Por Carol
Brito
Lula - Ricardo Stuckert / Divulgação
O |
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
desembarca em Pernambuco neste domingo (15) com um objetivo em mente: o diálogo.
Apesar de ainda esconder o jogo sobre suas pretensões eleitorais em 2022, o
líder petista adota o discurso de presidenciável ao defender a construção de um
projeto de unidade nacional, além de não poupar críticas ao Governo Bolsonaro.
Em entrevista exclusiva à Folha de Pernambuco, o ex-chefe do Executivo, que tem
agendas com lideranças de diversos espectros políticos no Estado, inclusive um
jantar com o governador Paulo Câmara no domingo à noite, diz que vem para
Pernambuco para ouvir e faz um gesto ao PSB e PDT, ao ressaltar aliança
histórica do seu partido com essas legendas.
O senador Humberto Costa
afirmou que o senhor irá buscar lideranças de partidos do centro e da direita
em Pernambuco, incluindo o MDB. O senhor acredita que poderá reunir um amplo
número de lideranças no Estado, mesmo com as resistências que algumas delas têm
ao senhor?
Eu vou para Pernambuco para ouvir a população e
lideranças políticas e sociais, para saber da situação do povo de Pernambuco.
Ainda é muito cedo para definir eleições. Queria poder encontrar mais o povo,
viajar de ônibus pelo Estado, como fiz em 2017. Mas, infelizmente, por causa da
pandemia, isso não vai ser possível. Não podemos ser irresponsáveis e promover
aglomerações, como tem feito Bolsonaro. Olha, nós temos que ouvir e conversar
também com quem não concorda com a gente, isso faz parte da democracia. Nos
últimos anos, a política brasileira tem sido marcada pela intolerância, pela
falta de diálogo e isso só tem piorado a situação do País e do povo. Ninguém
está definindo alianças eleitorais nesse momento. Não é ano de eleição, o País está
em um momento difícil, a pandemia ainda não acabou, a inflação está alta, o de-
semprego terrível, muita gente passando fome. E um presidente completamente
desequilibrado, vivendo no mundo dele de men- tiras, enquanto governadores,
prefeitos, lideranças responsá- veis tentam fazer o que podem.
Como o senhor vê a crise institucional entre o presidente
Jair Bolsonaro e ministros do STF? O senhor vê a possibilidade de uma ruptura
institucional nas próximas eleições?
Eu não acredito que há espaço para uma ruptura
institucional. O Bolsonaro é um acidente de percurso na nossa democracia. Ele
não tem noção, vocação, equilíbrio ou capacidade de ser presidente da
República. É um sujeito que passa o dia inteiro espalhando mentiras. Ele é a
própria crise institucional. Mas ele vai passar. O Bolsonaro não será derrotado
por um partido ou um outro candidato. Será derrotado pelo povo brasileiro, que
vai corrigir esse acidente.
Como o senhor vê o discurso de Bolsonaro de que não haverá
eleição se não houver voto impresso? Qual a sua opinião sobre o voto impresso?
O Bolsonaro é covarde, ele só inventou isso porque
sabe que não tem como ganhar as eleições depois do desastre que é seu governo
para o povo brasileiro. Ele foi o pior presidente do mundo no enfrentamento da Covid-19.
O Brasil tem 2.7% da população do mundo e 13% das mortes por Covid, quatro
vezes mais que a média mundial. Atrasou a compra de vacinas que poderiam ter
salvado vidas, espalhou mentiras sobre remédios que não funcionam, atrapalhou
prefeitos e governadores, deu mau exemplo o tempo todo. Ele está destruindo a
cultura brasileira, a ciência brasileira, não apoia a agricultura familiar. A
Petrobrás está fechando ou vendendo toda a sua presença no Nordeste. A imagem
do Brasil no exterior está no fundo do poço. Aí, ao invés de governar e cuidar
do povo brasileiro, ele inventou essa bobagem. Há 20 anos que tem eleição no
Brasil para todos os cargos pela urna eletrônica. Os mesários imprimem o
resultado de cada sala, todo mundo fiscaliza. Ele elegeu os filhos todos na
urna eletrônica, não? Agora, que ele vai perder, resolveram inventar isso. Ele
vive de mentira em mentira, enquanto o povo brasileiro luta para colocar comida
na mesa. PSB e PT travaram uma intensa disputa nas eleições municipais de 2022.
Após isso, o senhor acredita que PT e PSB podem estar no
mesmo palanque em 2022 inclusive com o prefeito João Campos?
O PT e o PSB em Pernambuco estiveram juntos em
2018, na eleição de Paulo Câmara, que venceu no primeiro turno, e foi uma
aliança importante para Pernambuco e para o Brasil. Também foi em Pernambuco,
em 2006, na primeira eleição de Eduardo Campos, quando o PT tinha candidato,
mas as duas chapas estavam juntas na campanha presidencial, chegamos a fazer
comícios juntos, com o acordo de ninguém vaiar o outro candidato, com todo
mundo respeitando a bandeira um do outro. Depois, no segundo turno, estivemos
juntos também em Pernambuco. Eu tenho muito orgulho de que consegui ajudar
Pernambuco em parceria com Eduardo Campos, pelo desenvolvimento do Estado, com
Suape, a construção de uma refinaria, duplicação de rodovias, a ampliação dos
aeroportos, investimentos sociais, construção de cisternas, campus
universitários e Institutos Federais de Ensino. Todo o desenvolvimento
industrial, geração de empregos que nosso trabalho trouxe para Pernambuco. Eu
fico pensando a dificuldade que os governadores devem ter em dialogar com
Bolsonaro. Eu acho que em algum momento, no primeiro ou segundo turno, todos os
democratas estarão no mesmo palanque contra esse projeto de destruição do
Brasil.
O senador Humberto Costa esteve ao lado do presidente
estadual do PDT, Wolney Queiroz, em Pernambuco, em nome de uma aliança
antiBolsonaro. O senhor acredita que esse diálogo entre PDT e PT pode evoluir
nacionalmente?
Há bastante diálogo entre as fundações do PT e do PDT sobre políticas públicas, há diálogo entre as bancadas no Congresso. Vários partidos têm tomados iniciativas conjuntas no que concordam, e no que discordam cada um toma seu caminho. É uma coisa meio simples de dizer, mas parece que nesses últimos anos o país se desacostumou a dialogar, a conversar de forma civilizada e respeitar as discordâncias. Eu sempre acredito.
Blog do Paixão