Material informativo já foi baixado por 4,6 mil pessoas em todo o país
@Reuters/Mohamed Abd Ghnay/Direitos Reservados
Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
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umante desde os 15 anos de idade, o mecânico de manutenção Edinilson Rodrigues de Paula, de 47 anos, está há um mês sem fumar, graças à Cartilha Prática para Parar de Fumar, lançada em maio deste ano pela Fundação do Câncer, e que já ajudou em torno de 500 pessoas a deixarem o cigarro durante a pandemia.
Edinilson contou à Agência Brasil que, desta vez, está decidido a não voltar a fumar. “Estou pegando firme. Quando vejo um sujeito fumando, viro a cara e saio de perto. Não quero mais não. Eu acordava cedo com aquela tosse de cachorro. Agora, já está diminuindo a tosse”.
Para seguir no popósito, ele também cortou
café, pão, refrigerante, cerveja. “Tudo que instiga o sistema nervoso para
pegar cigarro, eu abandonei”. Com o dinheiro que ele gastava comprando cigarros
abriu uma conta no banco e está fazendo uma poupança, “como a cartilha sugere
também. Se for botar na ponta do lápis, é uma loucura. Deus me livre!”.
O vício de fumar também acompanhou Carlos
Augusto dos Anjos durante 40 anos. Hoje, depois de seguir as orientações da
cartilha, ele conseguiu largar o cigarro. Segundo ele, o material foi de grande
ajuda para incentivá-lo e, o mais importante, sem pressão. “Foi crucial; foi
importante. Mais uma força para que eu abandonasse o cigarro”.
Carlos chamou a atenção da relação
custo/benefício. “O benefício de você parar de fumar é muito maior do que o
falso prazer de fumar, de estar ingerindo nicotina, alcatrão, esse monte de
química que todo mundo sabe. Essa satisfação de você sentir que não fuma mais é
muito mais prazerosa do que o falso prazer de fumar. E quando você firma na sua
cabeça que não quer mais, pronto, acabou! O primeiro passo é dizer para você
mesmo que não quer mais. Daí, tem sua força de vontade, sem pressão de ninguém.
Isso é muito importante”.
Levantamento
Levantamento feito com 4,6 mil pessoas de
todo o Brasil que baixaram a cartilha até agora no site da Fundação do Câncer mostrou
que 10% pararam de fumar com a ajuda do material educativo. “Foi uma surpresa
boa. A gente sabe que não é fácil, mas é um bom retorno inicial. Há tão pouco
tempo a gente lançou a cartilha e já tem um resultado desses; é realmente muito
bom. Para a gente, é gratificante”, disse à Agência Brasil o
diretor-executivo da Fundação do Câncer, oncologista Luiz Augusto Maltoni.
O médico destacou que o que se viu muito
durante a pandemia do novo coronavírus, e que foi comprovado por muitos
trabalhos científicos, é que os tabagistas aumentaram muito o consumo, por
causa da ansiedade, pela questão de ficar em casa, sem poder sair.
Por outro lado, nesse ambiente de tanta
adversidade, provocado pela pandemia, a Fundação do Câncer quer mostrar que
quem fuma pode largar o vício. ”Porque é uma oportunidade, para não permitir
que a associação ruim do cigarro com a covid-19 se estabeleça ainda mais, e
também para evitar que aqueles que não fumam não venham a começar”.
Luiz Augusto Maltoni observou que os
adolescentes estão fumando cada vez mais cedo, a partir das alternativas de
cigarros ditos orgânicos, mas que apresentam alto índice de nicotina e são
viciantes, e também dos cigarros eletrônicos. Esses produtos aumentam a
probabilidade de transmitir o vírus devido ao compartilhamento de piteiras e
mangueiras e de dispositivos que permitem exalar gotículas de vapor.
Até agora, porém, continua valendo a
Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009, que proíbe a propaganda e
comercialização desses produtos no país, embora eles sejam vendidos pela
internet, disse o diretor-executivo da Fundação do Câncer..
Informação correta
Para Maltoni, é importante que a população
receba informação correta. Ele conta que todas as formas de uso do tabaco podem
elevar o risco de desenvolver covid-19, especialmente para complicações de
quadros mais graves e potencialmente fatais. Estudo recente feito por
pesquisadores do Utsunomiya Hospital e da Jichi Medical University, do Japão,
reiteram que os fumantes correm risco de ter uma resposta imunológica mais
baixa que o da população não fumante, após receber a vacina contra a covid-19.
"A gente já sabia que o tabagista tinha
uma fragilidade imunológica maior, principalmente pelas portas de entrada, que
são os órgãos respiratórios, mais vulneráveis a infecções e, com a covid, isso
ficou mais que demonstrado, com situações de maior gravidade, desfecho clinico
pior para pacientes tabagistas, comparado com aqueles que não são tabagistas”.
O mais seguro, segundo Maltoni, é buscar tratamento, deixar o cigarro, não
fumar. “Isso é uma evidência que já temos".
A cartilha reúne uma série de informações já
disponíveis, tentando traduzi-las de uma maneira simples, clara e fácil, além
de atrativa e amigável. “E que criasse facilidades, não dificuldades. Esse foi
o objetivo de ajudar as pessoas que têm consciência de que isso (fumo) faz mal
e que querem parar de fumar”. O médico sugeriu que as pessoas acessem a
cartilha e deem contribuições para que a Fundação do Câncer possa aprimorar
esse material.
Dependência
O epidemiogista Alfredo Scaff, consultor
médico da Fundação do Câncer, salientou que tratar a dependência do tabaco de
forma natural ajuda a sociedade. “É algo que está em nosso cotidiano e que
muita gente não vê como dependência química, mas é. Quando lançamos ações que
falam abertamente, a população entende, reflete e temos resultados positivos”,
comentou Scaff.
Em formato eletrônico, a Cartilha Prática para
Parar de Fumar traz informações sobre como e por onde
começar na tentativa de abandonar o vício. O material propõe uma reflexão sobre
aquilo que as pessoas têm consciência que é desagradável e que pode estimular o
abandono do tabaco, como o cheiro forte do fumo, o gosto na boca, o fato de o
produto causar diversas doenças que podem levar à morte, como vários tipos de
câncer.
Luiz Augusto Maltoni lembrou que há
tratamento gratuito para o tabagismo no Sistema Único de Saúde (SUS). As
informações podem ser obtidas através do Disque Saúde, no telefone 136. O
diretor-executivo afirmou que o Brasil é um dos poucos países do mundo que tem
uma estrutura bem organizada em relação à Política Nacional de Controle do
Tabaco. Há grupos em todo o país e nas secretarias de Saúde para auxiliar as
pessoas a largar o hábito de fumar, não só por meio de consultas, mas também
com medicamentos.
Blog do Paixão