"Primeira etapa" prevê apenas 34%
dos trabalhadores da linha de frente, além de idosos e deficientes residentes
em instituições, e a população indígena em aldeias. Plano Nacional de
Imunizações não detalha novas fases, e ministro do STF mandou governo definir a
ordem dos grupos prioritários.
Por Paula Paiva
Paulo, G1
Moradores de diferentes municípios da Região Metropolitana do Rio
reclamam de problemas na fila da vacinação. Em São Gonçalo, hoje teve fila em
postos que deveriam vacinar as pessoas acima de 90 anos, mas a vacina acabou
nesses locais na sexta-feira (5). Sem controle do público-alvo dessa fase, o
município recebeu moradores de cidades vizinhas.
O Ministério da Saúde alertou
nesta segunda-feira (8) que as "primeiras etapas" da campanha
nacional de vacinação contra a Covid-19 não têm previsão de
atender 100% dos profissionais de saúde.
Segundo o alerta do governo enviado para estados e municípios, um dos
focos específicos da "primeira fase" da vacinação é atender 34% dos
trabalhadores da saúde, apenas aqueles que atuam diretamente na linha de frente
contra a pandemia.
Além deles, o governo também cita como prioridade inicial: "pessoas
idosas residentes em instituições de longa permanência
(institucionalizadas)", "pessoas a partir de 18 anos de idade com
deficiência, residentes em Residências Inclusivas (institucionalizadas)",
e "população indígena vivendo em terras indígenas."
Na mais recente versão do PNI, o governo delimitou ao todo 27 grupos com
77 milhões de pessoas, mas definiu apenas quatro como os participantes da
"primeira fase" da campanha. Não há menção no plano a novas fases ou
a uma nova ordem entre os grupos prioritários. O Ministério afirma que estados
e municípios têm liberdade para fazer ajustes na lista, mas que as doses são
enviadas conforme os públicos-alvo, e o uso incorreto pode levar à falta do
imunizante para os prioritários.
Nesta segunda, uma decisão do ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski determinou que o governo defina a
ordem de grupos prioritários. Ao contrário da versão anterior do
PNI, o atual texto não detalha as demais fases da campanha e quais públicos
devem ser vacinados em cada uma.
O alerta do Ministério da Saúde que cita o caso dos profissionais da
saúde foi enviado aos representantes de estados e municípios antes de ser
divulgada a determinação do ministro do STF. O texto da pasta não tem o
detalhamento pedido por Lewandowski. O ofício ministerial foi endereçado aos
presidentes de três órgãos: Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass),
Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Conselhos das
Secretarias Municipais de Saúde (Cosems).
Outros profissionais vacinados
Em alguns estados e municípios, a vacinação já abrange uma lista ampla
de profissionais da saúde, incluindo trabalhadores que não atuam na linha de
frente contra a Covid. Em São Paulo, das 39 cidades da região
metropolitana, 21 escolheram não priorizar apenas os
profissionais de saúde da linha de frente do combate à
Covid-19, de acordo com levantamento feito pela TV Globo.
Apesar de o PNI descrever uma lista extensa de trabalhadores elegíveis
para vacina (médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas,
terapeutas ocupacionais, biólogos, biomédicos, farmacêuticos, odontólogos,
fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, profissionais da educação
física, médicos veterinários e seus respectivos técnicos e auxiliares), há
no plano uma recomendação direta: no chamada "Anexo I" do
texto, o governo pede que seja feito o levantamento dos envolvidos na
"resposta pandêmica" e pede que seja solicitado documento que
comprove a "vinculação ativa" do profissional com o serviço de saúde.
Em outro ponto, o PNI já fazia a ressalva contra uma vacinação ampla dos
profissionais de saúde.
"Cabe esclarecer que TODOS os trabalhadores da saúde serão contemplados com a vacinação, entretanto a ampliação da cobertura desse público será gradativa, conforme disponibilidade de vacinas" - Plano Nacional de Imunizações (PNI)
O G1 questionou o ministério se há previsão de
divulgação de novas listas de grupos prioritários para outras etapas da
vacinação, além de pedir detalhamento sobre qual seria a correta previsão para
a vacinação dos profissionais de saúde que não atuam na linha de frente, mas
não obteve resposta até a mais recente atualização desta reportagem.
Grupos prioritários na primeira fase
De acordo com o Ministério, a vacinação contra Covid no Brasil começou
"com quantitativo bastante limitado de doses de vacina, direcionadas para
cobrir inicialmente":
·
"34%
dos trabalhadores da saúde (priorizando
equipes de vacinação envolvidas na primeira etapa e trabalhadores de unidades
envolvidas diretamente na atenção/referência para os casos suspeitos e
confirmados de covid-19)";
·
"pessoas
idosas residentes em instituições de longa
permanência(institucionalizadas)";
·
"pessoas a
partir de 18 anos de idade com deficiência, residentes em Residências
Inclusivas (institucionalizadas)";
·
e "população
indígena vivendo em terras indígenas."
O Ministério da Saúde admite que os estados podem fazer a
"estratificação" do público segundo suas respectivas realidades locais,
mas a pasta diz que as alterações podem afetar a cobertura vacinal.
"Para as UF e Municípios que venham a alterar a ordem de priorização dos grupos para vacinação, cabe informar que o Ministério da Saúde não poderá dispor de quantitativos extras de doses da vacina COVID-19, tendo em vista os cronogramas de entregas dos laboratórios produtores, assumindo-se assim os riscos de eventuais faltas de vacina para os respectivos grupos" - nota do Ministério da Saúde
Critérios compartilhados com entidades
No ofício, o Ministério da Saúde diz que "(...) estão sendo
priorizados primeiramente os grupos de maior risco para agravamento pela
doença caso venham a se infectar. Além disso, é necessário preservar a
força de trabalho para manutenção dos serviços de saúde. E, em seguimento,
vacinação das populações de maior vulnerabilidade e exposição aos
impactos da pandemia e dos trabalhadores dos serviços
essenciais."
O Ministério defende que "não seguir a ordem priorizada pelo PNI
pode acarretar na falta de vacinas para os grupos de maior risco de adoecimento
e óbito pela Covid-19".
Todos os grupos prioritários do PNI
Na primeira etapa de vacinação:
·
Pessoas com 60
anos ou mais institucionalizadas
·
Pessoas com
deficiência institucionalizadas
·
Povos indígenas
vivendo em terras indígenas
·
Trabalhadores de
saúde
·
Demais grupos
prioritários, citados pelo governo na mais recente versão do PNI sem a divisão
por etapa de vacinação:
·
Pessoas de 60 anos
ou mais
·
Povos e
comunidades tradicionais ribeirinhas
·
Povos e
comunidades tradicionais quilombolas
·
Pessoas com
comorbidades
·
Pessoas com
deficiência permanente grave
·
Pessoas em
situação de rua
·
População privada
de liberdade
·
Funcionário do
sistema de privação de liberdade
·
Trabalhadores de
educação
·
Forças de
segurança, salvamento e Forças Armadas
·
Trabalhadores de
transporte coletivo rodoviário de passageiros
·
Trabalhadores de
transporte metroviário e ferroviário
·
Trabalhadores de
transporte aéreo
·
Trabalhadores de
transporte de aquaviário
·
Caminhoneiros
·
Trabalhadores
portuários
·
Trabalhadores
industriais
Blog do Paixão