40 anos depois, o que restou da ‘lenda’ Vilmar Gaia e o papel dos historiadores de ST
Vilmar Gaia e um volante. Foto: Reprodução
Por Paulo César Gomes, Professor, pesquisador e mestrando em História
Em 1975 a imagem de Vilmar Gaia foi exposta
exaustivamente em matérias de TV e de jornais e revistas de todo o Brasil. A
tentativa de idealizá-lo como um novo Lampião – já que ele era serra-talhadense
e por ter praticados crimes tendo a vingança pelo assassinato do pai como uma
das justificativas – deu a história um sentido muitas vezes de fábula, aonde
chegou ao exagero de compara-lo com um Dom Juan.
Na verdade, o que ocorreu em Serra Talhada, entre
1971 e 1975 foi uma verdadeira tragédia, onde muito sangue inocente foi derramado
de vários lados, no final não houve vencidos, apenas derrotados. Uma derrota
que 40 anos depois ainda é sentida pelas pessoas que participaram de forma
direta ou indireta dessa página nebulosa da história da cidade.
Mas, apesar de muitas feridas ainda estarem
abertas, a história de Vilmar Gaia certamente será objeto de estudo de
historiadores e pesquisadores de alguma parte do Brasil. E como aconteceu com
Lampião, alguns escritores poderão incorrer no erro de olhar apenas para os
fatores sociais, sem buscar compreender os diversos elementos que envolveram
essa intrigante história.
Faz-se necessário que os historiadores locais
comecem a se debruçar sobre o assunto e gradativamente quebrem as barreiras que
cercam o polêmico tema. O que não podemos esperar que alguém venha de fora e
narre os episódios ocorridos nos anos 70 como um mero embate de “bang bang”. Há
mais que isso nessa tragédia. Há legados de várias vidas que precisam ser
lembrados. A História não existe para ser um tribunal, para julgar e condenar,
ou para ser a dona da verdade absoluta.
A História existe para analisar “os vestígios”
deixados pelas antigas gerações, preservando assim, a memória e a identidade de
um povo. É por essas e outras razões que a História já registrou as guerras
mundiais, o holocausto, as cruzadas, a colonização das Américas, o terrorismo,
bem como os amores, a poesia, as aventuras, e tudo aquilo que a vida pode nos
oferecer. Sejam coisas boas ou ruins. Esse é um dos papéis que os historiadores
estão chamados a realizar.
Blog do Paixão