Fundação alerta que é fundamental manter vigilância
aos mais jovens
@Reuters/Pilar Olivares/Direitos Reservados
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Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
atualizou hoje (23) suas recomendações para prevenir a covid-19 no
retorno às aulas presenciais e destacou que a vacinação dos adolescentes deve
ser uma das medidas buscadas para aumentar a segurança nas escolas em meio à pandemia.
Elaborado por um grupo de trabalho coordenado
pela vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz,
documento divulgado hoje avalia que "a implementação da vacinação
para adolescentes pode reduzir significativamente o fechamento prolongado de
turmas, escolas e interrupções de aprendizagem e lentamente permitir o
relaxamento das medidas de proteção na escola", diz o texto.
Para os pesquisadores, "não há razão
para acreditar que as vacinas não devam ser igualmente protetoras contra a
covid-19 em adolescentes como são em adultos e em conjunto com as medidas de
distanciamento e uso de máscaras propiciem um retorno às aulas ainda mais seguro".
A vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos
já ocorre em algumas cidades do Brasil, conforme é concluída a vacinação da
população adulta com a primeira dose. Até o momento, somente a vacina da Pfizer
é autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para essa
população, já que não há estudos reconhecidos pela agência sobre o uso dos
outros imunizantes em menores de idade.
A Fiocruz afirma que é fundamental que a
vigilância para faixas etárias mais jovens e nas unidades escolares, como um
todo, seja reforçada, já que essa população ainda tem acesso limitado às
vacinas.
Outro alerta é em relação à variante Delta,
cuja transmissibilidade é maior que a da cepa inicial do SARS-CoV-2. "É
importante ressaltar que o aumento da transmissibilidade em todas as faixas
etárias foi relatado para as variantes de preocupação (Vocs) do SARS-CoV-2,
mais notavelmente para a variante Delta. Em regiões onde uma porcentagem
crescente de adultos está totalmente vacinada contra covid-19, mas onde as
crianças não são vacinadas, pode-se antecipar que, nos próximos meses,
proporções cada vez maiores de casos da doença relatados ocorrerão entre
crianças".
Protocolos
O guia com as recomendações da Fiocruz indica
que os principais cuidados são manter ambientes ventilados, usar máscaras de
eficácia comprovada, manter distanciamento físico de pelo menos 1,5 metro,
definir estratégias para monitoramento de casos e rastreio de contatos e
promover uma higienização contínua das mãos. A fundação também defende que a
situação vacinal dos trabalhadores da comunidade escolar seja monitorada e que
haja número máximo de ocupantes nos ambientes.
O texto sugere protocolos para lidar com o
surgimento de casos de covid-19 nas escolas. Quando dois ou mais alunos que
convivem em uma mesma sala de aula tiverem casos confirmados simultaneamente, é
necessário suspender as aulas da turma por 14 dias. Já quando casos simultâneos
forem registrados em turmas diferentes, deve-se suspender as aulas
presenciais por 14 dias nos dias da semana em que aquelas turmas têm aula. Além
disso, todos os contatos próximos devem ser monitorados.
Pessoas com casos sintomáticos respiratórios
não devem frequentar a escola de forma presencial. Tal quadro pode ser descrito
com ao menos dois dos seguintes sintomas: febre (mesmo que referida),
calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos
ou distúrbios gustativos. Em crianças, além dos itens anteriores, considera-se
também obstrução nasal, na ausência de outro diagnóstico específico.
"É importante que haja um monitoramento
muito próximo dos casos entre crianças, adolescentes e adultos das comunidades
escolares, além de ampla testagem ao longo dos próximos meses de retorno pleno
às atividades presenciais nas escolas, sem o qual fica bastante difícil o
monitoramento da real dimensão e significado da pandemia nestes ambientes. O
momento agora é de se implementar a vigilância epidemiológica escolar em tempo
real com a produção de dados para o acompanhamento das experiências
locais".
Segundo a Fiocruz, "a abertura de
escolas geralmente não aumenta de forma significativa a transmissão na
comunidade, especialmente quando as orientações delineadas pela Organização
Mundial da Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e
Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) são seguidas". Além
disso, a fundação afirma que "o risco de afastamento dos menores de 18
anos de suas atividades normais como escola e eventos sociais pode se revelar
um risco maior do que o da própria SARS-CoV-2 para eles".
O documento traz dados do Ministério da Saúde
que indicavam que, até o início de agosto, as crianças e os adolescentes
correspondiam a aproximadamente 1,5% das hospitalizações por síndrome
respiratória aguda grave (SRAG) no Brasil (14.011 casos) e a 0,3% dos óbitos
por SRAG em que a covid-19 foi confirmada (1.057 óbitos).
Indicadores
O estudo da Fiocruz também elenca os
principais indicadores que devem ser observados para que haja um retorno seguro
às aulas presenciais. O primeiro deles é a taxa de contágio (R), que deve ser
menor do que 1,0. Isso significa que cada caso de covid-19 infecta, em
média, mais de uma pessoa. Dessa forma, o ritmo de novos casos não representa
um agravamento da pandemia.
Outro dado importante é a ocupação dos leitos
de terapia intensiva para covid-19, que são necessários para tratar casos
graves da doença. Para o retorno seguro, a Fiocruz recomenda que 25% desses
leitos estejam livres.
O terceiro indicador trata dos novos casos
registrados em uma localidade. O retorno seguro às aulas presenciais pode
ocorrer quando novos diagnósticos não superem a proporção de nove casos para
cada 100 mil habitantes nos últimos sete dias.
Por fim, a fundação pede que seja observada a
taxa de testes diagnósticos (RT-PCR ou antígeno) positivos, recomendando que
esse percentual não seja superior a 5%. Apesar disso, a pesquisa pondera que,
no Brasil a média de positividade nos testes diagnósticos gira em torno de 35%.
"Isso pode significar que os exames estão sendo realizados em sintomáticos
moderados ou graves que procuram os serviços de saúde, mas também um elevado risco
de transmissão local."
Blog do Paixão