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Com maior poder de contágio, variante brasileira da Covid-19, P1, pode causar novo colapso na saúde

Por Marjourie Corrêa / Folha de Pernambuco

A variante brasileira da Covid-19, chamada de P1, já foi detectada em, pelo menos, 12 estados do Brasil. Com uma maior capacidade de transmissão, conforme apontam os estudos iniciais, a nova cepa apresenta também mutações que dão ao vírus a capacidade de fugir do ataque dos anticorpos, afetando a eficácia das vacinas, além de permitir reinfecções. Por isso, acende o alerta de especialistas para o surgimento de uma terceira onda de infecções no País.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, já são cerca de 200 casos confirmados da P1 pelo Brasil. No Amazonas, onde emergiu, já foi constatado que há transmissão local. O mesmo foi verificado no Pará, em Roraima e também no Ceará, que divulgou um novo decreto estadual com validade de dez dias, na última quinta-feira, instituindo um "toque de recolher" que limita o horário de funcionamento do comércio, de espaços públicos, restaurantes e shoppings, além da suspensão das aulas presenciais em escolas e universidades públicas e privadas.

A mesma medida restritiva foi adotada pelo governo da Bahia. Dos 417 municípios baianos, o toque de recolher, que tem validade de sete dias, restringe, desde a última sexta-feira, a circulação de pessoas nas ruas e o funcionamento de serviços não essenciais após as 22h em 343 cidades.

Já na Paraíba, no Piauí, em São Paulo, no Espírito Santo, em Santa Catarina e no Rio de Janeiro, o Ministério da Saúde confirmou que se tratam de casos importados do Amazonas. No entanto, a Prefeitura de São Paulo já confirmou o caso de uma pessoa que foi infectada pela variante P1 e que não esteve no Amazonas. Em Gramado, no Rio Grande do Sul, um caso semelhante foi identificado. De acordo com o governo estadual, o paciente não viajou recentemente ou teve contato direto com pessoas que viajaram para outros estados.

Apesar de ainda não haver nenhuma infecção causada pela P1 confirmada em Pernambuco, o chefe do Setor de Infectologia do Hospital Oswaldo Cruz, Demétrius Montenegro, acredita que não deve demorar para que a variante chegue. "Dificilmente essa variante não está circulando pelo estado, já que não houve nenhuma medida para monitorar quem entra ou quem sai de Manaus. As pessoas estão viajando normalmente. Quando assintomáticas, carregam o vírus consigo por aí", alegou Demétrius.

Ainda segundo o médico, a preocupação epidemiológica desse caso se deve ao fato de a transmissibilidade dessa variante ser maior. “O poder de transmissão dessa mutação é muito maior do que a original. Ainda não se sabe sobre o poder de aumentar a gravidade da doença, mas ela já está relacionada a vários casos de reinfecção, coisa que era rara e ainda estava sendo investigada antes da P1”, explicou o infectologista. Demétrius mencionou também a possibilidade de uma terceira onda de infecções do coronavírus. “Antes de falar em terceira onda,é importante destacar que a dita segunda onda ainda não chegou ao fim. O podemos enfrentar, caso o sistema de saúde entre em colapso por conta das novas cepas que circulam no país, é uma piora dessa segunda onda, já que a demanda por leitos hospitalares tende a crescer por conta do maior poder de transmissão”, emendou Montenegro.


As mutações do coronavírus acendem a luz vermelha não só dos especialistas, mas também da população, sobretudo do grupo de risco. A analista financeira Brenda Monte, 27, está no final da sua gestação. Para preservar a sua saúde, ela tem se limitado a se deslocar somente para ir ao trabalho. “Não tenho recebido ninguém em casa, porque já me exponho ao risco diariamente quando saio para trabalhar, que só faço por questão de necessidade”, afirmou Brenda. “Desde o ano passado, venho mantendo os cuidados sanitários e confesso que, em alguns momentos, não sei mais o que posso fazer para garantir mais a minha segurança”, desabafou.

Apesar do medo envolvendo as novas cepas, o infectologista Demétrius Montenegro afirmou que os protocolos de saúde individuais devem ser mantidos. “Se a pessoa vem se cuidando, usa máscara, higieniza as mãos sempre que pode, evita aglomerações e mantém o distanciamento social, ela não precisa se preocupar. Essas medidas sanitárias auxiliam na proteção da pessoa da mesma forma”, assegurou Demétrius.

Cenário epidemiológico em Pernambuco

Até a sexta-feira (19), Pernambuco registrou 1.358 novos casos de Covid-19, de acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE). Segundo o pesquisador Jones Albuquerque, do Instituto para Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco (IRRD), da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), o número de novos casos confirmados por dia em Pernambuco é bastante semelhante aos números de maio e julho de 2020, o período mais crítico vivenciado na Região Metropolitana do Recife (RMR) e no interior do Estado, respectivamente.


“A média móvel acumulada de Pernambuco é de 1.400 casos por dia. No pior momento da pandemia no Recife e RMR, no mês de maio, a média diária era de mais ou menos 1.300 casos. Já no interior, quando o período crítico foi em julho, a média era de 1.400 casos. Nesses dois momentos iniciais, esses municípios estavam em lockdown, quando foi possível controlar a curva crescente de casos”, destacou Jones.

Segundo Jones, as projeções indicam que o Recife está caminhando para o pior cenário de infecção, que pode ser agravado pela variante P1, já que ela tem maior poder de transmissão e contágio. “Se nós observarmos, ainda não atravessamos a primeira onda, porque não zeramos o número de casos. O que houve foi uma diminuição do número de casos e óbitos”, pontua o pesquisador. “Nota-se que o controle pandêmico não é efetivo, já que não estamos conseguindo conviver com um vírus, uma vez que o número de casos ora fica estável ora oscila para mais. Abrir leitos não é uma medida completamente eficiente, porque dessa forma estamos tentando controlar apenas os casos graves e os óbitos, quando, na verdade, deveríamos controlar as infecções”, ponderou.

