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História de Araripina: Rua do Padre o "Pelourinho do Sertão Pernambucano"


Geralmente quando vamos falar em cultura, arte e outras coisas importantes que engrandecem e enriquecem a nossa história, só nos vem a mente às pessoas influentes que marcaram muitas vezes por pertencer as velhas famílias tradicionais, que impulsionadas pela força da cultura popular, da política, religião, viram porta-vozes do povo.

Ontem (06/02/2021) um sábado ainda vivenciado pela pandemia, nos debruçamos sobre quem realmente foram os protagonistas da cultura araripinense, que criava, que inventava, que alegrava e fazia com que em um tempo de tantas dificuldades, o imaginário superasse a falta das inúmeras possibilidades contemporâneas, que nos limitava a regar a nossa imaginação com a falta de tudo. Hoje com tanta arte e tanta cultura para se pensar e se inventar, ainda somos milhões assistindo “Big Brother” a beira do abismo cultural.

Naquela época o principal cenário para o jovem criar e fazer arte tinha nomes como João de Sibila (carnavalesco, criador, 'invencionista'..), Margarida, que ainda hoje é uma foliã inverterada, Zé de Guida, Flávio, Fábio de Gualterina, Espedito e Carlos Paixão, Lêda Alexandre, filha do saudoso “Zé Birim” – mestre da cultura de lapinha e da saga religiosa das Renovações – aquelas rezas que os amigos são convidados para assistir a ladainha e participar dos comes e bebes. E olha que tem gente que participa só da parte final. E como não lembrar de “Seu Bidoca” que movimentava as noites da Rua Joaquim Rodrigues Nogueira e adjacentes com seu famoso “Bingo" com estrutura de madeira bruta, gambiarra com lâmpadas incadescentes, com as prateiras cheias de bolacha cream-cracker e lata de doces de banana e goiaba. E sabe quem era a pessoa que ‘cantava as pedras’? Isso mesmo, João de Sibila. De "Rombo 40". Bati, gritava o sortudo que acabara de ganhar uma lata de doce de banana e um pacote de bolacha cream-cracker.

As luzes da gambiarra do bingo eram acessas, as cartelas eram distribuídas para a plateia que começava a chegar e todas as noites a nossa diversão, mesmo que fosse apenas como espectador daquilo que ainda vaga na lembrança da nossa infância.

O teatro na sala de casa, na Rua do Padre, na parte alta, que ficava encravada sobre a pedra enorme que ainda hoje permanece intacta e é uma paisagem cultural e histórica, principalmente para a considerada área paupérrima da cidade, no bom sentido ou vendo pela ótica cultural estabelecida pelas regras medíocres de quem pensa em fazer cultura.

Os circos de Flávio, Palácio Comentários, de Fábio e Neto de dona Zizi, de Soró, os filmes de vela apresentado em slide em uma época que nem se imaginava um dia existir Power point, o campeonato do Pedra Fina que sem recursos nenhum movimentou o maior evento de esporte amador da cidade, os carnavais que aqui tinha os “Fracassados” como bloco da Rua do Padre e representava todo entorno da Rua Onze, Rua Joaquim Rodrigues Nogueira, Rua Primeiro de Maio, Pedro Barreto; os shows de calouros promovidos pelo “Criança Alegria” aos domingos que valorizava os bairros periféricos da cidade, sendo a Escola Nossa Senhora das Graças (que foi destruída) que ficava ali na Rua Henrique Alves Batista e a sede do Círculo Operário, que eram os principais pontos dos eventos, porque eram cedidos pela prefeitura e facilitava principalmente na cobrança de um ingresso simbólico para as crianças. O evento tinha muitos colaboradores e todos os prêmios que eram distribuídos nas disputas de calouros, desfiles de miss bairro e outras atrações, os voluntários conseguiam patrocínios dos comerciantes, mesmo em uma época difícil, muitos brinquedos eram doados para satisfação daquela gente que se alegrava com tão pouco.

Mas o meu intento aqui depois de escrever toda uma trajetória sintetizada de como vivíamos uma época difícil principalmente no inicio dos anos 70, em que eu ainda era um jovem alienado, sofrido pelas desigualdades sociais da época, minha mãe meu pai, eram cidadãos manipulados pela força do poder e influência das famílias tradicionais (forças políticas da época e que perduravam no controle do município, e atualmente engatinhando em fragilidades econômicas, poder e influência política) é tratar de um cenário específico e que nesta semana pude contemplar com o saudosismo de quem tem um olhar de sonhador para tanta coisa que precisa ser feito nesta terra, sem que os anseios políticos não subestimem as decisões que precisam ser tomadas sem interesses alavancados pela ânsia de angariar votos para cumprir com um calendário pessoal e interesseiro.

A Rua do Padre, com aquela majestosa pedra decorando sua paisagem, foi o cenário de tantas gerações. Eu passei por lá essa semana e a minha mente viajou em tantas emoções vividas naquele lugar, que até pareciam presentes em minha mente os teatros que improvisávamos na sala de nossas casas, os shows de calouros, de dublagens, as músicas da época de Diana, Odair José, Reginaldo Rossi, os Fevers, Amado Batista, Fernado Mendes, Evaldo Braga, Roberto Carlos, os brinquedos que inventávamos com latas de alumínios e pneus de chinelos, e tudo tem uma sensação de que aquela comunidade precisa ser representada por tudo que para o município tem um quê cultural que pode ser explorado pelo poder público. 

O palco sempre esteve montado por ali esperando de braços abertos alguém que tenha um olhar mais criterioso para aquele espaço que pode não representar nada para as tradicionais famílias de Araripina, mas representa tudo para os “famigerados” conterrâneos daquele excêntrico território. Famigerados no sentido de notáveis que eram os protagonistas que criavam na dificuldade a arte de inventar, inovar, criar para fugir das adversidades. Eu vivi tudo isso ali na Rua do Padre, por isso, o pedido de criar um “Projeto de Revitalização daquele Espaço”, como estruturar as casas antigas que lá ainda existem (lindas), transformar aquela imensa pedra que esculturalmente é a maior riqueza daquele espaço, daquela comunidade, em algo mais atraente, quem sabe até em espaço cultural. Ali precisa de um próprio representante que estabeleça as dificuldades da comunidade, relacione as prioridades e busque através do poder público, uma parceria para que os benefícios tão esperados sejam sanados e quem sabe transforme aquela comunidade com sua própria história e que faça jus ao histórico dos fatos que o seu cenário pode despertar em todos nós.

A Rua do Padre é o 'Pelourinho do Sertão Pernambucano'.

















Registros feitos em 13 de fevereiro de 2021. Fotos: Arquivo Blog















Registros feitos em 19 de fevereiro de 2018. Fotos: Arquivo Blog

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