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á sete anos, Pernambuco vivia momentos de terror com a deflagração da
greve da Polícia Militar. Hoje, infelizmente, ações daquela época ainda
repercutem na vida de algumas pessoas, como é o caso da ex-cabo da PM-PE
Michelle Siqueira (foto).
A história de Michelle envolve misoginia, machismo e injustiça vindos da
parte do comando da Policia Militar de Pernambuco e do Governo do Estado.
Durante a greve de 2014, a então Cabo não fez parte da liderança do movimento.
Ela alimentava um blog, que na época levava o nome de um dos líderes da
paralisação: o Blog do Joel da Harpa (hoje deputado Joel da Harpa), com
informações sobre os rumos das negociações com o governo para os demais
policiais.
Desta forma, com o fim da greve, foi aberta uma sindicância e todos os
líderes envolvidos foram inocentados, inclusive a coronel Conceição, designada
para reserva com todos os proventos. A cabo Michelle fora punida com 30 dias de
prisão por causa das postagens no blog, publicações apenas de cunho
informativo, sem incitações à paralisação, como garante Michelle.
Segundo Michelle informou ao blog, ela nunca foi notificada pelo
jurídico da PM desta punição de 30 dias de prisão e, tampouco, foi publicado em
Boletim Geral, como deveria ter sido após a homologação do corregedor geral.
Sendo assim, deixou de cumprir por desconhecimento. Em um dado momento, ela
soube informalmente desta punição e, prontamente, fez um requerimento pedindo
para ser presa, o que lhe foi negado sem argumentos plausíveis.
Após este episódio, abriram um conselho de disciplina sem a presença
dela, onde ocorreram várias audiências as quais ela também não foi notificada.
“Compareci somente à última audiência e permaneci calada, pois não sabia de
nada do que estava acontecendo, muito menos do que eu estava sendo acusada”,
disse Michelle
O caso se encerrou em 2019 com a expulsão da cabo Michelle Siqueira dos
quadros da Polícia Militar. Antes da expulsão, ela teve a sua patente
rebaixada, antes era sargento, para o cargo de cabo, também em consequência do
movimento reivindicatório dos militares.
Desde então, Michelle, que já sofre com a depressão há alguns anos por
ter perdido um bebê por erro médico cometido no Hospital da Polícia, viu sua
vontade de viver indo embora. Ela perdeu o emprego, o convívio com os amigos e sofre
a injustiça de ter sido a única pessoa verdadeiramente punida pela greve,
quando na verdade ela nunca fez parte da liderança do movimento grevista.
“Eu fiquei calada durante todo esse tempo, pois não queria inflamar a
situação enquanto o mandado de segurança estava em curso, mas eu não posso mais
me calar diante de tanta injustiça, machismo e misoginia, vindas por parte do
Governo. Todos os envolvidos foram inocentados e por que somente duas mulheres
foram punidas? Na verdade, somente uma, somente eu. A coronel Conceição foi
designada para reserva com um salário de R$ 25 mil e eu fui expulsa da
corporação. Só posso acreditar que isso aconteceu por eu ser mulher”,
desabafou.
Michelle também confessou à reportagem que sempre foi atuante nos
quadros da PM, elaborou projetos com melhorias para as policiais, inclusive
formulou o projeto que, hoje, garante R$ 750,00 anuais para os militares
comprarem fardamento e R$ 400,00 de auxílio transporte (hoje incorporado ao
salário), além de lutar pelos direitos dos militares dentro da corporação.
“Talvez não seja interessante para o comando da PM ter uma praça tão informada
dos seus direitos, uma pessoa que pense, principalmente uma mulher. Na verdade,
eles tentavam há algum tempo me calar, e conseguiram dessa forma tão injusta”,
disse.
“Rebaixaram minha patente, tiraram meu meio de subsistência, meu
emprego, meu convívio com os amigos. Eu estudei no Colégio da Polícia Militar,
minha família é composta por militares, me dediquei durante anos a PM e esta
injustiça está doendo demais”, concluiu Michelle que no momento está à procura
de outros advogados e que vai recorrer mais uma vez contra a decisão, agora em
outra instância.
Com a palavra, a Polícia Militar de Pernambuco.
Blog do Paixão