Por Marcelo Bruzzi e Nicolás
Satriano, GloboNews e G1 Rio
Rozemary Gomes Pita, de 42 anos, técnica de enfermagem investigada por usar seringa vazia — Foto: Reprodução
A Justiça do Rio de Janeiro recebeu,
na tarde desta segunda-feira (22), a denúncia do Ministério Público (MPRJ)
contra a técnica de enfermagem Rozemary Gomes Pita, de 42 anos, indiciada pela
polícia por peculato e crime contra a saúde pública.
No dia 12 deste mês, Rosemary não aplicou a vacina CoronaVac em um
idoso de 90 anos. Em depoimento à Polícia Civil, ela alegou que
estava "extremamente cansada e
estressada".
Agora ré, a mulher terá que cumprir medidas cautelares impostas pela 1ª Vara Criminal de
Niterói, na Região Metropolitana. Apesar da solicitação do MP, a juíza
Daniela Barboza de Souza entendeu que não havia
necessidade de determinar a prisão preventiva da técnica de enfermagem.
"Ao contrário do que apregoam a
autoridade policial e o Ministério Público, não se extrai dos autos os
requisitos que legitimam a prisão cautelar, ao menos neste momento, a saber: risco
para a ordem pública, a ordem econômica, a instrução criminal ou a aplicação da
lei penal", escreveu a juíza.
A magistrada ressaltou que "a
acusada é primária, não portadora de maus antecedentes, tem endereço certo e
exercia atividade laborativa como prestadora de serviço para a Prefeitura de
Niterói".
Em vez da prisão, Barbosa impôs medidas cautelares à técnica de enfermagem. São elas:
·
Comparecer todo mês em juízo para
informar e justificar suas atividades e apresentar comprovante de residência;
·
Proibição de se ausentar do Estado do
Rio por mais de 15 dias sem prévia autorização do juízo;
·
Proibição do exercício da função
pública, especificamente quanto à atividade e campanhas de imunização contra o
coronavírus, no âmbito municipal, estadual ou federal.
Rosemary terá que cumprir as medidas
acima até que haja uma sentença da vara de Niterói sobre o caso. O G1 tenta entrar em contato com a
defesa da técnica de enfermagem.
Denúncia
O Ministério Público do Rio de
Janeiro (MPRJ) denunciou e pediu à Justiça a prisão
preventiva – por tempo indeterminado – da técnica de enfermagem.
Para justificar a necessidade da
prisão preventiva, o MP afirma que, "tratando-se de uma profissional de
saúde, sua
liberdade traz riscos para a ordem pública, sendo a custódia cautelar
preventiva solicitada a medida necessária para a prevenção do crime
narrado".
A 2ª Promotoria de Justiça de
Investigação Penal Territorial do núcleo de Niterói afirma que os crimes
cometidos Rozemary são dolosos (intencionais), e o caso de peculato
(apropriação ou desvio de um bem público por servidor) prevê prisão por mais de quatro anos.
A técnica também foi denunciada
por não cumprir determinação do poder
público para impedir propagação de doença contagiosa.
A denúncia foi apresentada à Justiça
na sexta-feira (19).
Demissão
Após a conclusão do inquérito, a
Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que a profissional de saúde “foi
desligada do quadro de funcionários do órgão”.
Técnica de enfermagem é indiciada e demitida por não ter aplicado vacina contra a COVID em idoso, no Rio
O delegado titular da 76ª Delegacia,
Luiz Henrique Marques Pereira, afirmou ao G1 que o inquérito já foi
finalizado e encaminhado à Justiça. Ele decidiu indiciar a técnica de
enfermagem pelo crime de peculato na modalidade de desvio e pelo crime contra a
saúde pública, artigo 268 do Código Penal.
“Ela disse que não sabia explicar por que fez aquilo, que em 10 anos de profissão ela nunca tinha cometido tal deslize e não conseguiu explicar as razões de não ter aplicado o êmbolo. Inicialmente, ela alegou que estava estressada e extremamente cansada. Mas é muito difícil explicar o inexplicável”, disse o delegado.
O crime de peculato pode chegar até
12 anos de prisão, segundo a polícia.
Imagens registraram
falsa vacinação
Rozemary aparece em um vídeo no posto
drive-thru do bairro do Gragoatá fazendo a imunização da população. As imagens
foram gravadas pela família do idoso e compartilhada em redes sociais.
Segundo o delegado, a gravação foi
fundamental para a conclusão do caso. Após a ocorrência, o idoso foi procurado
pelas autoridades de saúde e imunizado.
“Fica claro que ela não aperta o êmbolo, fica claro que ela não estava estressada. E mais, quando questionada se apertou a seringa de forma correta, ela responde de forma irônica. O que demonstra que ela tinha plena consciência do que estava fazendo."
Partes da seringa — Foto: Arte/G1
A funcionária já tinha sido afastada
das funções assim que o caso foi divulgado. A secretaria reforçou a orientação
dos protocolos de aplicação da vacina com os funcionários e supervisores dos
pontos de vacinação.
O Conselho Regional de Enfermagem do
Rio (Coren-RJ) recebeu a denúncia contra a profissional e abriu um procedimento
para “averiguar se houve ocorrência de negligência, imperícia ou imprudência, e
irregular conduta ética”.
Ainda de acordo com o conselho, a
técnica e a enfermeira responsável serão convocadas, para prestar depoimento à
Comissão de Ética do órgão. Segundo o Coren, ela pode ser punida com a
suspensão ou a cassação do registro profissional.
O G1 fez contato com a funcionária, mas ainda não recebeu retorno.
Falsa aplicação em
Copacabana
A Secretaria Municipal de Saúde do
Rio de Janeiro (SMS) afastou nesta quinta-feira (18) uma
técnica de enfermagem que teria deixado de aplicar a vacina
contra a Covid-19 em uma idosa de 85 anos, no Centro Municipal de Saúde João
Barros Barreto, em Copacabana, na Zona Sul. O caso aconteceu no dia 27 de
janeiro.
Segundo informações da família do
idosa, no momento da vacinação, a seringa estava vazia ou com uma quantidade
mínima do imunizante. O caso está sendo investigado pela 12ª DP (Copacabana).
Segundo a Polícia Civil, a profissional de saúde já foi identificada e prestará
depoimento.
Outros casos no
país são investigados
Além do caso registrado em Niterói,
outros ocorreram em: Goiânia, Maceió, Rio de Janeiro e São Paulo. O Jornal Nacional mostrou denúncias
na terça-feira (16) sobre aplicação incorreta da vacina
contra Covid. Os conselhos de enfermagem, o Ministério Público e a polícia
estão investigando os profissionais de saúde envolvidos.
As autoridades de saúde consideram as
vacinas fake fatos isolados, mas já viraram caso de polícia. Vídeos que
registram a hora da vacinação servem de prova das irregularidades para a
investigação.
Blog do Paixão