a família", sugere.
Metodologia
O consórcio de veículos de imprensa começou o
levantamento conjunto no início de
junho. Por isso, os dados mensais de fevereiro a maio são de
levantamentos exclusivos do G1. A fonte de ambos os monitoramentos,
entretanto, é a mesma: as secretarias estaduais de Saúde.
Outra observação sobre os dados é que, no dia 28 de
julho, o Ministério da Saúde mudou a
metodologia de identificação dos casos de Covid e passou a
permitir que diagnósticos por imagem (tomografia) fossem notificados. Também
ampliou as definições de casos clínicos (aqueles identificados apenas na
consulta médica) e incluiu mais possibilidades de testes de Covid.
Desde a alteração, mais de mil casos de Covid-19 foram notificados pelas secretarias estaduais de Saúde ao governo federal sob os novos critérios.
Blog do Paixão