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A Saga do Padre Vaqueiro: Tonha de Bárbara, a primeira governanta do padre de Serrita



Atualmente Antônia Leandro Alves, conhecida por Tonha de Bárbara, 72 anos, mora num pedaço de lugar que enseja tranquilidade, na comunidade de Caracol, município de Serrita, primeira paróquia da Diocese de Petrolina que o destino reservou ao novo padre João Câncio dos Santos, depois que recebeu a ordenação sacerdotal na sua terra natal, sob as bênçãos da padroeira Nossa Senhora Rainha dos Anjos.

Durante seis anos, Tonha de Bárbara foi, ao mesmo tempo, irmã, mãe, governanta e, sobretudo, amiga de João Câncio, pois era ela a pessoa que tomava conta da Casa Paroquial, que servia como residência oficial do pároco de Serrita.

Uma conversa com essa septuagenária que tem o espírito de uma criança, é algo extraordinário, pela meiguice e pelo sorriso largo que enchem sua alma de felicidade. É uma pessoa extraordinária, de fala fácil e raciocínio rápido, tropeçando ligeiramente nas datas, até porque é um ser humano com mais de sete décadas de existência.

Uma frase de Tonha de Bárbara resumiria todo o seu carinho pelo sacerdote: “Era um grande homem e, com sua morte, parece que está faltando um pedaço do mundo. Espero que ele seja bem maior onde se encontra”.

Tonha não tinha dificuldade para preparar as refeições do padre. Segundo ela, o hábito alimentar de João Câncio era de uma originalidade a toda prova, tipicamente sertanejo, pois não tinha bondade (não era exigente) e gostava muito de galinha gorda de capoeira e carne de osso. Para ele sopa “era coisa para doente”. Gostava tanto de galinha que, quando se encontrava com um amigo, dizia logo: “qualquer dia eu vou comer uma galinha na tua casa”.

Dirigindo uma paróquia distante apenas 25 quilômetros de Salgueiro, cidade mais adiantada da região Central, João Câncio tornou-se muito amigo do pároco da cidade vizinha, padre Domingos de França Dourado (que também enfrentou problemas com políticos tradicionais da paróquia de Santo Antônio). Tonha recorda que, quando seu colega de Salgueiro estava para visitar João Câncio, ele recomendava, em tom de brincadeira, que ela botasse mais água no feijão. Quando a visita reunia mais de um padre, a brincadeira era maior: “Tonha, hoje vamos ter muito pão aqui, vem aí uma padaria danada”, brincava João Câncio.

Padre Domingos, que ao contrário dos padres novos passou muito tempo para vestir roupa comum, também fazia gracejos com o novo padre de Serrita. Ele dizia para Tonha de Bárbara que “aquele vaqueiro promete muito à Igreja e um dia ainda vai ser bispo”.

Tonha de Bárbara jura de pés juntos que nunca viu o padre João Câncio demonstrar nenhum interesse de namorar em Serrita, apesar do grande número de moças que visitavam a Casa Paroquial, delas que tinham intimidade até certo ponto exagerado, chegando a se deitar na cama no padre. Muitas vezes, ele saia de casa, para evitar tanto assédio , lembra Tonha com outras palavras.

A saída de João Câncio de Serrita, de acordo com a avaliação de sua primeira governanta. O deixou transtornado, pois ele queria mesmo era continuar na paróquia para sempre. Ela tinha conhecimento do temperamento forte do vigário, que como assegura Dernil Braz, sempre falou o que bem quis da comunidade. E Tonha reforça: “Ele não tinha medo de falar das coisas erradas e, se não fosse o pedido do pai dele, Mestre Chico, e do bispo de Petrolina, ele não teria deixado a paróquia”. Câncio teria dito, enfaticamente, essa expressão.

Apesar de ter feito um pacto eterno com Jesus, de nunca se casar, Tonha de Bárbara diz, conscientemente – mesmo tendo um amor fraternal muito forte por João Câncio – que nãof ficou surpresa com o seu casamento, sentimento que resumiu com uma frase bastante curta: “muitos padres já haviam se casados antes dele”.

Uma expressão que não vi no relatório do delegado que presidiu o inquérito que apurou as circunstâncias da morte de João Câncio foi dita por Tonha Bárbara. Segunda ela, depois do incidente, ele teria dito para o seu irmão, Daniel: “ Vamos embora, foi violência e nada mais. Não faça nada”. Tonha relembra, com profundo pesar, que como todo mundo gostava do padre, a morte dele deixou muita gente sentida.

Fragmentos do Livro: João Câncio – A Saga do Padre-vaqueiro. 

De Machado Freire  


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