O pesquisador do IRRD salienta que Pernambuco apresenta uma boa demanda de vacinação, quando comparada com os demais estados do Nordeste, porém, com as variantes em expansão, os indicadores pandêmicos não vão apresentar sinais de melhora se não houver uma reflexão sobre os protocolos sanitários de convivência com o vírus.




Enfermeiro diagnosticado com variante britânica da Covid-19 desabafa: 'Pedi a Deus para não morrer' 

Altair Nonato da Silva, morador de Peruíbe, no litoral paulista, relata que sete familiares também foram contaminados com a Covid-19. 

Por Leticia Gomes, G1 Santos
 

Enfermeiro precisou ficar uma semana internado por conta da Covid-19 — Foto: Arquivo Pessoal 

Um enfermeiro de Peruíbe, no litoral de São Paulo, que contraiu a nova variante britânica do coronavírus relatou ao G1 ter percebido maior poder de transmissão do vírus, após sete parentes testarem positivo para a Covid-19. Altair Nonato da Silva, de 45 anos, foi o primeiro caso confirmado da nova variante na Baixada Santista. Ele permanece sendo o único paciente que comprovadamente contraiu a cepa na região. 

'Pedi muito a Deus para não morrer', desabafou o enfermeiro em entrevista ao G1 neste sábado (20). 

Silva atua como enfermeiro em um hospital na capital paulista. Segundo o laboratório de diagnósticos Dasa, o paciente foi diagnosticado com a mesma cepa que surgiu no Reino Unido. A descoberta foi anunciada na última terça-feira (16) e, em seguida, comunicada ao Instituto Adolfo Lutz e à Vigilância Sanitária. 

O profissional conta que a esposa foi a primeira a ter sintomas da doença na residência, no fim de dezembro de 2020. Silva fez o teste e recebeu o diagnóstico positivo no dia 6 de janeiro. Apesar da confirmação, os sintomas começaram depois. Com tosse, dor no corpo, diarreia e febre, ele passou a prestar atenção para ver se tinha piora no quadro. 

Acompanhando a situação de casa e sendo medicado, ele teve uma piora significativa, e vendo a mudança na saturação, foi internado no Hospital Regional Jorge Rossmann, em Itanhaém. "Todos esses dias, eu tendo calafrios, sudorese noturna, foram noites horripilantes. Falei para a minha esposa 'eu vou ter que internar, porque senão eu vou morrer em casa aqui, do seu lado' ". Ele chegou a ter 75% do pulmão comprometidos e precisou fazer uso de oxigênio. 


Enfermeiro ficou uma semana internado em Itanhaém, SP — Foto: Arquivo Pessoal

O enfermeiro relata que ficou uma semana internado. Ainda durante a internação, ele recebeu a ligação de um dos responsáveis pelo laboratório Dasa, que informou sobre a suspeita de ele ter contraído a variante britânica da Covid-19, após o que foi visto na análise clinica. Ele informou os profissionais da saúde e passou por todos os cuidados. Só depois de receber alta do hospital teve a confirmação do laboratório. 

Mesmo antes da confirmação, o fato de sete familiares do convívio do enfermeiro terem se contaminado foi motivo de medo, e fez com que ele percebesse a principal característica da variante da doença, a alta transmissibilidade. "O que eu percebi é que o processo da doença é mais acelerado. Em pouco tempo, já tinha várias pessoas contaminadas", relata. Ele explica que a esposa e os outros familiares ainda não passaram pelo sequenciamento genético, então, ainda não há a confirmação se também contraíram a nova cepa. 

"Apesar disso [ser o 1º confirmado na região], acredito que não sou o primeiro. A gente não sabe de onde veio. Eu acredito que eu fui identificado porque passei por uma rede privada, em um laboratório conceituado", explica. 

Para Altair, é necessário que a testagem seja feita de forma mais ampla, para que os dados sejam coletados corretamente. O enfermeiro finaliza reiterando que todos os familiares ficaram isolados pelo tempo necessário, após a confirmação da doença, para evitar que outras pessoas também fossem contaminadas. "Falei 'Senhor, minha vida está nas tuas mãos', apresentei melhora e tive alta. Tive apoio de profissionais muito bons", conclui o enfermeiro. 


Altair recebeu a confirmação da variante semanas depois da alta — Foto: Arquivo Pessoal

Variante 

A Secretaria de Saúde de Peruíbe informou ao G1 que foi comunicada na última terça, pelo laboratório Dasa, de que o sequenciamento da amostra de um paciente da cidade, realizado no Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, confirmou se tratar da variante do Reino Unido B.1.1.7. 

A Secretaria da Saúde de São Paulo, por sua vez, não confirmou o novo caso da variante na cidade de Peruíbe. A pasta explicou que o estado registra 25 casos de Covid-19 da cepa de Manaus e sete casos da variante britânica. A secretaria explica, ainda, que a confirmação de novas variantes ocorre por meio de sequenciamento genético, além da investigação epidemiológica dos casos, como históricos de viagens e contatos. 

A variante B.1.1.7 deixou o vírus mais transmissível. As novas variantes parecem ser mais contagiosas, e um estudo médico divulgado em dezembro aponta que a nova versão do Reino Unido é entre 50% e 74% mais contagiosa.

Apesar disso, ainda não há comprovação de que o vírus esteja mais forte, que cause uma versão mais grave da Covid-19 ou aumente o índice de mortes. Os cientistas apontam apenas que as trocas genéticas afetaram a maneira como o vírus se fixa nas células humanas.

 

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