Estados e municípios mudaram intervalo como
resposta à variante Delta
Por
Agência Brasil
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e a
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) emitiram hoje (13) uma nota técnica
conjunta em que se posicionam contra a decisão de reduzir de 12 para oito
semanas o intervalo entre as doses das vacinas Oxford/AstraZeneca e Pfizer. A
nota se contrapõe à decisão de estados e municípios que tomaram a decisão como
resposta à chegada da variante Delta ao país.
As duas
sociedades médicas defendem que "o número de mortes e hospitalizações que
serão evitadas caso mais pessoas recebam a primeira dose, em especial em um cenário
de estoques de vacinas limitados, supera substancialmente os eventuais
prejuízos acarretados pelo prazo estendido".
A
segunda dose das vacinas Pfizer e AstraZeneca no Brasil tem sido aplicada com
intervalo de 12 semanas em relação à primeira. A bula da AstraZeneca prevê que
o prazo pode ser de quatro a 12 semanas, enquanto a da Pfizer recomenda o
intervalo de ao menos 21 dias.
Para
atingir o maior número de vacinados com a primeira dose de forma mais rápida,
países como o Brasil e o Reino Unido adotaram o prazo de 12 semanas para ambas.
O Canadá estendeu esse prazo até quatro meses para a vacina da Pfizer, enquanto
França e Alemanha adotaram seis semanas de intervalo.
A
chegada da variante Delta ao Brasil e a possibilidade de ela se espalhar
rapidamente, porém, levou alguns estados a reduzirem o intervalo para oito
semanas, buscando completar de forma mais célere o esquema vacinal das pessoas
que já receberam a primeira dose. O estado do Rio de Janeiro foi um dos que adotou essa
recomendação para a vacina AstraZeneca, anunciada hoje pelo
governador, Cláudio Castro. A capital fluminense, porém, optou por manter o
intervalo em 12 semanas.
A SBIm e
a SBP reforçam que a decisão de estender o prazo até 12 semanas conta com o
apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda que os países com
alta incidência de casos e restrições no acesso à vacina se concentrem em
alcançar a maior cobertura possível com a primeira dose.
"É
evidente que, num cenário em que não houvesse estoque limitado de doses, a
estratégia de postergar a segunda dose das vacinas poderia ser reavaliada, no
entanto, infelizmente, este não é o caso do Brasil e de muitos outros países
neste momento", diz a nota.
As
sociedades médicas apresentam estudos realizados na Escócia, na Inglaterra e no
Canadá, que mostram que a primeira dose dessas duas vacinas já teve impacto nas
hospitalizações e mortes por covid-19.
Na
Escócia, a primeira dose da AstraZeneca teve efetividade de 88% contra
hospitalizações, enquanto a da Pfizer, de 91%, ambas observadas 34 dias após a
aplicação. No Canadá, o estudo citado mostra ainda que a efetividade da
primeira dose da Oxford/AstraZeneca contra hospitalizações ou mortes causadas
pela variante Delta chegou a 88%, enquanto a da Pfizer, a 78%. Já na
Inglaterra, pesquisadores identificaram que, três semanas após a primeira dose
dessas vacinas, adultos infectados com o SARS-CoV-2 tiveram menos chances de
transmitir o vírus para seus contatos domiciliares.
Apesar
das ponderações, a SBIm e a SBP reforçam a importância da segunda dose e seu
"inequívoco benefício" na proteção contra a covid-19. A nota
reconhece que seria desejável oferecer a proteção adicional conferida pela
segunda dose poucas semanas após a primeira dose e recomenda a adoção de
mecanismos para aumentar a adesão à segunda aplicação, como agendamento, busca
ativa e registros eletrônicos.
"Do
ponto de vista programático e de saúde pública, a decisão da extensão do
intervalo entre as doses, em cenários de escassez de vacinas, tem como
motivador a antecipação da proteção de maior parcela da população e consequente
redução das mortes, hospitalizações e morbidade associada a esta doença. Os
modelos de impacto e efetividade dessa estratégia demonstram benefícios
associados à extensão do intervalo da vacinação em todos os cenários
avaliados", recomenda as sociedades médicas.
Blog do Paixão